“Jesus, no deserto, era guiado pelo
Espírito...” (Lc 4,1)
Segundo a tradição, a primeira imagem da tentação foi uma maçã. Seu atrativo aroma
penetrou até os tutanos de nossos ancestrais e eles caíram na armadilha da superficialidade. Tempos
depois, somos tentados pelo superficial do prestigio e do acúmulo de bens.
A tentação
está sempre ai, como maçã ou como pedras
que se convertem em pães, como aplauso fútil, ou como joelhos
dobrados diante de um ídolo.
Livra-nos
Senhor desses “espelhismos” que prometem vida e escondem o vazio!
Ser tentado pelo de fora é próprio dos
humanos, mas o divino pode ser encontrado em nosso interior. Quem se deixa
conduzir pelo Espírito é acessa sua própria interioridade e não se deixa
enredar pelos estímulos externos.
Precisamos
“conhecer-nos a fundo”,
ter a experiência de si mesmo, da região profunda da qual sem cessar tiramos,
como de um poço, a água viva, a energia, e as certezas para viver.
Vivemos um contexto social e cultural que não favorece o contato profundo consigo
mesmo. Seduzido por apelos vindos
de fora o ser humano se esvazia, perde a interioridade e se desumaniza. Tudo se torna líquido: o amor, as relações, os valores, a ética, as
grandes causas...
O Evangelho de hoje diz que Jesus se
deixava conduzir pela força do Espírito. Ele vive uma integração a partir de
seu coração e não se deixa levar pelas aparências enganosas exteriores.
As “tentações de Jesus” não são
tanto uma prova a superar quanto um projeto que deve ser discernido.
Jesus,
depois do batismo, buscou o
deserto para um tempo de discernimento, em oração, em solidão, diante do Pai
que o proclamou seu Filho. Ele teve de refletir e discernir sobre que tipo de
messianismo assumiria em sua vida pública. Tempo de confronto interior, e de
crise.
Como
viver a missão e a partir de quê lugar? Como agir?
Jesus
não quer um messianismo que reduza o ser humano a um consumidor de pão; este precisa
também do alimento da Palavra de Deus. Em vez de seduzir o povo com prodígios e
espetáculos, Jesus prefere a proximidade
do tu a tu, na convivência criativa e nos encontros humanizadores. Jesus não buscará o poder da dominação
política. Preferirá o caminho do serviço.
O
caminho de Jesus é absolutamente novo. Nem impressionar, nem seduzir, nem
dominar a liberdade do ser humano. Só
servir.
Uma pergunta: Qual é sua tentação e sedução?
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