A Teologia Negra dialoga com a Teologia
da Libertação, pelo viés da libertação de um racismo camuflado..
No Brasil tem avanços no que tange às
políticas públicas, embora incipientes. Nas relações sociais enquanto sociedade,
nosso avanço é mínimo. Não basta apenas garantir acesso à educação, é preciso
levar em consideração que o racismo é
estruturante na sociedade brasileira, arcabouço sobre o qual todo um país e
sua cultura foram construídos.
O racismo está inserido em todas as formas de relações da sociedade, e faz isto de maneira sorrateira, mais danosa, que consegue se imiscuir em meio às
relações sociais, sem ser notado, identificado ou reconhecido. As políticas de combate ao racismo, e as
punições daí recorrentes têm sido feitas, mas até se reconhecer um crime de
racismo como fato consumado, é difícil, e acaba sendo raro.
Temos essa situação paradoxal: o enquadramento legal se amplia, se
aprimora, mas a capacidade de punir quem
comete racismo é mínima.
É cultural a dissimulação permanente do
racismo. Todo esforço, inclusive dos nossos pesquisadores e intelectuais, está
em enfatizar a desigualdade
econômica, não a racial. Nosso dilema, para eles, tem seu núcleo no conflito entre ricos
e pobres, e o racismo seria periférico. O Brasil
continua fingindo que enfrenta o racismo e que ele não faz parte da estrutura
da sociedade brasileira, mas acontece apenas como atos individuais, casos
isolados.
Pensemos só no século XIX, para não ampliar os casos que
fazem parte da nossa história. Não foram
os pobres que ficaram proibidos, em 1824, de frequentar escolas (alegava-se que eram transmissores de doenças), mas os negros. Não foram os pobres
que foram convocados em massa para a Guerra
do Paraguai (1864-1870), mas os negros. E falamos de cerca de 1 milhão de negros
mortos.
Os brancos europeus eram
estimulados a entrarem no país para ocuparem postos de trabalho e ajudarem no processo de embranquecimento do país. Os negros, a partir de junho de 1890,
só podiam entrar com autorização do Congresso (que sempre negava).
Não foram
simplesmente os pobres que foram lançados às ruas, com a Lei do Sexagenário e a
Lei do Ventre Livre, mas os velhos negros e as crianças negras. Primeiros contingentes de mendigos e recolhidos para abrigos, no Brasil.
Critério de posses? Não. Você vê uma
escolha pelo corpo negro. Como agir como se esse lastro histórico não tivesse importância?
E você, o que pensa?
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