Dentro da mata o canto dos pássaros é sinfônico...
Os primeiros jesuítas chegaram ao Oriente
boliviano em 1691 e, ao ver as portas pequenas das ocas dos indígenas, os
chamaram de “Chiquitos”. O Pe. José de
Arce e o Ir. Antônio de Rivas nunca imaginaram que a semente musical,
por eles plantada, daria tanto fruto na história daquele povo. Os missionários jesuítas
não levavam armas, como os bandeirantes paulistas, mas instrumentos musicais que
encantaram, por séculos, os indígenas. Ainda hoje, nesses lugares longínquos, permeados pela selva tropical, a música barroca continua tão viva e atual como no século
XVIII, quando estavam com eles os padres e irmãos jesuítas.
Mais de duzentos anos já se passaram do brutal
exílio, forçado pelo decreto de sua "graciosa Majestade o Rei Carlos III", de
Espanha, expulsando os jesuítas de seus territórios. Os "Chiquitos" ficaram sem seus mestres, mas não esqueceram o que estes lhes ensinaram. A fé
católica e a música religiosa fazem parte daquele legado semeado com tanto carinho, por mais de 100 anos.
Em 1972 começaram as obras de reabilitação dos magníficos templos de Concepción, San
Javier, San Ignacio, Santa Ana, Santiago y San José. Belas pinturas, retábulos barrocos e enormes colunas das igrejas, feitas de troncos
de árvores, testemunham a grandiosidade artística daqueles indígenas... Quem nunca viu não imagina quanta grandeza e beleza esconde a selva cruzenha!
Anos
atrás, mais de cinco mil partituras de música barroca foram encontradas em
caixas empoeiradas e preservadas nessas igrejas, quase arruinadas pelo tempo. Atualmente,
não só os templos foram recuperados, como também o riquíssimo acervo musical do Barroco Missionário dos séculos XVII e XVIII,
foi classificado, digitalizado e protegido no Arquivo da cidade de
Concepción.
As melodias e composições
das partituras se escutam, ainda hoje, naquelas pequenas cidades, interpretadas por orquestras
e coros de crianças, jovens e adultos que cantam, tocam e dançam, como 300 anos atrás. Vivaldi, Corelli, Bach, Chaikovsky e Zípolli, grandes compositores, ouvem-se no meio daquela selva de Santa Cruz de la Sierra.
Celebrando com alegria os 200 anos da restauração da Companhia de Jesus, destacamos o tesouro maravilhoso de cultura e fé que nem o decreto do Rei Carlos III nem a bula papal de Clemente XIV conseguiram apagar.
Os jesuítas e indígenas de Chiquitos deixaram arte e beleza no coração daquela terra.
Os jesuítas e indígenas de Chiquitos deixaram arte e beleza no coração daquela terra.
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