O ano que acaba merece a qualificação latina de annus nefastus ou annus
horribilis. Ocorreram tantas calamidades que, além de espanto, causam
preocupações. Não obstante, esperamos confiantes
pelo irromper do annus propicius.
Preocupações? A Sobrecarga da
Terra ocorrido no dia 13/SET. Neste dia, a Terra revelou que seu estoque de
suprimentos ultrapassou os limites. Ela
perdeu sua bio-capacidade, e os sinais que envia é de que não aguenta mais:
secas, enchentes, tufões e até o aumento da violência no mundo. Tudo está interligado,
como repete insistentemente o Papa Francisco.
Associado a este fato, é ilusório
o consenso alcançado no dia 12/DEZ com a COP21, em Paris: o aquecimento
deveria ficar abaixo de 2º Celsius rumando para 1,5º até o fim do século. Isso
implica numa troca de paradigma não mais baseado em combustíveis fósseis. As
grandes petroleiras e os fornecedores de gás e carvão não querem essa conversão.
A ideia é retórica e a promessa vazia.
O terceiro evento nefasto é
a violência terrorista na Europa, na África e
os milhares de refugiados. Fontes seguras nos atestam a vitimação de
milhares de civis inocentes.
Outro evento nefasto é
a transformação dos EUA num estado terrorista. Com suas 800 bases
militares distribuídas no mundo inteiro, intervém direta ou indiretamente, lá
onde percebem seus interesses ameaçados. A polícia americana matou, em 2015,
cerca de mil pessoas desarmadas, 60% das quais eram negros ou latinos.
Outro fato horribilis é
a corrupção na Petrobrás em altíssimo nível e em consequência o surgimento de uma onda de ódio, raiva e decepção.
Esse antagonismo, sempre mantido sob o manto ideológico do “brasileiro cordial”, saiu do armário e
se mostra na mídia social. A expressão “homem cordial” nada a ver com a
civilidade e polidez, mas com a nossa aversão aos ritos sociais e aos salamaleques;
somos pela informalidade e a proximidade.
Trata-se de um
comportamento que se rege antes pelo coração do que pela razão. Ora, do coração
nasce a gentileza e a hospitalidade, mas também as inimizades.
Esse equilíbrio frágil se perdeu em 2015 e irrompeu o ódio, o preconceito e a raiva contra
militantes do PT, nordestinos e negros. Nem as figuras constitucionalmente
respeitáveis foram poupadas. A internet abriu as portas do inferno da injúria,
do palavrão, da ofensa direta das pessoas.
Raiva contra os pobres e contra os que ascenderam socialmente, graças às
politicas sociais compensatórias (mas pouco emancipatórias) do governo do PT.
Os antagonismos se mostraram claramente, e a
ruptura social no Brasil nos custará muito costurá-la, a partir de uma real
democracia participativa.
O que nos vale é a nossa
superabundância de esperança na
direção de um annus propicius.
Que Deus nos ouça.
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