Deus abençoe a terra cubana...
A Região Independente de Cuba, muito em
breve a Seção de Cuba da Província Antilhense, participa da missão da Companhia
neste continente como parte da resposta aos desafios que a história particular
de Cuba expõe à Igreja.
Situada no mar do
Caribe, compartilha com as outras ilhas do arquipélago das Antilhas a forte
presença cultural das tradições africanas herdadas dos escravos, numa
mestiçagem de riqueza e criatividade, numa geografia ilhoa e tropical. A região do Caribe se caracteriza pela
diversidade de raízes culturais, tanto europeias como africanas, pela
identidade marcada pelo colorido e a música alegres, pela expressividade
corporal, pela história de colonialismo e escravidão, e pela fragilidade de
pequenas nações com histórias acidentadas.
A Igreja de Cuba soube sobreviver a anos difíceis, quase reduzida a
gueto de excluídos, diminuída em números e em espaço social, dizimada pela migração, pelo
abandono e pelo medo. Mas que teve força para manter sua presença fiel, sua
unidade em meio a dificuldade, e guardou
a fé popular, a devoção à Virgem da Caridade, que segue convocando como a
Mãe de todos os cubanos, e a credibilidade do povo por sua presença constante,
calada e em serviço compassivo.
A Companhia do Jesus conseguiu manter uma fidelidade criativa à sua
missão nesta terra com presença ininterrupta e generosa. Embora dos 216
jesuítas que havia na ilha em 1959, termos baixado a 28 em 2013, hoje,
conscientes que correm ares de mudança, queremos tirar de cima qualquer vislumbre
de derrotismo e de desesperança. Queremos renovar nossa capacidade de sonhar,
de planejar com realismo e visão estratégica, de nos entusiasmar com a missão a
que nos envia o Rei Eternal. Por isso durante anos nos mantivemos trabalhando
em um plano estratégico que neste momento está solidificando em um planejamento
operativo, que suporta uma seleção de ministérios, e se insere no Projeto
Apostólico Comum da CPAL (PAC), integrando-se também com ilusão ao Projeto
Caribe.
Entre as prioridades que marcamos, cabe destacar o fomento da
Espiritualidade Inaciana através dos Exercícios Espirituais e a formação de
leigos nessa espiritualidade. Cerca de 400 pessoas se assomaram ao
longo do ano de 2012 à experiência dos EE na Vida Ordinária, 40 jovens
realizaram exercícios de 8 dias, e mais de 20 leigos estão se formando (e
praticando) para dirigir os EE. Acabamos
de inaugurar duas Casas de Exercícios novas que, embora com muita
precariedade econômica pela falta de recursos econômicos dos exercitantes, em
um país onde a maioria recebe um salário inferior a um dólar diário, estão
sendo bastante solicitadas.
Os jovens são a outra prioridade fundamental em nossa missão, que se por um lado
formam nossos grupos de jovens paroquiais, também foi se formando e estendendo por
diversas cidades uma Rede de Jovens
Inacianos, iniciados na nossa espiritualidade através de acampamentos inacianos (três anos), formação em liderança inaciana (dois
anos), Jornada Inaciana (anual em
cada cidade), Festival Inaciano nacional
(bianual) e processos de discernimento
vocacional que vão contribuindo anualmente com novas e boas vocações à
Companhia. Num momento onde a desesperança e o cansaço estão muito pressentes,
queremos acompanhar os jovens para que encontrem sentido em suas vidas, formá-los
para sejam semeadores de esperança e se comprometam com seu povo a partir do
encontro com Jesus Cristo encarnado, especialmente nos que mais sofrem.
Uma fronteira importante que
assinalamos para nossa missão é detectar, conhecer e relacionar-se com a população
que participa do sincretismo religioso e com os afastados. E sabemos que para
isso precisamos promover comunidades abertas, inseridas, abertas à reflexão e
ao discernimento, em diálogo com a cultura afrodescente, acolhedoras com os
mais necessitados.
As mudanças que vamos detectando nos
impulsionaram a explorar novos caminhos de missão, assim iniciamos a formação de microemprendedores tentando fomentar a
criatividade e reponsabilidade social e estrutural que favoreça a realidade
econômica e social. O programa ES.PE.RE. que
nos possibilita trabalhar aspectos antropológicos, éticos e espirituais de um
povo necessitado de fechar feridas, divisões, desconfianças, e recuperar
valores importantes nestas áreas. Este ano se espera que façam os cursos
1.000 pessoas. Finalmente, sentimo-nos urgidos a trabalhar com os meninos e
adolescentes através dos espaços educativos novos que vão surgindo, como o reforço
escolar, música-teatro-arte, a formação dos pais… e a catequese.
Toda esta missão não seria possível sem
a generosa ajuda das Províncias jesuítas irmãs, em uma Igreja onde a terça
parte dos Padres e quase dois terços dos Religiosos não são nativos, e muito
dependente economicamente do exterior. A
Companhia em Cuba, na sua fragilidade, caminha com o povo tentando formar
comunidades que irradiem fé, semeiem esperança, contagiem caridade, para que
Nele todos tenhamos vida.
Juan Miguel Arregui,
SJ
Superior Delegado
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