É andar na contra-mão do mundo...
Trabalhei por muitos anos na Pastoral
Vocacional e partilho com simplicidade algumas impressões aprendidas nesse longo
ministério.
Não tenho dúvida: toda vocação é um mistério de amor. Ninguém se compromete com algo ou
alguém se antes não foi atraído e tocado no seu coração. A história de cada
pessoa está permeada por luzes e sombras, coerências e limitações que fazem
parte importante do seu percurso. O crescimento humano e espiritual passa, não
poucas vezes, por essas feridas históricas e que a vida foi cicatrizando. Muitas
vezes, o que parecia ser nosso ‘entulho’ humano se transformou, por graça, em
nosso melhor pedagogo espiritual.
No
início de cada vocação vejo um mistério de amor e de graça. As pessoas são interiormente movidas e
atraídas por uma paixão que faz fácil o que parecia ser impossível. Surgem, então, os encontros e alguns
desencontros e mil perguntas que nem sempre tem respostas corretas. É o encantamento da graça!
Desse modo e com os olhos postos em Jesus
se chega, num belo dia, a uma clareza mental que faz possível deixar o que
sempre se fez e tomar novos rumo.
Para acertar na vocação é preciso percorrer o caminho da gratuidade e
da verdade. Nada de bom se constrói sobre o egoísmo e a mentira. e estes
teimam por fazer parte da nossa vida. Se no decorrer dos anos alguém se tornou
egoísta ou ranzinza é porque perdeu o encanto do Evangelho e se fechou no seu
coração. Quem ama, não cansa nem perde
os sonhos que o habitam!
Diante da carência de vocações e envelhecimento
de nossas famílias religiosas há o perigo de relativizar o acompanhamento e os
critérios de admissão. Isso prejudica tanto o candidato como a vida consagrada,
pois toda vocação religiosa é
iniciativa gratuita de Deus, uma proposta misteriosa que exige resposta
generosa.
Lembro-me de dois jovens ‘vocacionados’
que um dia me perguntaram: o que a
Companhia de Jesus poderia nos oferecer? Escutei chocado e apenas respondi: Oferecer?... Mas, são
vocês que devem se colocar a serviço!... Nunca mais voltaram!
A vocação não é promoção social nem
decisão de momento, mas ponto
culminante de um processo de crescimento humano e espiritual. As vocações tipo ‘relâmpago’, aquelas
que brilham muito e fazem bastante barulho, costumam acabar escandalosamente
cedo, pois não tem suporte pessoal e institucional. Igualmente, aquelas que se
enquadram no mundo das probabilidades: ‘possivelmente
vai melhorar com o passar do tempo...’ A vida costuma complicar mais o que
já agora parece difícil. Candidatos
sobre os que se têm dúvidas sérias, não deveriam ser admitidos.
É preciso estar apaixonado pela pessoa e a
proposta de Jesus para decidir livremente a vida e colocá-la a serviço, sem contabilizar
ganhos ou perdas interesseiramente.
Muitos
jovens sentem no coração o desejo de se oferecer ao Senhor por inteiro, mas poucos concretizam esse desejo. O que
falta? Discernimento? Capacidade? Coragem? Anos atrás, quando partia para o
Noviciado dos jesuítas, escutei uma voz interior que me fortalecia: ‘Não tenha medo! Você
não é o primeiro e também não será o último!...’ Se não damos o primeiro passo,
jamais chegaremos a lugar algum.
Toda vocação passa pelo crivo da
purificação. É necessário burilar arestas, corrigir motivações e ações, para
ser mais honesto nas formas de amar.
Uma pergunta: O que você pensa dos que decidem pelo sacerdócio ou a vida consagrada?
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