Por onde eu passo vou deixando pedaçõs de mim...
Meu pai é pedófilo!... Foi o que ela me disse sem olhar para os meus olhos. Palavras frias, cortantes que me chegaram como gelo. Ele teve um filho com a minha irmã... Comigo não, pois era muito pequena... Ela falava como alguém que já tinha verbalizado isso muitas vezes ao terapeuta, para tirar a dor, o desencanto e o trauma. Discretamente olhei para seus olhos e os vi lacrimejar. Tinham-se passado já muitos anos, talvez até 50.
A pessoa que falava comigo era uma mulher bonita,
sorridente, solteira, aposentada e de bem com a vida; pessoa aparentemente não
piedosa, mas profundamente religiosa. A
vida me aproximou de Deus!
Aos 12 anos fui abandonada na rua... Meu Deus, como é possível? - pensei estremecido. Nada
perguntei, respeitando o mistério e a dor... Comi
o pão que o diabo amassou, mas sempre senti que Deus estava comigo... Muitas
vezes fui usada e abusada! Estudei, me formei e sai daquela miséria... Sorriu, como se sentindo vencedora
do mal que vivenciara. Tudo
ficara distante no tempo, mas parecia como se fosse ontem o que experimentara.
O tempo cicatriza todas as feridas, mas
não apaga os sentimentos. Só o
amor de Deus os cura...
Na pedofilia há sempre duas vítimas: a
criança e o adulto. Eu
escutara apenas uma...
O que fazer?
É corajosa a atitude de reconhecer (e acolher) o pedófilo ou abusador, também, como vítima. Há um incrível preconceito por parte dos próprios psicólogos, que se recusam a atender um pedófilo que busca ajuda, rotulando-o como portador de uma "doença sem cura". Infelizmente, existem pouquíssimos centros, no mundo, que oferecem tratamento para a pedofilia, como os ambulatórios no ABC paulista e Hospital das Clínicas. Talvez, um dado nos ajude a olhar para essas pessoas com um olhar diferente: a imensa maioria dos pedófilos foram crianças abusadas um dia...
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