Testemunho de um jovem jesuíta: Pe. Franklin A. Pereira, Mestrado em Teologia Bíblica/Roma...

Movido pelo desejo de Vos servir...

Movido pelo desejo de Vos servir... Esta frase da fórmula dos votos na Companhia de Jesus chamou minha atenção desde a primeira vez que a li, e resume a experiência de humanização que estou vivendo. Olhar para minha história com o terno olhar da Trindade fez com que eu me sentisse amado e com o desejo de sair das profundezas de meu egoísmo, para encontrar o Outro nos outros.

Como satisfazer tão grande desejo? Acredito que sendo Jesuíta: religioso e presbítero.

Tal desejo foi ganhando forma ao longo dos meus 38 anos de vida. Nasci em Santo André/SP, filho de nordestinos que buscavam uma vida melhor longe da desumanizada e esquecida região nordeste do Brasil. Minha família voltou para o nordeste e aqui fui criado, entre os estados de Sergipe e Alagoas.

Com 15 anos de idade ingressei no Seminário Menor da Arquidiocese de Aracaju. O desejo de ser presbítero começava a surgir. Durante este período, descobri a vida religiosa e meu desejo se ampliou. Fui apresentado à Companhia de Jesus por jovens jesuítas que faziam missão de férias no bairro Santa Maria, onde minha família ainda hoje mora. Fiquei encantado porque eram jovens religiosos que seriam padres, mas tinham algo diferente, amavam a nós, os pobres; tinham profundidade de vida, uma sincera alegria e não eram medíocres, sentiam-se à vontade em todos os lugares, entre ricos e pobres... Eles eram livres!

Comecei, pois, a me perguntar: o que eles encontraram?! Depois de um tempo de discernimento, ao longo dos estudos de filosofia no Seminário Maior da Arquidiocese, pedi ao arcebispo permissão para fazer uma experiência de discernimento na Comunidade Vocacional em Fortaleza. Em seguida, fui ao noviciado da Companhia de Jesus em Feira de Santana/Ba. Então, descobri por que aqueles primeiros jovens jesuítas que conheci eram daquele jeito tão humano... tão cristão!

Precisei de um longo tempo para descobrir e acolher que o desejo do Deus não esmagava meu desejo, mas que o meu desejo era potencializado no desejo d´Ele! Afinal, parece que Deus e eu temos o mesmo desejo: ser plenamente humano! Se Deus não quisesse ser humano, não haveria o Mistério Pascal!

Sou um “peregrino” desde o ventre materno! Mudei de estado, cidades, projetos... Sou alguém em movimento! Mas, o que me move? A experiência de Deus em Jesus Cristo, feita com os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, que fez com que eu me sentisse profundamente amado pelo Deus trino e terno e com o desejo de responder a tamanho amor amando-O nos outros.

Movido pelo desejo de servir ao Senhor que me aparece com tantos rostos: os desolados, os encarcerados, os pobres... como aparece em Is 61,1-3 “O espírito do Senhor me ungiu. Ele me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e dar liberdade aos prisioneiros...”.

Descobri-me desejoso de servir ao Senhor, mas também me descobri na Companhia de outros que têm o mesmo desejo, descobri-me Igreja de Jesus Cristo. 

Como fazer tal serviço com companhia e na Companhia sem me esquecer da criatividade e sem mediocridade? Aqui aparece a figura de Pe. Anchieta, que me foi apresentado ainda na infância, como inspiração. Anchieta aprendeu a língua dos indígenas e usou a arte no serviço de tornar realidade o desejo de Deus. Atualmente, precisamos falar as linguagens contemporâneas e usar a arte como expressão do desejo do Deus Jesus Cristo. Particularmente, gosto da força da Palavra.

A poesia me aproximou ainda mais de Anchieta e de outro grande poeta: Jesus Cristo. Ele usava da linguagem poética para dizer qual era o desejo Pai. Acredito que escutar a Palavra do Pai que é Jesus Cristo, cheia de desejos, fez com que eu olhasse para dentro e para fora de mim mesmo e gritasse: Ó Deus trino e terno, agora sei e sinto que sou “movido pelo desejo de Vos servir...


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