O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília de 27 a 29 de outubro de 2015, comprometido com a vivência democrática e
com os valores humanos, consciente de que é dever da Igreja cooperar com a sociedade para a construção do bem
comum, manifesta-se acerca do momento
de crise na atual conjuntura social e política brasileira.
A permanência
e o agravamento da crise política e econômica, que toma conta do Brasil,
parecem indicar a incapacidade das instituições republicanas que não encontram
um modo de superar o conflito de
interesses que sufoca a vida nacional, e que faz parecer que todas as
atividades do país estão paralisadas e sem rumo. A frustração presente e a
incerteza no futuro somam-se à desconfiança
nas autoridades e à propaganda derrotista, gerando um pessimismo contaminador,
porém, equivocado, de que o Brasil está num beco sem saída. Não nos deixaremos
tomar pela “sensação de derrota que nos
transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre”
(Papa Francisco – Alegria do Evangelho, 85).
Somos todos convocados a assegurar a
governabilidade que implica o funcionamento
adequado dos três poderes, distintos, mas harmônicos; recuperar o crescimento sustentável; diminuir as desigualdades; exigir
profundas transformações na saúde e na educação; ampliar a infraestrutura, cuidar das populações mais vulneráveis,
que são as primeiras a sofrer com os desmandos e intransigências dos que
deveriam dar o exemplo. Cada protagonista terá que ceder em prol da construção
do bem comum, sem o que nada se obterá.
É preciso garantir
o aprofundamento das conquistas sociais com vistas à construção de uma
sociedade justa e igualitária. Cabe à sociedade civil exigir que os governantes
do executivo, legislativo e judiciário recusem terminantemente mecanismos
políticos que, disfarçados de solução, aprofundam
a exclusão social e alimentam a violência, entre os quais o estado penal seletivo, as tentativas de
redução da maioridade penal, a
flexibilização ou revogação do Estatuto
do Desarmamento e a transferência da
demarcação de terras indígenas para o Congresso Nacional. No genuíno
enfrentamento das atuais dificuldades pelas quais passa o país, não se pode
abrir espaço para medidas que, de maneira oportunista, se apresentam como
soluções fáceis para questões sabidamente graves e que exigem reflexão e discussão mais profundas com a sociedade.
A superação da crise passa pela
recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo
que resulte num compromisso comum entre os responsáveis pela administração dos
poderes do Estado e a sociedade. O
Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético e moral de
favorecer a busca de caminhos que recoloquem o país na normalidade. É
inadmissível alimentar a crise econômica com uma crise política irresponsável e
inconsequente.
Recorde-se que “uma
sociedade política dura no tempo quando, como uma vocação, se esforça por
satisfazer as carências comuns, estimulando o crescimento de todos os seus
membros, especialmente aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade
ou risco. A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas”
(Papa Francisco ao Congresso dos EUA). Nesse sentido, com o espírito profético
inspirado na observância do Evangelho, a CNBB reitera que o povo brasileiro, os trabalhadores e, principalmente, os mais pobres
não podem ser prejudicados em nome de um crescimento desigual que reserva
benefícios a poucos e estende a muitos o desemprego, o empobrecimento e a
exclusão.
A construção de pontes que favoreçam o diálogo
entre todos os segmentos que legitimamente representam a sociedade é condição
fundamental para a superação dos discursos
de ódio, vingança, punição e rotulação seletivas que geram um clima de
permanente animosidade e conflito entre cidadãos e grupos sociais. Esse clima belicoso, às vezes alimentado
por parte da imprensa e das redes sociais, poderá contaminar ainda mais os
corações e mentes das pessoas, aprofundando abismos e guetos que,
historicamente, maculam nossa organização social. Ao aproximar-se o período
eleitoral de 2016, é responsabilidade de todos os atores políticos e sociais,
comprometidos com a ética, a justiça e a paz, aperfeiçoarem o ambiente democrático para que as eleições não sejam
contagiadas pelos discursos segregacionistas que ratificam preconceitos e
colocam em xeque a ampliação da cidadania em nosso país.
A corrupção se tornou uma “praga da sociedade” e um “pecado grave que brada aos céus” (Papa Francisco - O rosto da
misericórdia, n.19). Acometendo tanto instituições públicas, quanto da
iniciativa privada, esse mal demanda uma atitude forte e decidida de combate
aos mecanismos que contribuem para sua existência. Nesse sentido, destaca-se a
atuação sem precedentes dos órgãos públicos aos quais compete combater a
corrupção. A contraposição eficaz à corrupção e à sua impunidade exige, antes
de mais nada, que o Estado cumpra com
rigor e imparcialidade a sua função de punir igualmente tanto os corruptos como
os corruptores, de acordo com os ditames da lei e as exigências de justiça.
Deus nos dê a força e a sabedoria de seu Espírito,
a fim de que vivamos nosso ideal de construtores do bem comum, base da nova
sociedade que almejamos para nós e para as futuras gerações.
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília-DF
Presidente da CNBB
Arcebispo de Brasília-DF
Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de São Salvador da Bahia- BA
Vice-presidente da CNBB
Arcebispo de São Salvador da Bahia- BA
Vice-presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília-DF
Secretário Geral da CNBB
Bispo Auxiliar de Brasília-DF
Secretário Geral da CNBB
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