Entrevista com o Pe. Geral da Companhia de Jesus Adolfo Nicolás ...
O Sínodo pode ser lido como o cumprimento do Concílio
Vaticano II?
Acredito que é exatamente isso que o papa quer. Francisco deseja viver o
Concílio. Há muitas forças que afastaram um pouco, distantes do modo de
pensar das pessoas, e Francisco está
ciente disso. Ele quer que o Concílio seja uma realidade e não haja mais esse
para a frente e para a trás, para a frente e para a trás, mas que a Igreja vá
em frente, porque a humanidade vai em frente e não se pode esperar...
O papa, na homilia de abertura, citou o
Concílio duas vezes...
Também nas apresentações dos Padres sinodais recorrem as referências. Eu
acredito que seja um retorno ao Concílio muito sólido.Também nas apresentações dos Padres sinodais recorrem as referências. Eu
acredito que seja um retorno ao Concílio muito sólido.
Em que aspecto?
Fala-se da Igreja, do fato de que estamos em um mundo imperfeito e as
pessoas estão lutando. Especialmente a família, o matrimônio, são uma
verdadeira ginástica. Aqui se vê que há pastores preocupados com a situação
real, não com ideias abstratas. A questão não é mais como comunicar ou forçar
as pessoas a seguir uma vida ou outra, mas como escutar, acompanhar: esse é o
aspecto que mais se sente.
Há resistências?
Há alguns boatos, naturalmente... Afinal, o papa nos pediu para sermos
livres. Mas o tom é este: acompanhamento, escuta...
O senhor falava dos trabalhos. E em
relação aos divorciados em segunda união?
Sim, certamente. Houve quem falasse, citando o Vaticano II, da gradualidade: é preciso ser
positivo e ver as coisas boas, mesmo que a forma não seja perfeita. Não se pode
buscar apenas o perfeito ou nada. Há muitos graus...
Um princípio inaciano: buscar Deus em
todas as coisas...
Sim, na espiritualidade de Inácio, sempre há um
crescimento, e o crescimento sempre pressupõe uma gradualidade. Não crescemos
de repente. E o mundo não é preto e branco.
Mesmo em um casal de fato ou casado
civilmente em segundas núpcias, há coisas boas?
Naturalmente. Isso não foi dito na Aula,
mas nas conversas alguém me disse: é melhor um casal que se quer bem do que um
casal em que não há amor, não há nada, mesmo que tenham sido completados todos
os ritos da Igreja. É melhor que haja alguma coisa. Isso é ter gradualidade,
ver as coisas de maneira positiva. Não buscar a perfeição. Quando eu estava na
Ásia, eu sempre ouvia repetir que, para a mentalidade ocidental, europeia, o perfectum é quando tudo é
perfeito; ao invés, se houver um defeito qualquer, já não é bom, é mau. Pois bem, penso que isso
seja demasiado. Se há algo de bom que pode crescer, é preciso alimentá-lo,
alimentar a vida em todos os campos.
O cardeal Martini dizia: "A
pergunta sobre se os divorciados podem fazer a comunhão deveria ser invertida:
como a Igreja pode chegar a ajudá-los, com a força dos sacramentos?".
É assim. Martini ofereceria uma
contribuição ao Sínodo. Alguém me dizia: quem chegou a se divorciar sofreu
dificuldades, sofrimentos, e justamente daqueles que mais precisam de um
remédio nós o tiramos! Não, isso não pode ser.
E quem diz que a doutrina não pode
mudar?
Sobre isso, houve uma declaração clara: o problema não é doutrinal, mas
de acompanhamento. O que Cristo disse,
ele o disse; os nossos princípios vêm de lá. No entanto, como alguns na Aula
explicaram muito bem, sempre há um
espaço para a interpretação, e esse espaço é pastoral. Os exegetas fazem um
grande serviço à Igreja, mas disseram a sua palavra e estão um pouco exaustos.
A questão continua sendo pastoral. Não se trata de redefinir nada, mas de encontrar
uma linguagem, uma experiência diferente.
O papa advertia: não carreguem sobre as
costas das pessoas "pesos insuportáveis".
Isso é evangélico. Na Espanha, eu vi uma
caricatura: havia um padre desesperado, com as mãos na cabeça: "Que
horror, temos um papa que crê no Evangelho!"
Haverá alguma mudança?
Eu acho que sim, uma linha de maior abertura: não falar de princípios,
mas encontrar a realidade, acompanhar as pessoas.
O que significa para um jesuíta como
Bergoglio, estar à escuta do Espírito?
É toda a vida inaciana. Aqui está a revolução de Santo Inácio: escutar o Espírito. A Inquisição não ficou contente demais,
examinaram-no oito vezes, oito! Porque, se
você ouve o Espírito, você não está vinculado a normas ou a coisas que os
homens fizeram. Eles viam um homem livre, e isso não era bom! O Espírito
sopra onde quer e você ouve a sua voz, mas não sabe de onde vem nem para onde
vai. E isso lhe dá uma liberdade enorme.
(Publicada no jornal Corriere della Sera, 08/OUT/2014)
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