Os sons do silêncio... (Anônimo)

Grande é quem descobre a insignificância das coisas e das pessoas...

Muitos anos atrás, quando entrei na Companhia de Jesus, o meu Mestre de noviços, missionário na China, contou a seguinte história:

Um dia, num país distante, o rei mandou seu filho estudar no templo de um sábio com o objetivo de prepará-lo para ser um grande líder. Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para a floresta. Ele deveria voltar um ano depois, e descrever todos os sons da floresta...

E assim foi. Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então o príncipe disse:

- Mestre, eu pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o assobiar do vento, o sussurro das águas dos rios...

Ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe voltasse à floresta para ouvir tudo o que ainda fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando:

- Na floresta há outros sons que eu ainda não ouvi...

Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... Mas, não conseguia distinguir nada além daquilo que já havia relatado ao mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, tênues, quase imperceptíveis, diferentes de tudo o que ouvira antes... E, quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Ele pensou:

- Esses são os sons que o mestre queria que eu ouvisse?... Realmente são os mais belos!

E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente... Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. Paciente e respeitosamente, o príncipe disse:

- Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível: o som das flores se abrindo, o som do sol aquecendo a terra, e o da grama bebendo o orvalho da noite... Esses sons me extasiaram!

O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:

- Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma pessoa significativa e ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas... Agora você está pronto para viver! E acrescentou:

- A morte começa quando as pessoas ouvem apenas o audível, sem prestar atenção aos sentimentos e desejos, o lado mais extraordinário e admirável do ser humano.

Uma pergunta: Você "vê", sente e "ouve" o inaudível?