Havia sempre um muro que me impedia de sonhar...
Sentir e saborear plenamente o presente é
um mistério que poucos conseguem. É
mais fácil se refugiar no passado conhecido do que inventar o momento presente.
Há uma atração dos sentidos, mas também há a sedução do Espírito. Se a proposta dos Epicúreos (propunham o prazer como fonte da felicidade) e dos gnósticos antigos foram atraentes, muito mais poderá ser a experiência dos místicos que nada rejeitam e tudo aprofundam. O problema não está em valorizar os sentidos ou a intuição, mas em não superá-los.
Há uma “pseudo-mística” alienada e alienante, por suas ideias falsas
e dualistas, sempre presente na
história da Igreja: Bogomilos
(Bulgária, s. X), Cátaros (França s.
XII), Albigenses, Valdenses (s.
XII), Beguinas (Bélgica, s. XII),
não eram ruins, mas excessivamente bons.
A verdadeira mística, seja apofática (via negativa: nada
define Deus) ou katafática (via positiva: o que podemos dizer de Deus),
encontra o infinito no finito e o indizível no dizível.
A experiência
mística sempre é gratuita e integradora. Podemos nos preparar para ela, mas
nunca manipulá-la. Só podemos responder
à ação de Deus!
No imenso e misterioso mundo dos sentidos
e da imaginação podem ocorrer experiências totalmente abertas e gratuitas,
dando sentido e significado à existência. É Deus presente em nós sentido e
experimentado pelo encantamento e o engajamento.
Esta experiência de Deus não é apenas
imaginativa, pois se concretiza num estilo de vida compromissado. As palavras e atitudes dos místicos são
sempre atuais. Os místicos não fogem da
realidade, mas se adentram nela com maior sensibilidade.
Há uma mística tradicional, a `dos olhos
fechados´, apofática
e Theo-cêntrica, irmã católica da antiga Gnose iluminadora. Mas há também outra mística, a `dos
olhos abertos´, katafática, Cristo-cêntrica, que ilumina a mente, toca o
afeto e se traduz em gesto de serviço.
Inácio de Loyola (1491-1556) é um expoente típico desta mística do serviço: O amor consiste mais em obras do que em palavras... (EE 230). Quando a mente entende, se ilumina, mas quando o coração ama, a pessoa se coloca a totalmente a serviço. Quem ama não cansa nem descansa...
Parafraseando Adélia Prado: “Tudo o que
sinto, vejo, escuto e toco esbarra quase sempre em Deus...”
"Místico desengajado": Eis o que seria uma imensa contradição de termos... Ou é místico, ou é desengajado. Tentar colocar ambos juntos é como tentar misturar água e azeite... E por onde mais a "infinita doçura e suavidade da Divindade" - ela mesma, sem sombra dos enganos de uma imaginação vazia, de um psique desequilibrada chegaria à alma mística senão através de suas mãos, de seus olhos, que vão, sedentos, ao encontro de todas as formas concretas do Deus vivo entre nós - sobretudo à mais vibrante delas: os pequeninos?
ResponderExcluirHoje é aniversário da Santa Madre Teresa de Jesús. Mística das místicas! E são dela as palavras que resumem tudo sobre o tema:
"Vós Sois as Mãos de Cristo.
Cristo não tem sobre a terra nenhum outro corpo se não o teu;
Nenhumas outras mãos senão as tuas;
Nenhuns outros pés senão os teus..
Tu és os olhos com os quais a compaixão de Cristo deve olhar o mundo.
Tu és os pés com os quais Ele deve ir fazendo o bem.
Tu és as mãos com os quais Ele deve abençoar os homens de hoje."
Isso é que é mística boa!!