Alguns pedaços de mim já são desterro... (M. de Barros)
Viver
é caminhar numa estrada sempre nova, sem saber o que encontraremos após cada
curva. Quando pensamos
conhecer o caminho, novos desafios surgem. Desse modo, envelhecemos aos poucos.
O Qohelet, observador judeu da vida humana, se desencantou com muitas coisas;
outras simplesmente sumiram do seu horizonte ficando, apenas, vislumbres de
Deus. Esse pregador do Antigo Testamento sabia que nada era eterno: Tudo
tem o seu momento e cada coisa o seu tempo... (Ecl 3, 1)
Tudo passa menos o que aprendemos com o
que vivemos. Até a fé e o amor se vivem de modos diferentes nas diversas etapas
da vida. Cada fase é qualitativamente diferente, embora se façam as mesmas
perguntas: Quem sou e com quem
estou?... O que faço?... O que quer dizer tudo isso?
Quando jovens pensávamos que na década dos
vinte anos teríamos respondido satisfatoriamente a cada uma dessas perguntas,
mas com o passar do tempo, as perguntas continuaram aguardando por novas
respostas. Se as experiências no campo da sexualidade e da espiritualidade não
foram satisfatórias, nem trouxeram significados profundos, viveremos estes
ciclos solitários e depressivos.
As virtudes teologais (fé, esperança e
amor) são graça de Deus, percebida pela sensibilidade humana. Há pessoas que
nada percebem; para eles, a vida não passa de um jogo entre vencedores e
vencidos. Uma fatalidade!
Para
não perder a esperança e o sentido da vida é preciso concretizar
conscientemente a fé e o amor.
Quem
não ama, também não crê e, se crê em alguém, é porque também o ama! Não há fé sem amor, nem amor sem fé. É um
mistério: fé, esperança e amor caminham sempre juntos.
Faz pouco tempo participei de um show
caseiro, onde uma mãe de família reuniu quase 200 pessoas amigas num auditório,
para comemorar seus 50 anos de vida. Com carinho e criatividade esta senhora
foi contando e cantando, com simplicidade e bom gosto, as etapas significativas
da sua vida. Começou com Roberto Carlos e acabou deliciando-nos com “Gracias
a la vida” de Mercedes Sosa. Tudo transcorreu com muita sensibilidade e
dignidade!
Eis os diversos ciclos da vida adulta:
1. Idade adulta jovem (dos 20 aos 40 anos). Para muitos a
entrada na idade adulta só acontece quando deixam definitivamente o lar
familiar. Fica-se adulto quando somos
capazes de deixar algo por alguém! É o tempo de arriscar e de se abrir para
novas experiências e pessoas surgindo, aos poucos, o peso da responsabilidade.
Esta primeira fase se caracteriza pela
tomada de decisões de grande alcance profissional e vocacional e algumas perguntas
começam a ser respondidas na linha do “ter” e do “fazer”.
Às vezes, os relacionamentos não suportam
o peso dos conflitos. Quando isto acontece, os sonhos se esvaem e se fica
curtindo as próprias decepções. Contudo, como a vida é mais forte, logo se
encontram novas formas de continuar amadurecendo.
2. Idade adulta média (dos 40 aos 60). Há uma mudança séria nas
prioridades e sentimentos dos que chegam a esta fase. Experimenta-se a crise do
“demônio meridiano” ou da “idade da loba”.
Muito se tem falado e escrito sobre esta
crise da metade da vida. Estamos no auge de nossas forças físicas e da
eficiência profissional, mas ao mesmo tempo se experimenta o cansaço e a
monotonia da vida. Os relacionamentos afetivos são percebidos de modo
diferente. Desconfia-se da veracidade de tudo e, sem algum discernimento se
buscam novas aventuras e resultados. Resultado? Confiamos mais em Deus e nos outros
ou viveremos à mercê das seduções do momento!
Se
na primeira metade da vida nos relacionamos mais com as coisas exteriores,
nesta outra metade que agora se inicia, nos orientamos mais para os valores e a
interioridade. Pode-se
viver melhor a verdade, pois temos uma percepção mais clara das qualidades e
limitações humanas. A imaginação, a louca da casa, teima por viver o que até
agora não se fez.
Por desgraça, muitas
vocações sucumbem nesta fase! Contudo, a realidade se impõe e confessamos,
por experiência, que tudo tem o seu momento certo. Tornamo-nos mais compassivos e, evidentemente, começamos a tratar o
corpo com maiores cuidados.
É também o tempo de se reconciliar com a
morte, pois alguns seres queridos começam a desaparecer do nosso convívio... Os
jovens que estão ao nosso lado se toleram, porque ainda os amamos. É o meio-dia da vida, quando o calor é mais
intenso e a visibilidade também!
3. Idade adulta avançada (dos 60 anos em diante). Com o avanço dos
recursos médicos e melhorias sociais, o que era Terceira Idade passou a ser,
para alguns a melhor idade, pois cada
um se fez dono do seu nariz. Não havendo a obrigatoriedade do trabalho
profissional nem a responsabilidade direta dos filhos, as pessoas tomam o seu
rumo, vivendo como quer ou pode, sem tristezas nem lamentações.
A
idade adulta avançada é uma oportunidade, para colocar no seu devido lugar, as
perdas amorosas acontecidas.
Nesta altura da vida as pessoas não se importam muito com a sua autoimagem nem
a opinião dos outros, pois são o que são. Livres das mágoas passadas, pessoais
ou institucionais, se curte mais o positivo das possibilidades.
Na medida em que se envelhece, tudo fica
relativo, menos os valores essenciais que fomos cultivando. Enquanto o homem
exterior se corrompe, o interior se renova, dia a dia diz o apóstolo Paulo.
Uma pergunta: Como você elabora o inevitável e se enrola no
desnecessário?
0 comments:
Postar um comentário