A tortura da perfeição... (Pe. A. Pallaoro SJ)

A afirmação de Jesus “Sede perfeitos...” tirada do contexto, gera profundos sentimentos de culpa diante de Deus e uma frieza no relacionamento com Ele.

O Pai de Jesus Cristo, revelado como infinita ternura, misericórdia, amor e proximidade para com os pecadores, não é vivido como Pai, mas como um juiz mal humorado, esquadrinhando nossa vida atrás de infidelidades, exigindo o cumprimento rigoroso das mínimas leis.

Desde os primeiros anos de nossa infância somos impulsionados a buscar a perfeição. Este conceito assumiu um valor central na compreensão e na orientação da nossa vida, assumindo também um caráter claramente sobrenatural: a vida divina exige que a pessoa procure a perfeição. Passou-se a considerar a santidade como sinônimo de perfeição; o caminho da perfeição coincidiria com o caminho da santificação. E isso não é verdade.

Os manuais de espiritualidade passaram a destacar a perfeição como único ideal e a moral evangélica se reduziu à moral da perfeição; por séculos, a perfeição seduziu, modelou, dominou e controlou a existência dos cristãos.

O pior é que, em pleno novo milênio, ainda somos educados a perseguir a perfeição como finalidade suprema da existência humana. Do ideal de perfeição que nos séculos passados seduzia o espírito, passamos ao ideal de perfeição que seduz o corpo: seres belos, altos, magros...

A sociedade atual valoriza pessoas dominadas pela eficiência, pelo sucesso a qualquer custo, pelo mérito, pela cobrança do “vencer sempre”... A vida cotidiana continua a ser invadida pelo ideal de perfeição através da permanente cobrança do “render e produzir ao máximo”, “nascemos para vencer”... Isso se traduz em competição, rapidez, eficiência, tensão emotiva permanente, dedicação estressante ao trabalho porque “tempo é dinheiro”... Estamos longe da santidade e tal credo não tem nada de humano. É uma “tortura inútil”.

Assumindo a perfeição como objetivo da vida, o eu entra em contradição com a vida mesma, que é essencialmente limitada, frágil e pobre.

A procura da perfeição é um movimento que nega o ser humano e põe em movimento uma visão desumana da vida, pois desconhece sua condição de criatura limitada.

A busca de perfeição torna-se um projeto fechado dentro do próprio eu orgulhoso, que exige o máximo de si, para não falhar em ponto algum. O “perfeccionista” está convencido de que somente será amado se for perfeito. Nesse esforço ele tende a contar exclusivamente consigo mesmo, prescindindo de Deus e dos outros.

perfeccionista dialoga com um código de normas, não com Deus.

Como seguidores de Jesus, somos chamados a viver a santidade, em vez de centrarmos nossa vida na busca da perfeição. A santidade está relacionada com a compaixão, a misericórdia, o amor... O convite de Deus é: “Sede santos porque Eu sou Santo”.

Deus é Amor e nisso consiste a santidadeA santidade, como o amor nos é dada por Deus e nos é dada agora. Somos amados por Deus, sem condições, agora, com todas as nossas imperfeições, pecados, fraquezas, debilidades, limitações, traumas... E isso nos torna capazes de amar agora e de fazer o bem agora, de servir agora, de ser santo agora, apesar de nossas imperfeições e fraquezas.

A santidade nunca é humilhada pelo pecado, porque um Outro nos acolhe e nos ama apesar de nosso pecado. A santidade é humilde porque nos faz descer em direção à nossa própria humanidade,  aceitando-nos ser pobres, frágeis, limitados, pecadores.

A santidade nunca leva ao fechamento em si mesmo, antes abre-nos para Deus e para os outros no amor, no serviço e no dom. santidade dialoga com o Pai, com Cristo, constituindo-se nesse lugar privilegiado de liberdade aberta ao sopro do Espírito.

Santidade não é um resultado que possa ser contabilizado; santidade é um caminhar.

É nesse horizonte que devemos entender a afirmação “Sede perfeitos como vosso Pai celestial é per-feito” (Mt. 5,48); ela está ligada com o texto precedente pela partícula de consequência “portanto”.

O discípulo de Jesus deve ser perfeito no Amor como o Pai celestial é perfeito no Amor. Ele ama a todos sem distinçãoO Deus de Jesus não é um juiz com um catálogo de leis, mas um Deus cheio de misericórdia e amor para com justos e pecadores.

A misericórdia é a resposta de Deus ao delírio do ser  humano de querer ser perfeito e é a única força capaz de detê-lo no processo de auto-divinização, própria do perfeccionista.

“Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc 6,36)

Ser misericordioso “como” Deus constitui o mais elevado convite e a mensagem mais profunda que o ser humano recebe, pois o caminho de Jesus não vai pelo terreno pantanoso da perfeição, mas pelo terreno firme do perdão, da compaixão e da santidade. 

E você busca mais santidade ou a perfeição?

2 comentários:

  1. "La perfección y la santidad conducen al bien. "Sean perfectos, sean santos", lo dijo Jesús.
    Él es nuestro modelo, los muy aventajados en el conocimiento de la verdad, olvidan que hay muchos/as que desconocen estos mismos.
    Por lo tanto deben ser más misericordiosos con aquellos que no saben y necesitan un medio para alcanzar la perfección o la santidad en un mundo tan materialista como el nuestro, que muestra lo "superficial" como lo "bello", y Jesús quiso ir más allá. Él quiso liberar el ser esencial de la persona. Tocar su corazón. ¿Cómo vivirlo, si nadie lo muestra o dice? (Ya Jesús lo dijo, cierran la puerta a otros, no entran ellos y no dejan entrar a los que quieren).
    Ese es el gran problema de los entendidos, expertos (Iglesia), que niegan a otros que también puedan descubrir, conocer y saber verdaderamente de y sobre Dios y sus misterios.
    Sin embargo, siempre, a través de las personas inspiradas por Dios mismo, él se manifiesta. A lo largo de la historia de la humanidad en sus escritos, vivencias, experiencias de vida etc., a hombres y mujeres.
    El Espíritu Santo sopla donde uno no espera, Dios está en todos, las semillas del Verbo están dispersas por el universo.
    La "perfección o la santidad" nunca podrá ser una tortura; es un gozo, una alegría, cuando es verdadero e inspirado por Dios.
    Bendiciones abundantes y fraternas Padre".

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  2. É uma questão de purificar a imagem que temos de Deus.

    Se cremos num Deus perfeccionista, que exige de nós a perfeição a todo o custo, amar o inimigo vai ser impossível, porque será difícil crer que Deus tolera alguém que faz o mal ou persegue. Ficamos sem a referência da santidade.
    Assim penso.

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