Movido pelo desejo de
Vos servir...
Movido pelo desejo de Vos servir... Esta frase da fórmula dos votos na Companhia de Jesus chamou minha atenção desde a
primeira vez que a li, e resume a
experiência de humanização que estou vivendo. Olhar para minha história com
o terno olhar da Trindade fez com que eu me sentisse amado e com o desejo de sair das profundezas de meu egoísmo, para
encontrar o Outro nos outros.
Como satisfazer tão grande desejo? Acredito que sendo Jesuíta: religioso e
presbítero.
Tal desejo foi ganhando forma ao longo dos meus
38 anos de vida. Nasci em
Santo André/SP, filho de nordestinos que buscavam uma vida melhor longe da
desumanizada e esquecida região nordeste do Brasil. Minha família voltou para o
nordeste e aqui fui criado, entre os estados de Sergipe e Alagoas.
Com 15 anos de idade ingressei no Seminário Menor da
Arquidiocese de Aracaju. O desejo de ser
presbítero começava a surgir. Durante este período, descobri a vida religiosa
e meu desejo se ampliou. Fui apresentado à Companhia de Jesus por jovens
jesuítas que faziam missão de férias no bairro Santa Maria, onde minha família
ainda hoje mora. Fiquei encantado porque eram
jovens religiosos que seriam padres, mas tinham algo diferente, amavam a nós,
os pobres; tinham profundidade de vida, uma sincera alegria e não eram
medíocres, sentiam-se à vontade em todos os lugares, entre ricos e pobres... Eles eram livres!
Comecei, pois, a me perguntar: o que eles encontraram?! Depois de um tempo de discernimento, ao
longo dos estudos de filosofia no Seminário Maior da Arquidiocese, pedi ao
arcebispo permissão para fazer uma experiência de discernimento na Comunidade
Vocacional em Fortaleza. Em seguida, fui ao noviciado da Companhia de Jesus em
Feira de Santana/Ba. Então, descobri por que aqueles primeiros jovens jesuítas
que conheci eram daquele jeito tão humano... tão cristão!
Precisei de um longo tempo para descobrir e acolher que o
desejo do Deus não esmagava meu desejo, mas que o meu desejo era potencializado
no desejo d´Ele! Afinal, parece que Deus
e eu temos o mesmo desejo: ser plenamente humano! Se Deus não quisesse ser
humano, não haveria o Mistério Pascal!
Sou um “peregrino” desde o ventre materno! Mudei de estado, cidades, projetos... Sou
alguém em movimento! Mas, o que me move? A experiência de Deus em Jesus Cristo,
feita com os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, que fez com que
eu me sentisse profundamente amado pelo Deus trino e terno e com o desejo de
responder a tamanho amor amando-O nos outros.
Movido pelo desejo de servir ao Senhor que me aparece com
tantos rostos: os desolados, os encarcerados, os pobres... como aparece em Is
61,1-3 “O espírito do Senhor me ungiu.
Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações
feridos, para proclamar a libertação dos escravos e dar liberdade aos
prisioneiros...”.
Descobri-me desejoso de servir ao Senhor, mas também me descobri na Companhia de outros
que têm o mesmo desejo, descobri-me Igreja de Jesus Cristo.
Como fazer tal serviço com companhia e na
Companhia sem me esquecer da criatividade e sem mediocridade? Aqui aparece a figura de Pe. Anchieta, que me
foi apresentado ainda na infância, como inspiração. Anchieta aprendeu a língua
dos indígenas e usou a arte no serviço de tornar realidade o desejo de Deus. Atualmente,
precisamos falar as linguagens contemporâneas e usar a arte como expressão do
desejo do Deus Jesus Cristo. Particularmente,
gosto da força da Palavra.
A poesia me aproximou ainda mais de Anchieta e de outro grande poeta:
Jesus Cristo. Ele usava da linguagem
poética para dizer qual era o desejo Pai. Acredito que escutar a Palavra do
Pai que é Jesus Cristo, cheia de desejos, fez com que eu olhasse para dentro e
para fora de mim mesmo e gritasse: Ó Deus
trino e terno, agora sei e sinto que sou “movido pelo desejo de Vos servir...
Belo testemunho de caminhada espiritual.
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