Com pedaços de mim eu monto um ser atônito... (M. de Barros)
Ínhigo era o nome de sua vida mundana; Inácio foi como ele se entendeu, após a sua conversão. O
primeiro, Ínhigo, foi fruto da sua
imaginação egoísta e negativa; Inácio,
generoso e leal, foi configurado pelo
seu imaginário mais positivo e gratuito. O primeiro, concretizou sua negatividade, o
segundo sua positividade mas, contudo, um não se entende sem o outro.
Viajemos até Loyola, ano de 1521. Ínhigo, 30 anos de idade,
convalesce da bombarda que estraçalhou suas pernas. Nesse repouso forçado,
sem poder andar, apenas a imaginação viajava... Era um vai-e-vem de
imagens e a maior parte delas primitivas e egoístas.
"Era muito dado a ler livros mundanos e falsos, que costumam chamar de cavalarias, sentindo-se bem, pediu lhe arranjassem alguns deles para passar o tempo" (Autob. 5)
"Tinha o entendimento todo cheio das aventuras de Amadis de Gaula e semelhantes livros, e vinham-lhe idéias parecidas àquelas" (Autob. 17)
"Era muito dado a ler livros mundanos e falsos, que costumam chamar de cavalarias, sentindo-se bem, pediu lhe arranjassem alguns deles para passar o tempo" (Autob. 5)
"Tinha o entendimento todo cheio das aventuras de Amadis de Gaula e semelhantes livros, e vinham-lhe idéias parecidas àquelas" (Autob. 17)
Não havendo esses livros de cavalarias
na casa de sua cunhada, onde se recuperava das feridas graves da batalha de
Pamplona, começou a ler a vida de Jesus e a dos seus seguidores, os santos... E logo
percebe que surgem nele outro tipo de imagens, mais altruístas e evangélicas.
"Lendo-os muitas vezes, algum tanto ia-se afeiçoando ao que ali estava escrito. Mas, deixando-os de ler, algumas vezes parava a pensar no que havia lido. Outras vezes, em assuntos do mundo, em que antes costumava pensar. De muitas vaidades que se lhe apresentavam, uma se apossara tanto do seu coração, que ficava logo embebido a pensar nela duas e três e quatro horas sem perceber. Imaginava o que faria em serviço de uma senhora, os meios que empregaria para poder ir à terra onde ela se achava, os motes, as palavras que lhe diria, os feitos de armas que empreenderia em seu serviço. Ficava com isso tão desvanecido que não olhava quão impossível era poder alcançá-lo" (Autob. 6)
"Lendo-os muitas vezes, algum tanto ia-se afeiçoando ao que ali estava escrito. Mas, deixando-os de ler, algumas vezes parava a pensar no que havia lido. Outras vezes, em assuntos do mundo, em que antes costumava pensar. De muitas vaidades que se lhe apresentavam, uma se apossara tanto do seu coração, que ficava logo embebido a pensar nela duas e três e quatro horas sem perceber. Imaginava o que faria em serviço de uma senhora, os meios que empregaria para poder ir à terra onde ela se achava, os motes, as palavras que lhe diria, os feitos de armas que empreenderia em seu serviço. Ficava com isso tão desvanecido que não olhava quão impossível era poder alcançá-lo" (Autob. 6)
Esse parágrafo lembra o estilo da meditação inaciana: "Lendo muitas vezes..." A leitura repetida afeiçoa ao conteúdo lido
e o internaliza devagarinho no próprio coração. Esse é o objetivo da
“repetição inaciana” nos Exercícios Espirituais. Registrado afetivamente o
conteúdo da história lida, Inácio cria sua própria aventura.
Essa "imaginação ativa" centrava-se no episódio lido e imaginado com tal intensidade “que ficava embebido", e o tempo passava sem ele perceber. Não eram apenas devaneios, mas "virtualmente" os concretizava em gestos e detalhes: serviços que faria, meios a serem usados, palavras a serem ditas, atitudes que deveria tomar... Inácio, como todo apaixonado, a impossibilidade não tinham a menor importância!
Essa "imaginação ativa" centrava-se no episódio lido e imaginado com tal intensidade “que ficava embebido", e o tempo passava sem ele perceber. Não eram apenas devaneios, mas "virtualmente" os concretizava em gestos e detalhes: serviços que faria, meios a serem usados, palavras a serem ditas, atitudes que deveria tomar... Inácio, como todo apaixonado, a impossibilidade não tinham a menor importância!
Essa fantasia desenvolvida na leitura dos livros de cavalarias, Inácio a usará positivamente na contemplação dos mistérios da vida de Jesus. A imaginação positiva e os sentimentos suscitados, levam a gestos mais evangélicos e integrados.
Quantas pessoas não ficam hoje seduzidas, “embebidas”, com certos programas de TV, uso da internet, revistas e livros que mexem fortemente com a
fantasia?
A fantasia está no ponto de encontro entre o físico e o espiritual, entre o objeto
e o sujeito.
Ela tem uma força motriz impressionante, pois não pertence ao imediatamente
sensível nem ao puramente espiritual. A imaginação tem suas raízes na realidade
físico-corporal, mas se abre também para o mental e espiritual. Ela pertence a dois
mundos... As imagens que temos revelam de algum modo o que somos e vivemos.
Inácio,
no começo do seu aprendizado, projeta espontaneamente sua realidade pessoal
dividida e machucada nas imagens negativas pensadas. Ele vê "com a vista da imaginação" uma
"serpente, com muitos olhos
resplandecentes" que o amedronta e persegue... Dúvidas e imagens
espantosas o colocam, em Manresa, à beira do suicídio... Ele até se vê como "alma
encarcerada", "chaga e
abscesso (apostema)" e a meditação do inferno reflete, como num
espelho, sua realidade interior extremamente bagunçada e pecaminosa.
Como sair desse inferno interior? Quem olhar de
frente sua realidade negativa já começou a dominá-la e integrá-la. Só quem passou pela
noite escura poderá se encantar com a luz do dia! Mergulhar na realidade negativa é já dominá-la de algum modo. Essa é a experiência que fazemos nas meditações da primeira semana dos Exercícios Espirituais.
Mergulhar na
própria miséria e, ao mesmo tempo experimentar a misericórdia divina... A vida egoísta começa a se abrir e iluminar. A luz se faz presente nas próprias feridas, cicatrizando-as e um novo
sentido começa a despontar. As imagens, espelho de sua negatividade e vida
regressa, dão lugar a outro
tipo de fantasia e imaginação, mais gratuita e positiva, próprias de uma etapa de purificação. Inácio acorda
como de um pesadelo, sentindo "como
se lhe tirassem dos ombros uma pesada capa" e surpreso por tamanha
gratuidade exclama emocionado: "que
nova vida‚ esta que agora começa?"
A imaginação positiva o configura sempre mais com o Senhor Jesus, levando-o a um compromisso e serviço maior com os outros.
Os
melhores gestos de gratuidade nascem na contemplação da vida do Senhor Jesus.
Uma pergunta: Sua imaginação é mais positiva ou negativa?
Uma pergunta: Sua imaginação é mais positiva ou negativa?
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