Eu vi os céus abertos e o Filho do homem...
No grego εἰκών (eikon) significa
imagem. A tradição cristã
ortodoxa afirma que os ícones religiosos
são janelas para a eternidade (Eudokimov). Não se olha a janela, mas, pela
janela se olha o panorama externo. O ícone nos abre os olhos e o coração
para o eterno ali configurado.
Na contemplação natural do ícone, os devotos entram em
contato com a realidade divina de modo privilegiado. É também diante deles que os cristão se colocam sob o cuidado de Deus. É um exercício mútuo de revelação, de
um relacionamento amoroso no qual ambas as partes se contemplam silenciosa e
misericordiosamente. O divino se revela quando tiramos as máscaras e revelamos aquilo que
somos.
Não podemos separar o ícone da teologia e da oração. Se o ícone vira apenas arte, perde o seu sentido. Os ícones expressam
um conteúdo da fé cristã. O iconógrafo não é livre para pintar, pois
deve obedecer à linguagem da fé explicitada pela Igreja e sentida no seu coração. Embora a Verdade seja uma, sua
expressão é múltipla. Vendo a imagem ingressamos no eterno.
O Apóstolo João inicia sua Carta
declarando que escreve “o que ouvimos, e o
que vimos” (1Jo1,1). O acústico do judeu ouvimos
se une ao visivo do grego. Essa unidade se dá no Cristo, imagem (ícone verdadeiro!) do Pai que falou e foi visto.
O iconógrafo pode
ser comparado ao sacerdote que celebra a liturgia: “Ali está presente a graça de Deus, pois o representado é santo!”
(Simeão, o Teólogo). “O sacerdote nos
apresenta o Corpo do Senhor com os ofícios litúrgicos, com a força das
palavras. O pintor o faz por meio da imagem...” (Manual para os
pintores de ícones). Do mesmo modo que o sacerdote se recolhe em oração antes
de celebrar os mistérios, o iconógrafo vive um tempo de
jejum (pão, água e sal) buscando a purificação interior e reza o mistério que vai desenhar. A primeira
pincelada é sempre a da cor branca, simbolizando a Luz que o iluminará e dará
resplendor ao ícone.
Quem contempla um ícone se transforma, ele mesmo, em ícone da graça do Senhor.
O ícone faz que a nossa oração seja dirigida
ao Pai: passa-se do typos (imagem)
ao protótypos (pessoa
pintada) e dele ao archetypos (Deus
Pai, origem de todo bem). Contemplando o ícone da Mãe de Deus (typos) me elevo
à Mãe de Deus (protótypos) e chego ao Pai, origem de todos os mistérios. É um caminho espiritual.
O ícone, comunica pensamentos e sentimentos transfigurados do orante.
Diante de um ícone, os devotos acendem uma lamparina. A fumaça vai ocultando os traços luminosos do ícone. As preces feitas
diante dele também o vão recobrindo de mistério. Chegará um dia em que a imagem não se verá
mais com clareza. Nesse dia não
estaremos mais diante de um ícone, mas dentro dele.
Você é um ÍCONE de JESUS!
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