Acho que devo uma explicação às centenas de
pessoas que me escreveram nos
últimos dias perguntando o que eu tinha e desejando minha pronta recuperação.
Pois bem, queridos amigos, o que eu tive
foi um surto depressivo agudo (19/AGO/2015). Minutos antes de começar o
programa de rádio da quarta-feira retrasada eu simplesmente sofri um colapso, um apagão aqui no estúdio.
Nada na minha cabeça fazia sentido. Nenhum texto era compreensível. Os
pensamentos não fechavam e uma pressão insuportável dava a nítida sensação de
que o peito ia explodir. Fiquei
completamente desnorteado e achei melhor me refugiar no meu camarim e esperar
socorro médico. Quando finalmente minha doce Veruska me levou ao doutor e
eu descrevi o que estava sentindo ele foi categórico em dizer que era
depressão. Que o estado de pânico, a
balbúrdia mental, a insegurança e tudo mais eram sintomas clássicos do surto
depressivo.
Quem cai num quadro desses perde qualquer
condição de continuar ativo, de pensar as coisas mais simples. A pessoa morre
ficando viva.
E eu fiquei
impressionado nestes dias com a quantidade de gente que sofre do mesmo
problema. Quando contei a alguns ouvintes que me ligaram o que estava
acontecendo, muitos disseram já ter passado por isso, ou conhecer alguém que
ainda passa ou já passou.
O Barão me mostrou um vídeo produzido pela ONU
indicando que esse fenômeno é global. Uma amiga minha citou números da
Organização Mundial da Saúde afirmando que a
depressão é a doença que mais cresce no mundo. E o Bruno Venditti me mandou
um texto muito bom do pregador Élder Holland sobre o assunto.
Tanto o vídeo da ONU quanto esse texto deixam
claro que é importante não esconder a
doença, não esconder a depressão. Não tratá-la na clandestinidade. É importante aceitá-la para combatê-la
- e todo o silêncio, do próprio doente ou de quem está à sua volta, dificulta a
recuperação. Essa necessidade de não fazer segredo, além da sinceridade que
faço questão de manter na relação com os ouvintes, é a razão deste depoimento
pessoal.
O texto que eu li fala do “transtorno
depressivo maior” lembrando que isso não significa apenas um dia ruim, ou um
contratempo, ou momentos de desânimo ou ansiedade, que são coisas que todos
temos normalmente.
A depressão é muito mais que isso e muito mais
séria. É uma aflição tão severa que
restringe a capacidade de uma pessoa funcionar plenamente, um abismo mental
tão profundo que ninguém pode achar que vai se safar apenas endireitando os
ombros ou pensando coisas positivas.
Não,
minha gente, essa escuridão da mente e do estado de espírito é mais do que um
simples desânimo. É um desequilíbrio da química cerebral, algo
tão físico quanto uma fratura óssea, ou um tumor maligno. É um fenômeno que
atinge todo mundo: quem perde um ente querido, mães jovens com depressão
pós-parto, estudantes ansiosos, militares veteranos, idosos de uma maneira
geral e pais preocupados com o sustento da família.
A
depressão não escolhe vítimas por seu grau de instrução ou situação econômica. Castiga
sem piedade e da mesma forma pobres e ricos, anônimos e famosos.
Os
médicos que estão me tratando disseram que eu estiquei a corda demais, que fiz
mais coisas do que deveria fazer e em menos tempo do que seria razoável. Eu fui
além dos limites que minha saúde permitia e ignorei todos os sinais físicos e
avisos domésticos.
Quantas vezes a minha doce Veruska me disse: "Você vai pifar! Você vai pifar!"
O texto que eu li ensina que para prevenir a
doença da depressão é preciso estar atento aos indicadores de estresse em sua
própria vida. Assim como fazemos com nosso carro, é fundamental observar a
temperatura do nosso motor interno, os limites de nossa velocidade, ou o nível
de combustível que temos no tanque. Quando ocorre a “depressão por exaustão”,
que foi o meu caso, é preciso fazer os ajustes necessários. A fadiga é o
inimigo comum e recuperar forças passa a ser uma questão de sobrevivência.
A
experiência mostra que, se não reservarmos um tempo para nos sentirmos bem, sem
dúvida depois teremos que dispender tempo passando mal. E foi o
que aconteceu. Mas a cura existe. Às vezes requer tratamentos demorados. Mas,
como está no texto que eu li, "mentes
despedaçadas também podem ser curadas, assim como corações partidos".
Eu sei que quem liga o rádio numa estação de
notícias quer receber informações de interesse geral, quer saber da política,
da economia, dos acidentes, do engarrafamento nosso de cada dia.
Então peço desculpas por não entregar nada
disso a vocês neste papo inicial no dia de minha volta. Nada de impeachment, de
renúncia, de Cunha, de Renan, de inflação, do ajuste fiscal e de tantas outras
coisas que só têm feito infernizar nossas vidas mas que são as manchetes do
momento.
Não falei neste bate papo nem mesmo das
abobrinhas de que eu gosto tanto e que nos ajudam a cumprir a jornada diária
sofrendo menos. Este papo de hoje é
sobre depressão. Um mal que afeta milhões de pessoas, milhares delas no
Brasil, um mal sobre o qual é preciso estar informado e não fazer segredo. Como eu agora me
descobri fazendo parte dessa população doente, pensei muito nas noites sem
dormir dos últimos dias e tomei a decisão de dividir essa experiência com
vocês. Se com isso eu conseguir ajudar
algum ouvinte a prevenir a depressão ou a curá-la, já me dou por satisfeito.
E
toca o barco.
Quanto à Depressão ou Pânico que no caso das duas doenças está vem primeiro, só tenho uma coisa a dizer: Nunca mais serás o mesmo, nunca mais deixarás de frequentar psicologo ou psiquiatra. Terás que aprender a CONVIVER com está infeliz doença. Aprenderás muito, mais sofrerás demais. E a única solução para não chegares a uma situação extrema é considerar profundamente a FÉ, considerar profundamente que o suicídio poderás prejudicar ainda mais o seu espírito doente.
ResponderExcluirMuito interessante o texto. Já passei por isso, e mesmo após o tratamento, sinto que de vez em quando ela quer voltar. É preciso força pra não sucumbir novamente.
ResponderExcluirTenho depressão crônica! A gente não pode abusar dos limites, mas faço vida quase normal com ajuda do remédio... Eu aprendi a ser mais humano com ela! rsss
ResponderExcluirEu sou uma depressiva crônica. Desde criança, já sentia uma tristeza infinita, uma melancolia que se estendeu durante a adolescência, melhorou quando me casei, tive filhos e uma vida muito ativa como profissional. Consegui trabalhar durante 42 anos, mas quando me aposentara (já tinha sido abandonada pelo marido), senti que minha vida tinha acabado. Hoje, faço tratamento, já tive um surto violento por excesso de medicação, mas, com a idade, solidão, desprezo dos que me cercam e outras coisas mais, fica difícil deixar que "o demônio do meio dia" te abandone. Enfim, o jeito é aprender a viver com isso, uma doença terrível, e tentar ainda encontrar alguns prazeres na vida...
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