A Paz esteja convosco...
O Evangelho da ressurreição de Jesus
Cristo começa referindo o
caminho das mulheres para o sepulcro, ao alvorecer do dia depois do sábado.
Querem honrar o corpo do Senhor e vão ao túmulo, mas encontram-no aberto e
vazio. Um anjo majestoso diz-lhes: Não
tenhais medo! E ordena-lhes
que levem esta notícia aos discípulos: Ele
ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia. As mulheres
fogem de lá imediatamente, mas, ao
longo da estrada, sai-lhes ao encontro o próprio Jesus que lhes diz: Não temais. Ide anunciar aos meus
irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão...
Depois da
morte do Mestre, os discípulos tinham-se dispersado; a sua fé quebrantara-se,
tudo parecia ter acabado: desabadas as certezas, apagadas as esperanças. Mas
agora, aquele anúncio das mulheres, embora incrível, chegava como um raio de
luz na escuridão. A notícia
espalha-se: Jesus ressuscitou, como predissera... E de igual modo a ordem de partir para
a Galileia; duas vezes a ouviram as mulheres, primeiro do anjo, depois do
próprio Jesus: Partam para a
Galileia. Lá Me verão.
A Galileia é
o lugar da primeira chamada, onde tudo começara! Trata-se de voltar lá, voltar ao lugar da
primeira chamada. Jesus passara pela margem do lago, enquanto os pescadores
estavam a consertar as redes. Chamara-os e
eles, deixando tudo, seguiram-No.
Voltar à
Galileia significa reler tudo a partir da cruz e da vitória. Reler tudo
– a pregação, os milagres, a nova comunidade, os entusiasmos e as deserções,
até a traição – reler tudo a partir do fim, que é um novo início, a partir
deste supremo ato de amor.
Também para
cada um de nós há uma Galileia, no
princípio do caminho com Jesus. Partir
para a Galileia significa uma
coisa estupenda, significa redescobrirmos o nosso Batismo como fonte viva,
tirarmos energia nova da raiz da nossa fé e da nossa experiência cristã. Voltar
para a Galileia significa antes de tudo retornar lá, àquele ponto incandescente onde a
Graça de Deus me tocou no início do caminho. É desta fagulha que posso
acender o fogo para o dia de hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus
irmãos e às minhas irmãs. A partir daquela fagulha, acende-se uma alegria
humilde, uma alegria que não ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria
mansa e bondosa.
Na vida do
cristão, depois do Batismo, há também uma Galileia mais existencial: a experiência do
encontro pessoal com Jesus Cristo, que me chamou para O seguir e participar na
sua missão. Neste sentido, voltar
à Galileia significa guardar no coração a memória viva desta chamada,
quando Jesus passou pela minha estrada, olhou-me
com misericórdia, pediu-me para O seguir; recuperar a lembrança daquele
momento em que os olhos d’Ele se cruzaram com os meus, quando me fez sentir que
me amava.
Hoje, nesta
noite, cada um de nós pode interrogar-se: Qual
é a minha Galileia? Onde é a minha Galileia? Lembro-me dela? Ou esqueci-a?
Andei por estradas e sendas que ma fizeram esquecer. Senhor, ajudai-me!
Dizei-me qual é a minha Galileia. Como sabeis, eu quero voltar lá para Vos
encontrar e deixar-me abraçar pela vossa misericórdia.
O Evangelho
de Páscoa é claro: é preciso
voltar lá, para ver Jesus ressuscitado e tornar-se testemunha da sua
ressurreição. Não é voltar atrás, não é nostalgia. É voltar ao primeiro amor, para
receber o fogo que Jesus acendeu no mundo, e levá-lo a todos até aos confins da
terra.
Galileia dos
gentios (Mt 4, 15;
Is 8, 23): horizonte do
Ressuscitado, horizonte da Igreja; desejo intenso de encontro...
Ponhamo-nos
a caminho!
0 comments:
Postar um comentário