O meu fascínio era total!...
Deixem que as crianças venham a mim (Lc 18, 16). Os
pais daqueles meninos de Jerusalém queriam que Jesus os tocasse. Lucas sugere
que o toque de Jesus era uma bênção, e insinua que para
crescermos precisamos de relacionamentos humanos positivos. O contato humano entra pela pele e chega ao
coração. Todos sentimos quando somos amados ou desprezados pelo tipo de
toque experimentado. Quando uma pessoa nos toca com carinho, seja com suas
palavras ou seus gestos, nos sentimos mais seguros e confiantes. E isso é uma
bênção!
Bem antes de nascer fomos positivamente aconchegados no útero
materno e depois, na hora do nascimento, alguém nos pegou com carinho e
exclamou: “é menino!” ou “é menina!” Alguém
nos olhou com atenção e proclamou, com alegria, essa boa nova. Assim foi
anunciada a nossa identidade sexual e o corpo provavelmente confirmou tal
declaração com uma ligeira excitação.
A identidade sexual
física começa a ser definida já na 5ª semana de gestação. Posteriormente,
virá a tarefa pessoal de crescer emocionalmente nessa autoconsciência.
Lembremos os passos então percorridos:
1. Ausência da consciência. Nascemos com uma identidade sexual
definida, mas demoramos um pouco para apropriar-nos dela. No primeiro ano de
idade, ninguém tem consciência de sua identidade nem das sensações agradáveis
experimentadas (colo, banho, mamar, evacuar...); tudo faz parte de um bem-estar
geral corporal. As sensações prazerosas nessa fase são involuntárias e conectam
instintivamente o relacional com o sexual.
O recém-nascido sente
o próprio corpo instintivamente. Boca, olhos, ouvidos, nariz e pele o
aproximam das sensações prazerosas que outros oferecem e é por elas que,
aos poucos, adquire conhecimento e saber. Se nos cuidaram com carinho e as
necessidades elementares foram atendidas, se respeitaram nossos esforços por
explorar o próprio corpo, provavelmente nos afirmaremos com autoestima e
segurança no processo de crescimento pessoal.
Relacionar-se, confiar, tocar e deixar-se tocar foram parte do
desenvolvimento emocional nos primórdios da vida. Essa aprendizagem começou no primeiro contato visual com a mãe.
Choro e alegria nos acompanharam por algum tempo e, por meio deles, aprendemos
a desejar a presença de pessoas queridas e conhecidas. Sem o saber,
experimentávamos a força da atração!
Depois, fomos nos apegando também a coisas: brinquedos, animais de
estimação ou de pelúcia, etc. Aos
poucos, fomos pondo o coração em pessoas e coisas, sem muita distinção de preferências
por algo ou alguém. Aprendemos a confiar instintivamente naqueles que nos
cercaram e criaram. Bem mais tarde seremos capazes de deixar qualquer
coisa por uma pessoa ou um ideal. O amor maduro se centra em pessoas e não em coisas.
2. Intimidade e carinho. Entramos no mundo dos relacionamentos
humanos pelo sorriso e, depois pelas primeiras palavras e o nosso andar
vacilante. Assim, fomos nos afirmando na medida em que alguém nos acolhia e
recompensava o que fazíamos com afeto.
A criança descobre cedo a sensação dos seus genitais. Esse despertar
sexual infantil, quase nunca é registrado pelos pais, e é tão importante
como balbuciar “papai” ou “mamãe”. Desse modo reconhecemos o
potencial erótico do próprio corpo e nos introduzimos no mundo das sensações. Tudo isso contribuiu para a consolidação
pessoal e o bem-estar corporal.
Se os esforços por explorar o próprio corpo tiveram acolhida carinhosa,
provavelmente nos tornamos seguros e integrados. Se o corpo se torna amigo
seremos capazes de nos abrir positivamente para uma nova etapa no processo de nosso
crescimento.
Como se desenvolve a
nossa personalidade? Lembremos alguns passos: À medida que a criança cresce, a libido
concentra-se em diferentes regiões sensíveis do corpo. Nos primeiros 18 meses, a fonte dominante de prazer é a boca (fase
oral). Se essa fase não foi bem sentida e experimentada haverá uma fixação
adulta nela, dai adultos desconfiados, gulosos, destemperados e
briguentos. Depois, o prazer passou
para o ânus (fase anal). Se essa fase não foi bem sucedida ou reprimiram
haverá uma fixação adulta e teremos pessoas teimosas, avarentas, excessivamente
organizadas, agressivas e até com tendências autodestrutivas. Enfim, após os três anos a criança descobre seus
genitais (fase fálica),
e desenvolve uma forte ligação com o genitor do sexo oposto (complexo de
Édipo). A fixação nessa fase se traduz
em vaidade, egoísmo, timidez ou sentimentos de baixa autoestima
na pessoa adulta.
No final da fase fálica, cinco ou seis anos de idade, a criança perde o
interesse pelo sexual e entra em um período de tranquilidade pessoal.
Só mais tarde, na puberdade, entra-se na última fase, a psicossexual, quando
os impulsos sexuais são novamente despertados e experimentados. A sexualidade
madura adia as gratificações e cresce na responsabilidade e cuidado pelas outras
pessoas.
Experiências mal sucedidas nesta fase inicial do processo de crescimento
nos marcarão negativamente e comprometerão as outras etapas do desenvolvimento
emocional. Se somos privados do prazer lícito ou temos uma gratificação
permissiva excessiva, parte de nossa energia sexual poderá permanecer fixada
nessa etapa, prejudicando o crescimento emocional e sexual.
Só aos poucos, a sexualidade
chega à consciência com a aquisição da linguagem, dando nome a todas as
coisas. O menino começa a perceber que é menino e a menina que é menina. É o
tempo das descobertas, de falar sem pudor, de controlar os esfíncteres e de
consolidar a identidade de gênero.
A criança sente-se bem com o seu corpo e não têm malícia de se
apresentar nu. É o tempo da
brincadeira e do exibicionismo. Elas, sem dificuldade, entram nuas numa
sala de visitas cheia de pessoas. A reação diante disso é que pode gerar
confusão, ao perceber que há algo de estranho se os genitais não estão
cobertos.
A liberdade de se apresentar nu revela algo interessante: o desejo
de se mostrar e revelar e que irá acontecendo de modo progressivo durante a
vida, desvendando os próprios pensamentos e sentimentos.
O que é para ser natural e espontâneo pode sofrer percalços se
o interesse pelo sexo se explora, se castiga ou se ridiculariza. Nas etapas seguintes, o interesse e a
atenção se fixarão onde infantilmente se parou. Mais ainda, se a repreensão
dos pais ou dos educadores foi severa, a criança associará o sexo com
sentimentos de vergonha ou ansiedade, desenvolvendo atitudes negativas e nocivas
nessa área.
O desenvolvimento psicossexual não é automático, pois requer tomada de consciência
e de aceitação continuas. Se nesta fase experimentamos espontaneamente o
genital como algo positivo e prazeroso, poderemos nos afirmar de modo positivo
e adequado.
Uma pergunta: Como sente que foi esta sua primeira fase?
Uma pergunta: Como sente que foi esta sua primeira fase?
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