Confesso
que a mística sempre me seduziu, não sei se por sua proximidade com Deus ou por seu limite
com a sanidade mental. A união com Deus é a expressão máxima da mística, por
isso os mártires e os monges entraram na lista dos discípulos mais amados.
A mística cristã é essencialmente uma relação afetiva com o
Senhor Jesus. Não é pela razão, pela cabeça, que encontramos Deus, mas
pelo amor, pelo coração. Os fenômenos
extraordinários (êxtase, transe, visões, audições, glossolalias, etc) são
estranhos à tradição judaica. Eles aconteciam mais nas religiões pagãs e
mistéricas do que no povo de Israel. E
essa aureola enigmática exercia grande atração e sedução nos mais fracos e
desavisados na fé.
Se algum cristão de hoje desse maior importância aos
estados extraordinários da consciência experimentados ou percebidos do que à
vivência da caridade, seria certamente suspeito de alguma anomalia patológica e
convidado amigavelmente a visitar um psiquiatra. O místico não pode ser
avaliado pela estranheza das possíveis manifestações (visões, audições,
transes, etc), mas pelo seu relacionamento pessoal com o Senhor Jesus e sua
coerência evangélica.
São muitos os que no passado entraram nessa lista do
discipulado místico. Lembro só alguns: Orígenes (185-254), Pseudo-Dionísio (480-535), Gregório o Grande (+604), João Escoto Erígena (810-877), Mestre Eckhart OP (1260-1328), Francisco de Osuna OFM (1492-1540),
Bernardo de Claraval O.Cist.
(1090-1153), Hildegarda de Bingen OSB
(1098-1179), Boaventura OFM
(1221-1274), Tomás de Aquino OP
(1225-1274), Enrique de Suso (1295-1366),
Pedro de Alcântara OFM
(1499-1562), João de Ruysbroek (1293-1381), Teresa de Jesus OCD (1515-1582), João da Cruz OCD (1542-1591), etc. Muitos deles foram santos;
poucos se perderam no que viviam e experimentaram.
Os místicos sempre foram olhados com suspeita por parte da
autoridade eclesial e com fervor pelo povo. A
perseguição é nota
recorrente em todos. Mal entendidos pelos de fora, e por dentro também sofridos
pelas lutas fenomenais que eles chamavam de noite: a noite
dos sentidos, a noite do espírito... Escuridão
imensa no sentir e até no crer.
Acredito que muitos dos fenômenos experimentados pelos
verdadeiros místicos tinham uma base natural, física (esgotamento, problemas cardíacos,
alucinações...), mas, a partir disso experimentavam também uma verdadeira presença
de Deus que se traduzia em gesto de amor e ajuda fraterna. Sem caridade
não há mística nem discipulado.
Viver a fé sem amor coloca sob suspeita sua esperança
no Senhor.
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