De holofotes, só mesmo o capeta é que gosta...
Durante os vinte e oito anos do governo pastoral
de Dom Paulo Evaristo Arns, hoje arcebispo emérito, houve um só padre com mandato: Frei Gilberto da Silva Gorgulho,
frade dominicano (recentemente falecido). Mas sempre houve padres que se diziam exorcistas. Eu mesmo conheci
dois: Um no Belenzinho (padre Miguel) e outro no bairro do Tatuapé (padre
verbita alemão). Ainda havia outros ao redor da cidade de São Paulo fazendo as
coisas no paralelo. O curioso é que estes e os atuais não seguem o ritual tal
qual manda a igreja e muitas vezes não tem os requisitos para exercer tal
função. É mais para aparecer na
televisão do que para enfrentar o mal e ajudar terapeuticamente as pessoas.
Do ritual da Igreja Católica: quem vai exercer o ministério de exorcista, não transforme a celebração em espetáculo,
proíbe a divulgação dos meios de comunicação e exorta a consultar peritos em
ciências médica e psiquiátrica que tenham senso das coisas espirituais (Ritual
de Exorcismos p.6).
E na página 17: o ministério de exorcizar os atormentados é concedido por peculiar e
expressa licença do Ordinário local que, normalmente, será o Bispo diocesano
(CIC canon 1172). Essa licença só deve ser concedida a um sacerdote que se
distinga pela piedade, ciência, prudência e integridade de vida e
especificamente preparado para esta função.
O que foi mostrado no
programa da TV Globo é característico de histeria coletiva! Parecia ser mais
sugestão dos clérigos em suas igrejas ou templos, transformados em espetáculo. Em vez de ajudar criaram mais doentes e
doenças. Não houve nenhum exorcismo.
Foi só espetáculo. Nos dois casos mais longos permitiu-se inclusive imagens
da televisão o que é terminantemente proibido.
Resumindo: nenhum dos sacerdotes
citados seguiu nenhuma norma do ritual que dizem conhecer e até ter feito curso
em Roma. Os padres não pediram avaliações prévias de peritos. Um deles usou uma
língua estranha. Isto é muito estranho. Que
os bispos permitam isto é mais estranho ainda. Seria bom que agora se
pronunciassem depois que o caldo entornou. Lembro que não é preciso fazer curso
nenhum no Vaticano para este ministério. O que precisa é bom senso e vida de fé
profunda. Não me pareceu que os padres
Lauro e Vanilson sejam doutores em Teologia. Será que fizeram teologia? Quanto
ao sacerdote do Rio de Janeiro chegou a divulgar o diário da mulher que se
disse possuída, o que rigorosamente proibido. Rompeu com o sigilo. Tudo se transformou em um verdadeiro circo.
O patético ficou por conta de um borrifador de
água benta para plantas: virou superstição em torno dos chamados objetos
necessários para o exorcismo. Tornou-se paganismo barato. Fizeram parecer
necessário tudo o que o ritual pede que se evite. A matéria foi popular. Já a catequese foi péssima e prestou um
desserviço à evangelização e à lucidez teológica. Voltamos ao menos cem
anos atrás. Um diálogo de surdos fazendo psicólogos e psiquiatras ficarem do
outro lado quando o ritual é explícito em dizer que eles/elas são os primeiros
a serem consultados e não os últimos nem os concorrentes. Nada deve ser feito
antes de médicos, psiquiatras e cientistas das áreas humanas se pronunciarem.
Como o povo anda doente da mente nas metrópoles
com tantas violências e pressão, certamente irá crescer a demanda e os padres
que gostam de aparecer terão nisto um prato cheio. Deus nos proteja. Não podemos cair no grave erro do satanismo, que
vê a presença do Maligno em toda parte e submete as pessoas à psicose do medo
irracional. Sabemos que o Maligno existe, mas livrá-las do Mal é tarefa de
todos e não de alguns e é algo muito santo e profundo, não um show.
Agora todo mundo vai
correr atrás do kit anti-capeta em lugar de orar mais, buscar ser irmão e ler a
Palavra de Deus. Caímos no paganismo vulgar. O Catecismo da Igreja Católica nos
ensina o que devemos proceder com prudência e distinguir antes da celebração de
qualquer exorcismo, se ele é de fato maligno ou uma doença.
O que é o mais importante na liturgia terapêutica da Igreja é que o rito do
exorcismo manifeste a fé da Igreja e
ninguém possa considerá-lo uma ação mágica ou supersticiosa. O que não
podia é que foi mostrado e "vendido" para todos no Fantástico. Foi um fantástico show de superstição e
estrelismos. A prudência dos padres foi zero e a discrição pior que zero. Enquanto se faz o exorcismo, DE FORMA ALGUMA
se dê espaço a QUALQUER meio de comunicação social e até, antes de fazer o
exorcismo e depois de feito, o exorcista e os presentes não divulguem a notícia, observando a necessária discrição... (p.19)
E na pagina 21: Se for possível, o exorcismo seja feito num oratório ou em outro lugar
adequado, separado da multidão...
Pergunto: Foi propaganda
para que haja mais espetáculo?
Infelizmente temo que o espetáculo seja um dos grandes males da nossa sociedade, Pe Ramón. Fazemos de tudo para aparecer e ganhar os holofotes, se for em cima da super exposição da nossa dor ou da dor do outro, tanto melhor. É difícil saber como sair de tudo isso, como não virar só mais um boneco no circo de horrores, se nem nossa espiritualidade está mais a salvo.
ResponderExcluirCorajoso e oportuno esclarecimento...
ResponderExcluirParabéns por sua manifestação corajosa Padre! Jesus é zeloso pela Casa do Pai e os herdeiros em Cristo também devem zelar por sua obra. Uma situação dessas, além de deturpar, expõe a Igreja ao ridículo. Um show deprimente utilizando-se da fraqueza do ser humano. Transformar a fé em espetáculo é inadmissível, em qualquer ritual. Respeito ao Sagrado. Abraço, Margareth
ResponderExcluirMuito oportuno seu comentário. Esse tipo de ação, promovido pelos religiosos em questão não ajudam em nada a promoção da pessoa segundo o Rino de Deus.
ResponderExcluirMuito oportuna sua manifestação. A atitude dos religiosos em questão não colabora em nada com a promoção das pessoas segundo os critérios de Jesus. Uma questão: os bispos dessas dioceses sabem do que seus religiosos fazem? Se sabem concordam?
ResponderExcluirEvidente Pe. Ramón. Continuamos vivendo o famoso "pão e circo". São ministros como estes e os respectivos superiores que propagam o paganismo e depois ainda se dizem preocupados pelas igrejas que estão se esvaziando! O cristão que tem fé, que busca caminhar nos passos de Jesus sofre ao se deparar com tamanha insanidade. O que vejo são ministros desesperados para encher suas "igrejas" e ao perceberem que não têm capacidade para exercer o ministério, buscam imitações grotescas de pessoas irresponsáveis que jogam com o sentimento e uma religiosidade fantasiosa de pessoas que buscam uma "varinha mágica" para resolver suas dificuldades. Não quero dizer com isso que não acredito no maligno e na sua ação nas pessoas, mas sim que não acredito em pessoas que tem como objetivo a busca do poder e da dominação. É destas pessoas que devemos clamar: Protege-nos Senhor!
ResponderExcluirPor que os ateus não têm esses problemas?
ResponderExcluirMeu Deus...abençoadas explicações...assistindo ao "shou" no fantástico...fiquei me perguntando...Será mesmo que isso é permitido ou aceito pela igreja!? Desde então pensei em buscar esclarecimento inclusive no catecismo da igreja católica...e hoje sem querer...esse querido e abençoado padre Eutrópio Aécio...postou esse link esclarecedor...obrigada padre...
ResponderExcluirExcelente e esclarecedor... Isso, sim, é Fantástico!
ResponderExcluirPara quem assistiu ou não a reportagem sensacionalista sobre exorcismo no Fantástico. Felizmente um artigo maduro, consciente e crítico sobre o que foi mostrado...
ResponderExcluirTantos problemas mais importantes para serem discutidos, como a questão ecológica, a falta d'agua, exclusão social, entre outros temas, e nossos padres alimentando e reforçando a mentalidade negativista de nosso povo. Vamos deixar de incomodar o demônio, deixe-o em paz coitado!
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