Adeus, amor, eu vou partir...
Nesta semana a irmã morte passou por perto e
escolheu duas pessoas queridas: Rafael, 23 anos, antigo aluno do nosso
colégio e Caíque, 17 anos, aluno e funcionário. Os dois sofreram acidentes graves.
Aliás, os acidentes de moto ou de carro são coisa antiga nas nossas cidades,
mas a gente só percebe quando nos tocam de perto.
De perto e ao nosso
redor. A morte é sorrateira e quando menos a esperamos se lança
sobre a vítima, a derruba e a leva. Isso assusta, e nos deixa sumamente
perplexos. Como imaginar que estes jovens seriam os “sortudos” da vez? Eu os
visitei na UTI... Ambos estavam adormecidos, silenciosos, calmos e prontos para
partir.
O que dizer aos seus pais
que por tanto tempo acalentaram esses meninos? Sonhos perdidos, partidos,
doídos! Talvez o silêncio seja a melhor
atitude diante de tamanha perda. O que dizer? Quem
sabe escutar a família seja o mais razoável, pois a dor partilhada
diminui quando encontra um ombro amigo. “era meu melhor amigo” dizia-me uma das
mães.
E os amigos e colegas como
ficam? O que dizer a eles, para quem a vida apenas começou? Tudo foi tão
rápido! Ontem, estavam no meio de nós; hoje, não mais. Sorriso, disponibilidade, confiança,
camaradagem ficarão agora só na lembrança. Por quanto tempo? Eu os vi
machucados e quando despojados da dor, partiram livres sem apenas dizer
adeus... Rezei: “Senhor, acolhe-os no teu Reino!”
Como computar esses sentimentos
sem magoar o próprio coração? Será
que o tempo cicatriza a saudade?
No decorrer da vida tenho
aprendido algumas coisas e uma delas é o valor da amizade. Ela é sagrada!
Curtir como crianças a presença dos outros, enquanto caminham conosco e se alegrar
simplesmente com isso, é uma graça. Rir de coração cheio, em céu de brigadeiro
e, às vezes, até chorar juntos à luz das estrelas, é humano! O que mais dizer? A vida é bonita e o Senhor habita nela!
Peço a Deus pelos que já partiram
e ao mesmo tempo agradeço por entrelaçar, de algum modo, as nossas vidas. Foi muito bom caminhar juntos! E aos
que ficam, faço um apelo singelo: não desperdicem o tempo, ele é tão curto!
E termino rezando, pois acredito
na Ressurreição daqueles que em Jesus foram batizados: Faz, Senhor, que as nossas vidas Te
sejam sempre agradáveis. Que não nos separemos por muito tempo da verdade e do
amor. E quando a irmã morte chegar e nos pegar pela mão, possamos partir agradecidos, pela vida que compartilhamos...
E que um dia, como
santo Estevão, discípulo predileto de Jesus, possamos dizer: “Vejo os céus abertos e o Filho do homem de pé, à minha espera!...” e a voz divina de Jesus ecoando no nosso
interior: Hoje, amigo muito
amado, estarás comigo e para sempre no Paraíso!
Uma pergunta: E você o que sente diante da morte?
Uma pergunta: E você o que sente diante da morte?
Boa noite Padre J. Ramón!
ResponderExcluirMeus sentimentos. Que a família
seja amparada nessa hora de separação,
que não é fácil! Embora o medo, de não ter tempo de dizer a quem mereça ouvir, "eu te amo"...."Faz, Senhor, que as nossas vidas Te sejam sempre agradáveis. Que não nos separemos por muito tempo da verdade e do amor."(...) E quando a irmã morte chegar e nos pegar pela mão, possamos partir agradecidos, pela vida que compartilhamos..(...)
Linda crônica de despedida.