Eu sou o bom pastor...
Como sempre, pedimos o
conhecimento interno do Senhor, para mais amá-lo e segui-lo.
Contemplá-lo e segui-lo loucamente, como discípulos. Participar da sua proposta
e missão. Assumir a vontade de Deus, manifestada no coração, pelo Espírito
Santo que me consola. São tantos os dons e as graças!
Pela contemplação dos mistérios da
vida de Jesus acontece uma revelação personalizada... Contemplo para
que me seja revelado o mistério da sua pessoa. E assim, humilde e
livremente, numa atitude de escuta, vamos nos configurando a Jesus, o enviado
do Pai. Ele nos “cristifica.”
Alegre, e com o coração a arder, recolho
dados para descobrir o meu lugar, e a missão que ele quer me confiar. Vou escolhendo o que o Senhor quer para mim. Ao mesmo tempo, descubro também as falácias e os enganos
do “inimigo”, pois me apresenta propostas aparentemente boas, mas que tiram
a paz e a alegria e me conduzem para o mais negativo de mim mesmo. Estas outras
propostas atraem para o lado oposto do Evangelho. Por isso, quando vou na direção oposta da tentação, encontro o Senhor
e até tiro algum proveito das próprias tentações.
A contemplação da Vida de Jesus
aplicada à própria vida é bem real e nada alienada. Nos encontramos,
quando encontramos o Senhor; vivo, quando Ele vive em mim! Ele se deu a
mim, eu me dou a ele. Amor com
amor se paga!
Paulo dizia: Depois que tive
a graça de conhecer Jesus todas as coisas viraram esterco! (Fl 3,8). A
contemplação interpela: põe em cheque ou confirma a situação concreta do
exercitante. Leva-nos a superar, no amor de Cristo manifestado na consolação, nossos
condicionamentos e traumas: Há muito que aprofundar em Cristo, porque
Ele é como uma mina abundante com muitas cavidades cheias de tesouros, que por
mais que afundem nunca lhes encontram fim nem termo, antes em cada cavidade vão
encontrando novas veias de novas riquezas... (S. João da Cruz: Cântico
Espiritual. Ofício das Leituras: 14/DEZ).
Textos para contemplar durante a
semana:
- Mc 10, 46-52: O cego Bartimeu...
- Mc 5, 1-20: Possesso e os porcos...
- Mc 5, 21-43: Filha de Jairo e a mulher doente...
- Lc 7, 36-50: Conversão de Maria Madalena...
- Jo 4, 1-42: Encontro com a Samaritana...
- Jo 10, 17-18: Eu sou o Bom Pastor...
E finalizo minha oração com um
colóquio de amizade com Jesus ou com
N. Senhora, conforme os pensamentos e sentimentos que surgiram na contemplação.
NOTE e ANOTE: Na
contemplação inaciana nos deparamos com um processo, onde estão envolvidos o
exercitante e Deus. A comparação que responde mais à realidade não é o das
modernas cadeias de montagem, mas o das escavações para extração de minérios
preciosos. Na cadeia de montagem, a pessoa tem mais domínio do processo, pois na
esteira de montagem, são colocadas as diversas peças, já de antemão preparadas,
até chegar ao produto final.
Na contemplação não acontece assim. Nesse processo entra outra pessoa, Deus que nos ama apaixonadamente.
Nossos projetos podem evaporar diante da iniciava gratuita de Deus. Ele conhece
também perfeitamente todo nosso ser, e sabe o que nos convém.
A comparação das escavações nos ajuda
a compreender melhor a contemplação. Há
a nossa parte: escavamos, nos preparamos... Atentos, descobrimos a presença
do metal precioso, como também da ganga que perturba e pode até enganar. De
improviso deparamos com veios preciosos. É o momento de cavar fundo e de
saborear.
Nos preparamos e dispomos para
encontrar o que tanto queremos: o encontro com o Senhor! Aqui entra
o desejo de orar, o recolhimento, o preparar a matéria da oração e ilustrá-la
com algum texto da Bíblia. Na contemplação entra o nosso “ver” e “escutar”, participando
da cena. De improviso, brota aquele dom gratuito que aquece o coração: Não
estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo caminho? (Lc
24,32).
Depois da nossa busca, vem a
manifestação gratuita da presença do Senhor. Alguma coisa é mais esclarecida e
sentida. Aumenta a fé, a esperança e somos impulsionados a
amar mais efetivamente. Brota uma alegria e paz que nos tranquiliza no Senhor.
Saboreando estes momentos, podemos
chegar a sentir a presença do Senhor, que nos convida a participarmos da sua
missão. O mesmo Criador e Senhor se comunica à sua alma devota, abrasando-a
(ou abraçando-a) em seu amor e louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor
poderá servi-lo depois (EE 15).
Livre de influências externas S.
Inácio alerta para o uso desordenado de nossas qualidades ou tendências.
Todos podemos ter desejos ou inclinações desordenadas, por isso nos empenhamos
para chegar ao contrário daquilo, a que somos mal inclinados. Procuramos o
equilíbrio e a disponibilidade para o Senhor.
A contemplação inaciana leva a uma
efetiva resposta aos desejos do Senhor. Somos atraídos e movidos pelo Senhor a
nos comprometer com a sua missão, na parte que ele quer nos confiar. A oração
está no âmbito da experiência; não da conceituação. Quem a experimenta, a
conhece. Experiência da atuação do Espírito: de Deus e do espírito do mal.
15ª Anotação: aquele que dá
os exercícios não deve induzir o exercitante mais à pobreza nem
a qualquer promessa, do que aos seus contrários, nem a um estado ou modo de
viver, mais do que a outro. Pois, ainda que, fora dos exercícios, possamos
lícita e meritoriamente induzir todas as pessoas, que apresentem provável
idoneidade a escolher continência, virgindade, vida religiosa e todas as formas
de perfeição evangélica, em tais exercícios espirituais, contudo, é
mais conveniente e muito melhor que, procurando a vontade divina, o mesmo
Criador e Senhor se comunique à sua alma devota, abrasando-a em seu amor e
louvor e dispondo-a para o caminho em que melhor poderá servi-lo
depois. Portanto, quem dá os exercícios não se volte nem se incline a uma ou
outra parte; mas, permanecendo em equilíbrio como o fiel de uma balança deixe
o Criador agir diretamente com a criatura e a criatura com seu Criador e Senhor (EE 15).
16ª Anotação: Para este fim, isto
é, para que o Criador e Senhor atue mais seguramente em sua criatura, é muito
conveniente - se porventura tal alma estiver afeiçoada ou inclinada a uma coisa
desordenadamente - empenhar-se, empregando todas as suas forças, em chegar ao contrário
daquilo, a que se vê mal inclinada (EE 16).
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