3/JAN: Homilia do Papa Francisco aos jesuítas...

Em tudo amar e servir...
Na homilia o Papa recordou o que disse São Paulo: "Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus: Ele, existindo em forma divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus, mas despojou-se assumindo a forma de escravo" (Carta aos Filipenses, 2, 5-7). "Nós, jesuítas - disse o Papa - queremos militar sob a bandeira da sua Cruz, e isto significa: ter os mesmos sentimentos de Cristo. Significa pensar como Ele, querer o bem como Ele, ver como Ele, caminhar como Ele. Significa fazer aquilo que Ele fez e com os seus mesmos sentimentos, com os sentimentos do seu Coração".
"O coração de Cristo - prosseguiu - é o coração de um Deus que, por amor, se 'esvaziou'. Cada um de nós, jesuítas, que segue a Cristo deveria estar disposto a se esvaziar de si mesmo. Somos chamados a este abaixamento: ser os "esvaziados". Ser homens que não devem viver centrados em si mesmos porque o centro da Companhia é Cristo e a sua Igreja. E Deus é o 'Deus semper maior', o Deus que sempre nos surpreende. E se o Deus das surpresas não está no centro, a Companhia se desorienta. Por isto, ser jesuíta significa ser uma pessoa do pensamento incompleto, do pensamento aberto: porque pensa sempre olhando o horizonte que é a glória de Deus sempre maior, que nos surpreende sem descanso. E esta é a inquietude da nossa vida. A santa e bela inquietude!".
Depois o Papa prosseguiu: "Mas, porque pecadores, sempre nos perguntamos se o nosso coração conservou a inquietação da busca ou se, ao contrário, se atrofiou; se o nosso coração está sempre em tensão: um coração que não descansa, não se fecha em si mesmo, mas que bate ao ritmo de um caminho a ser feito junto com todo o povo fiel de Deus. É preciso busca Deus para encontrá-lo, e encontrá-lo buscando agora e sempre. Somente esta inquietude dá paz ao coração de um jesuíta, uma inquietude também apostólica, não nos deve cansar de anunciar o kerygma, de evangelizar com coragem. É a inquietude que nos prepara para receber o dom da fecundidade apostólica. Sem inquietude seremos estéreis".
"É esta inquietude - observou - que tinha Pedro Fabro, homem de grandes desejos, um outro Daniel. Fabro era um "homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relações de amizade com pessoas de todo gênero" (Bento XVI, Discurso aos jesuítas, 22 de abril de 2006). Contudo, era também um espírito inquieto, indeciso, nunca satisfeito. Sob a guia de Santo Inácio aprendeu a unir a sensibilidade irrequieta mas também doce, com a capacidade de tomar decisões. Era um homem de grandes desejos; assumiu os seus desejos e os reconheceu. Para Fabro, quando se propõem coisas difíceis se manifesta o verdadeiro espírito que move a ação" (Cf. Memorial, 301). Uma fé autêntica implica sempre um profundo desejo de mudar o mundo. Eis a pergunta que nos devemos fazer: também nós temos grandes visões? Somos também nós audazes? O nosso sonho voa alto? O zelo nos devora (cf. Salmo 69,10)? Ou somos medíocres e nos contentamos com as nossas programações apostólicas de laboratório? Recordemos sempre: a força da Igreja não habita nela mesma e na sua capacidade organizativa, mas se esconde nas águas profundas de Deus. E estas águas agitam os nossos desejos e os desejos alargam o coração. É o que dizia Santo Agostinho: "Rezar para desejar e desejar para alargar o coração". Precisamente nos desejos que Fabro podia discernir a voz de Deus. Sem desejos não se vai a nenhuma parte e é por isto que é preciso oferecer os próprios desejos ao Senhor. Nas Constituições se diz que "se ajuda o próximo com os desejos apresentados a Deus Nosso Senhor" (Constituições, 638).

"Fabro - disse ainda o Papa - tinha o verdadeiro e profundo desejo de "ser dilatado em Deus": era completamente centrado em Deus, e por isto podia andar, em espírito de obediência, muitas vezes a pé, por todas as partes de Europa, dialogando com todos com doçura, e anunciando o Evangelho".
E o Papa improvisou:
"Penso neste momento na tentação, que talvez nós tenhamos e que tantos têm, de ligar o anúncio do Evangelho com porretadas inquisitoriais, de condenação. Não. O Evangelho se anuncia com doçura, com fraternidade, com amor".
Depois prosseguiu:
"A sua familiaridade com Deus o levava a compreender que a experiência interior e a vida apostólica vão sempre juntas. Ele escreve nos seu Memorial que o primeiro movimento do coração deve ser aquele de "desejar o que é essencial e originário, ou seja, que o primeiro lugar deve ser deixado à solicitude perfeita de encontrar Deus Nosso Senhor" (Memorial, 63). Fabro experimenta o desejo de "deixar que Cristo ocupe o centro do coração" (Memorial, 68). Somente se somos centrados em Deus é possível andar em direção das periferias do mundo! E Fabro viajou sem descanso também para aquelas fronteiras geográficas a tal ponto que dele se dizia: "parece que foi feito para não parar em nenhuma parte" (MI, Epistolae I, 362). 

Fabro era devorado pelo intenso desejo de comunicar o Senhor. Se não temos o seu mesmo desejo, então é preciso de parar para rezar e, com fervor silencioso, pedir ao Senhor, pela intercessão do nosso irmão Pedro, que voltemos a nos encantar. Este fascínio do Senhor que levava Pedro a todas estas loucuras apostólicas...".
O Papa conclui, assim, a sua homilia:
"Nós somos homens em tensão. Somos também homens contraditórios e incoerentes, pecadores, todos. Mas homens que querem caminhar sob o olhar de Jesus. Nós somos pequenos, somos pecadores, mas queremos militar sob a bandeira da Cruz na Companhia que tem o nome de Jesus. Nós que somos egoístas, queremos, no entanto, viver uma vida agitada por grandes desejos. Renovemos a nossa oblação ao Eterno Senhor do universo para que com a ajuda da sua Mãe gloriosa possamos querer, desejar e viver os sentimentos de Cristo que se esvaziou a si mesmo. Como escrevia São Pedro Fabro, "nunca busquemos nesta vida um nome que não nos ligue ao de Jesus" (Memorial, 205). E rezemos a Nossa Senhora para que ela nos coloque junto com o seu Filho".


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