Logo que soube da oportunidade
de trabalhar com os refugiados da guerra, no norte de Kenya, pedi aos
superiores para conhecer de perto essa realidade africana e o trabalho dos SJR
(ajuda dos jesuítas aos refugiados). Assim, depois de finalizar o ano acadêmico
em Roma, embarquei junto com um companheiro jesuíta da Birmânia, para o Kenya. Ao chegarmos em Nairobi, embarcamos
novamente, desta vez, num pequeno avião que nos trouxe para a fronteira com
o Sudão do Sul, Uganda e Etiópia. Região
quase que completamente desértica.
O lugarejo, que abriga um campo
de refugiados com mais de 180 mil pessoas se chama Kakuma. Aqui vivo, num alojamento, junto aos funcionários do SJR. Apesar de
não haver nenhum jesuíta trabalhando entre eles, os mesmos assumem a missão com
intensa dedicação e consciência de serviço. O alojamento possui 24 horas de segurança e não nos permitem que
caminhemos, sem sermos acompanhados dentro do campo. Pois, entre os refugiados,
existe constante perigo de terroristas infiltrados.
Durante o dia dedico o tempo visitando nossos 4 centros de formação
acadêmica, proteção de menores, ajuda a pessoas com
necessidades especiais e aconselhamento. Confesso que estes 25 dias, que já se
passaram, não foram nada fáceis. Tive
contato com situações que me deixaram tremendamente abalado. Dentre elas
destaco duas: uma criança de 9 anos que
veio ao meu encontro e com o pouco inglês que conseguia pronunciar, me disse: "Eu tenho fome todos os dias!" A
outra situação aconteceu alguns dias atrás. Quase assisti a um linchamento de uma jovem que estava sendo
castigada por se embriagar e esquecer o neném que trazia consigo.
Essas e outras
situações que tenho presenciado me fazem tocar o chão frio e áspero da
realidade. Não é possível ficar
indiferente. Não me deixam dormir bem. Encontrar com tantas pessoas que
fugiram dos seus países em busca de sobrevivência, me faz pensar nas palavras
que o Papa Francisco dirigiu aos teólogos: "Não se pode fazer teologia trancados num gabinete...". Talvez
seja esta a grande labor da Igreja hoje: Nao
temer às periferias, apesar dos imensos riscos que existem nelas. Aqui tenho
a consciência de que, para entrar nesta fronteira preciso estar disposto a me
machucar.
Olhos e coração se ferem constantemente por aqui. Mas, creio que não exista outro modo mais "seguro" de humanizar-se
do que estar perto desta gente sofrida. (Bruno Franguelli SJ)
precisamos nos desinstalar....e sair ao encontro dos mais necessitados...com muita e autentica liberdade interior...AMDG
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