Vivemos
numa sociedade pós-moderna e secularizada. Isso significa
que após os desenganos das ciências e da política que contribuiu para a crítica
do mítico e do religioso, próprio das sociedades evoluídas, parece ressurgir novamente um sentimento
religioso natural, embora difuso e pouco institucional, motivado mais pela
beleza dos nossos ritos do que pela verdade dos seus conteúdos. Refluxo do secularismo? Volta-se àquela
pertença religiosa quase perdida? O tempo dirá quais serão os desdobramentos.
Sem desmerecer as
conquistas antropológicas conseguidas com a dessacralização de realidades outrora
importantes, assistimos hoje a uma busca,
mais ainda, a uma experiência pessoal do Transcendente no íntimo das realidades
cotidianas. Não só as pessoas se declaram hoje menos agnósticas como também
mais religiosas do que alguns anos atrás. Segundo Tony Blair (*1953), político
britânico: “a
fé religiosa terá, no século 21, o mesmo peso que a ideologia política teve no
século vinte”.
A perda dos grandes
sonhos e narrativas, que por séculos impregnaram de sentido a vida, trouxe um
deslocamento benéfico do sagrado enclausurado nos Templos, para o dia-a-dia das
pessoas. O crepúsculo do religioso forçado
pela cultura racional e secularizada, resultou
numa explosão do sagrado no coração do cotidiano. É na vida que encontramos,
sem muitas mediações, o Senhor ressuscitado! A maioria das pessoas não sabe nem
quer viver sem Deus, pois o sentem próximo, quase ao alcance das mãos. O totalmente Outro faz parte indivisível da
nossa existência.
O discurso unidimensional,
dominante por décadas, deu lugar ao pluralismo de propostas que irmanam e
convidam para uma partilha fraterna. O “diferente”, espontaneamente encontrado,
dá sentido e colorido à própria vida. O pluralismo
cultural, ético e até religioso é estranhamente mais evangélico do que o
cultivo pseudomoralista do pensamento único. Aproximação, diálogo e carinho
são realidades que todos entendem, e gostam de receber.
Você já percebeu que as
pessoas se afastam espontaneamente daqueles que tudo parecem saber e pouco ou
quase nada querem compartir? Esta diversidade de vivências pessoais gera
cultura e é ao mesmo tempo um convite para aprofundar a própria existência nos
relacionamentos partilhados. É na
gratuidade do amor, nesses espaços abertos e diferenciados que a experiência do
sagrado espontaneamente germina e se experimentar.
Na
recepção afetuosa do desigual sentimos a gratuidade e a força do Transcendente
sempre presente. Descobrir Deus no humano e limitado, no
distante e no pequeno é um aprendizado enriquecedor e inesquecível. Dessa
forma, não só há um diálogo copioso entre a Fé e as Culturas, mas também descobrimos
sentidos profundos nessa vinculação.
O diferente descoberto
não só completa à pessoa como também é divino na sua unicidade e beleza.
Fé
e cultura têm tudo a ver um com o outro. Que a nossa fé se
traduza em gesto fraterno e o nosso gesto em diálogo amigo.
Sem
fé nossas culturas empobrecem.
0 comments:
Postar um comentário