Ser auto-referencial não é o meu objetivo...
Lucas nos
apresenta um pequeno e significativo retrato de Jesus adolescente, ao dizer que
ele crescia
em tamanho, sabedoria e graça (Lc
2, 52). Após os 12 anos de idade, o judeu toma consciência da sua identidade e
se torna responsável pela sua religião e pelos seus atos. O menino passa a ser
“Bar Mitzvá”, isto é "filho
do mandamento", e é chamado à Sinagoga para ler a Torá.
Todo
judeu deve conhecer a Torá e peregrinar a Jerusalém, por ocasião de uma festa
religiosa importante. No relato de Lucas, encontramos
Jesus no Templo, partilhando as Escrituras com os mestres da Lei. Encontrado
pelos pais, há um diálogo enigmático, com traços preocupantes:
- Por
que fez isso conosco?... pergunta-lhe Maria.
- Por que me buscavam?... responde Jesus.
Esse
relato é conhecido como O
menino “perdido” e achado no Templo... Jesus não se “perdeu” e,
provavelmente, “escolheu” ficar em Jerusalém. Talvez, seria melhor dizer que Jesus estava “se encontrando” no Templo.
Jesus, ao responder ao seu chamado vocacional e reafirmar a sua liberdade e
independência, começa a reclamar seus direitos e deixa os pais, antes de sair
definitivamente de sua casa. Crescer
jamais é “perder-se”!
Alguns têm problema de imaginar Jesus
adolescente e preferem idealizá-lo como menino ou adulto. Jesus “aborrescente”?... Quem sabe esse
mal-estar tem a ver com a “sexualidade”, pois no adolescente ela está à flor da
pele. Jesus passou pela puberdade e pela adolescência e experimentou as
mudanças físicas e emocionais próprias dessa idade.
Na adolescência brotam os desejos e os
sonhos... É o tempo da fantasia e de sentir com intensidade os anseios do
coração.
Nessa
fase e em quase todas as culturas, os jovens passam por “rituais de
transição”, ao serem introduzidos no grupo social, eclesial ou familiar. “Adolescência” é sinônimo de crescimento e amadurecimento, embora atualmente tenha
a conotação negativa da imaturidade e da irresponsabilidade.
No caminho para a maturidade forçosamente
passamos por esta fase de transformação e de rebeldia. Este
período é um dos mais dramáticos, pelas mudanças profundas no campo físico e
emocional, psicológico e espiritual. A “teenager”
é como um segundo nascimento, uma nova forma de ser. Podemos sinalizar duas fases:
A puberdade, até os 15
ou 16 anos, é o tempo de transformações
e de independência em relação aos pais. Começam os ruidosos “NÃO!” a
toda sugestão dos pais ou professores. O jovem busca o seu espaço físico e
emocional. Essa experiência de liberdade se concretiza nas mais diversas formas
de confronto, rebeldia ou mesmo de clamor silencioso.
E a
adolescência, quando começam as preferências e
os primeiros gostos acadêmicos, profissionais ou vocacionais. Os filhos “abandonam
a própria casa” de muitas formas, antes de deixar os próprios pais. É lei
de vida! Aos poucos, cada um abre seu caminho ao vislumbrar novos horizontes,
interesses e valores.
Que seria da vida humana sem esta imaginação
e liberdade? Elas exercem um formidável poder e fascínio ao ampliar o campo de
visão e do conhecimento. Não vivemos apenas de fatos, mas também de sonhos e
são fundamentais no desenvolvimento humano. A imaginação é fonte inesgotável de criatividade e energia relacional.
Na
adolescência, a energia sexual se projeta em pessoas reais ou imaginárias,
facilitando os relacionamentos e a comunicação. A “fantasia” possibilita isso de um modo natural!
Quando
crianças, a fantasia nos envolvia, por horas a fio, em brincadeiras “imaginativas”
intermináveis. Na adolescência, a mesma “imaginação” nos envolve em
relacionamentos afetivos encantadores
e prolongados. A “fantasia” é o modo
intuitivo e misterioso de preparar-nos para o amor maduro.
A
“fantasia” tem características próprias no homem e na mulher. Nos homens o estímulo visual é
importante, para deslanchar a imaginação. As
mulheres valorizam mais o afetivo.
A
“fantasia” exerce um poder extraordinário nos humanos: alguns são mais
agressivos por causa dela; outros vivem retraídos e cheios de temor graças a
uma fantasia negativa.
Seja como
for a “fantasia”, positiva ou negativa, e suas sensações, expressa o
crescimento físico e emocional dos humanos. Relacionamentos abusivos sinalizam doenças
emocionais profundas.
A
“fantasia” manifesta o modo criativo das pessoas se prepararem para o amor. Tudo é bom, mas nem sempre tudo é bom para
todos.
Mudanças hormonais, próprias desta etapa,
podem começar aos 10 anos ou aos 16. A maturidade física chega rápida em
alguns; em outros, demora anos. A
resposta a essas mudanças também é diversa: uns se enchem de entusiasmo e
orgulho; outros se angustiam e deprimem. Todos,
porém, se preocupam quando se desenvolvem muito cedo ou tarde demais.
A adolescência é tempo de comparações: físicas (peso,
altura, tamanho...) e emocionais (ficar, namorar...) com repercussões
acadêmicas e emocionais facilmente observáveis (felicidade ou aborrecimento,
socialização ou isolamento, etc.)
O adolescente começa a se afastar dos pais,
buscando seu espaço e identidade pessoal. Sentimentos de pertença e
de independência acontecem simultaneamente. Os problemas se solucionam com
tempo ou quando se muda o tipo de dependência (social, familiar, grupal, etc.).
A turma dos amigos/as surge poderosa
e, para alguns, se torna até prioritária. O jovem começa a ter “suas coisas”
(roupa, quarto, TV, celular...), mas se responsabiliza muito pouco por elas.
Começam a brotar também perguntas pelo
sentido da vida. Quem sou?... Você
gosta de mim?... Sou capaz de amar alguém?... Que vou fazer com a minha
vida?... Onde está Deus?... Que é o que eu quero?... Perguntas que nem sempre
têm respostas.
O narcisismo é normal nesta fase e os
relacionamentos afetivos mantidos são “exploratórios” e pouco duradouros. O que
se sente, se expressa por “exterioridades”: abraços, beijos, carícias... Alguns
começam a ter relações sexuais e isso pode trazer consequências sérias e
inesperadas. O mundo interior é pouco
valorizado e só aos poucos ele vai aparecendo e ocupando espaços. Tudo isso
é bem mais complicado para quem é atraído por pessoas do mesmo sexo, pois a
cultura predominante força a disfarçar ou dissimular o sentido.
A adolescência é o tempo dos encontros e
desencontros e de crescer “em
sabedoria e graça diante de Deus e dos outros...” Desse modo, um dia entramos quase sem
perceber nos umbrais da vida adulta.
Uma
pergunta: Que
lembranças você guarda do tempo de sua adolescência e como as sente agora?
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