Um conjunto de sintomas (desânimo, cansaço, frustração, ativismo, irritabilidade, estresse...) se fazem presentes, cada vez mais, entre os que se dedicam a cuidar dos outros e, entre eles, estão os profissionais da saúde, educadores, sacerdotes, consagrados, voluntários, militantes e líderes de comunidades cristãs, sintomas causados pela sobrecarga de atividades repetitivas e desprovidas de inspiração, num ritmo burocrático e sem o exercício da avaliação das mesmas.
A grande maioria desses “cuidadores” procura viver sua vida com sentido de humanidade profunda, mas experimentam sérias dificuldades pela pressão advinda da quantidade de atividades que se vêm obrigados a fazer e da diversidade de frentes nas quais investem suas energias e talentos... Como a harmonização de tudo isso parece impossível, eles se vêem afetados pela desilusão, culpabilidade e desconfiança da possibilidade real de viver a fé cristã. De vez em quando, procuram fazer “experiências” pontuais que os reanimam (“carregar as baterias”), mas no final a realidade é muito teimosa e acaba impondo sua lógica e ritmo desumano.
Também somos contaminados pela cultura do imediatismo e do ativismo, vítimas da competitividade que nos é imposta e que nos exige desumanamente. Desse modo, a vontade de ajudar e de servir ficam soterrados pelo esgotamento do dia-a-dia.
Há uma doença terrível e mortal que nos afeta a todos: a “compulsão do fazer”; somos definidos pela “produção” e a identidade é engolida pela “função”. E isto se tornou tão enraizado que, quando alguém nos pergunta “quem somos”, respondemos imediatamente pelo “que fazemos”.
Estamos mergulhados na cultura de resultados e a existência se faz maquinal e rotineira; já não encontramos tempo para desfrutar das atividades mais simples e humanas. Somos invadidos por ruídos, atropelos, resultados imediatos e vivências superficiais. Vivemos experiências rápidas, amontoadas, sem possibilidade de avaliação e assim perdemos a história pessoal e comunitária. Com isso, o “modo de viver” torna-se rotineiro e carregado de desencanto; tornamo-nos medíocres e nos acomodamos na passividade.
Nossas ações e trabalho se esvaziam e se tornam “insensatos” (sem sentido, sem inspiração e sem motivação: “para quê?” “para quem?...”); fazemos coisas que não faríamos se pudéssemos tomar distância e discernir. Tudo isso nos faz viver à margem de nós mesmos, na superficialidade sem captar o “mistério” escondido em nós, nos outros e nas criaturas.
Tal situação provoca o enfraquecimento da mística e do entusiasmo que anima permanentemente o cristão, fogo interior que permite manter a paz e a serenidade nos conflitos e nos fracassos.
É nessa realidade diária familiar e profissional que somos chamados a viver em comunhão com Deus e entrar na dinâmica do Espírito Criador, que nos leva a transformar as situações de morte em vida, como fez Jesus.
O cristão é chamado a viver esta mística do amor, da forma como Jesus viveu. Todos os “cuidadores” precisam chegar à conclusão de que não podem ser o centro, mas os provocadores de mudanças sem se afogar pelas preocupações e ansiedades.
É preciso ritmar a vida com períodos de calma, silêncio, oração e avaliação. Do contrário, vão se desgastar e desistir. É neste contexto dramático e perigoso que devemos situar a dimensão e o lugar da espiritualidade, fonte primordial de inspiração e de sentido evangélico de nossa ação.
A espiritualidade é a contra-corrente do ativismo. Se, de um lado, o ativismo nos arrasta para a repetição e a conservação, de outro lado, a espiritualidade nos impulsiona para a busca, a criatividade, a ação discernida visando o “maior e melhor serviço”.
A espiritualidade abraça tudo, dá sentido a cada ação e a cada gesto, pois nada do que é humano lhe é estranho. A realidade cotidiana é o “lugar” onde somos chamados a viver a espiritualidade cristã e a deixar-nos conduzir pelo mesmo Espírito que animou Jesus e o levou assumir o risco do compromisso.
A espiritualidade reacende desejos e sonhos, desperta energias em direção ao “mais”; faz descobrir a presença amorosa do Deus Pai-Mãe. A Espiritualidade nos faz ser criativos e ousados em tudo o que fazemos e dá sentido e inspiração a cada ação humana, por mais simples que seja.
A dimensão espiritual se revela no diálogo consigo mesmo e com o próprio coração e se traduz pelo amor, compaixão e escuta do outro. Espiritualidade significa viver segundo a dinâmica profunda da vida, pois defende sempre esta, contra os mecanismos de morte.
Uma pergunta: Você conhece algum `bom samaritano´ desencantado e desiludido?
Uma pergunta: Você conhece algum `bom samaritano´ desencantado e desiludido?
Eu sou professora e apesar de gostar muito do que faço me sinto cansada e esgotada. Minha vida espiritual é quase inexistente porque encho minha rotina de compromissos. O que devo fazer?
ResponderExcluirBoa pergunta! Vamos ouvir nossos leitores?
ExcluirMuito bom texto. Gracias!!!
ResponderExcluirBom dia! Mandou bem o texto de hoje... Tem muito a ver comigo: cansada e desiludida! Grata!
ResponderExcluir"Padre; nos identifica con su reflexión: necesitamos la fuerza del espíritu interior, para superar tanta adversidad y menoscabado apoyo de parte de los superiores-jefes-patrones..., un mínimo reconocimiento en algunos sectores (los más). ¿Qué hace que se viva de esta forma, por qué?
ResponderExcluirLa humanidad, o mejor la sociedad actual vive tan acelerada; le interesa sólo lucrar, sacar beneficio monetario de lo que sea; no le interesa el ser humano, la persona, el dolor, el sufrimiento.
Esta sociedad actual vive para satisfacer necesidades pasajeras, superficiales, personales y egoístas de unos pocos. Sólo de aquellos que mandan, dominan, gobiernan, tienen poder.
Nos hemos olvidado del otro/a. No existe el/la buen/a samaritano/na.
Porque nos falta el verdadero Dios-Amor en nuestro interior, en nuestro corazón. Y, lamentablemente los que debieran guiarnos hacia ello, no lo hacen; dan un pésimo ejemplo de egoísmo y vanidad. Incluida, lamentablemente la Iglesia católica; aunque hay excepciones, como los Santos/as y por supuesto el Papa Francisco actual.
Dios permita muchos lo imitemos en su ejemplo no sólo de palabra, sino en sus gestos y su vida ejemplar. Muy agradecida. Bendiciones abundantes".
Todos precisamos de palavras como essas ... gratíssimo Pe. Ramon !
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