Belo
Horizonte, 28 de março de 2016.
Prezados membros
da Comunidade Acadêmica da FAJE,
Paz!
Em tempos de forte polarização social e política, de crise econômica e, sobretudo, moral e espiritual, dirijo a vocês uma palavra de esperança. Ao percorrer os jornais dos últimos dias, os sites de Universidades e outras organizações da Sociedade civil, encontrei alguma consolação, em meio a tanta desolação e perplexidade. Refiro-me à crescente convergência de posições sobre a atitude e as medidas que Sociedade e governo devem adotar para superar a crise que nos abala.
Em tempos de forte polarização social e política, de crise econômica e, sobretudo, moral e espiritual, dirijo a vocês uma palavra de esperança. Ao percorrer os jornais dos últimos dias, os sites de Universidades e outras organizações da Sociedade civil, encontrei alguma consolação, em meio a tanta desolação e perplexidade. Refiro-me à crescente convergência de posições sobre a atitude e as medidas que Sociedade e governo devem adotar para superar a crise que nos abala.
Admito que esta
convergência de posições não é majoritária, mas ela se manifesta entre
estudiosos do campo político, econômico e social, entre jornalistas e juristas,
e pessoas de boa vontade. E nós sabemos o que pequenos grupos de homens e
mulheres livres são capazes de realizar, quando nos recordamos, por exemplo,
dos inícios do cristianismo.
Minha
intenção é partilhar com todos, em forma de breves tópicos claros e
simplificados, as lufadas de esperança
que recebi. São posturas que eu também defendo e proponho para nossa
Comunidade e para o país. São lâmpadas que não solucionam o problema, mas nos
ajudam a caminhar sem tropeçar, na noite que nos envolve. Cada tópico abaixo
pode ser corrigido ou completado por todos. Agradeço de antemão as reações que desejarem me enviar.
1. A primeira
convergência diz respeito à vontade de que haja punição adequada, a partir de
investigação respeitosa e julgamento justo, dos chamados “crimes do colarinho
branco”. Trata-se de uma convergência forte e volumosa, apoiada na urgência de
revitalizar o respeito da Sociedade pelos poderes que articulam o Estado
brasileiro. E, portanto, alicerçada na urgência desta mesma Sociedade se
refazer em sua unidade nacional.
2. A segunda
convergência é de crítica da anterior e se dirige a toda Sociedade. Recorda que
punir adequadamente não pode significar condenar o acusado antes de julgá-lo.
E, sobretudo, não pode visar à destruição pública do réu, mas à sua restauração
por meio do serviço em prol da reconstrução social. No que diz respeito à
condenação prévia, aliás, esta não ocultaria, caso agentes políticos a
promovessem, alto grau de prevaricação visando à tomada do poder?
3. A terceira
convergência consiste numa oposição à “midiatização” nauseante das
investigações em curso. O martelar inconsequente e constante de notícias
escandalosas apenas aumenta o desconsolo social. A busca do bode expiatório
para os males do país não apresenta, em realidade, nenhuma solução inovadora.
Veicular informação é dever dos meios de comunicação social, em prol da
democracia, mas este dever se converteria em desserviço caso a intensidade mal
dosada e os “recortes” tendenciosos provocassem perplexidade, paralisia ou
revolta, ao invés de ação e criatividade.
4.
Outra convergência fundamental refere-se à urgência
de reequilibrar e harmonizar as relações entre os poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário. Muitos afirmam haver hoje um desequilíbrio, ao
menos simbólico, consequência da midiatização dos escândalos, o que tem
conduzido a um descrédito crescente dos poderes Executivo e Legislativo. O
Judiciário torna-se, então, o principal ator político, com risco para o
equilíbrio das forças articuladoras do Estado, que se encontram distribuídas
entre os três poderes da República. Há, em consequência, um apelo forte para
que os membros dos três poderes se unam e se harmonizem, novamente, a fim de
fortalecer as instituições públicas que compõem o Estado de direito. Isto
exigirá que se elevem acima das polarizações presentes, para buscar o diálogo e
o entendimento, entre os poderes e entre governo e oposição. E no que diz
respeito aos poderes Executivo e Legislativo, a recuperação de sua autoridade
exigirá ações claras, por meio de reformas fundamentais, como é o caso de uma
Reforma Política que torne mais autêntica a representação dos cidadãos nestas
duas esferas, sobretudo, na esfera legislativa.
5. A quinta
convergência diz respeito ao risco do ódio à política, que cresce em todos os
estratos da Sociedade.
Assusta ouvir cidadãos esclarecidos declarar seu desencanto completo com as
mediações políticas e levantarem a bandeira das “soluções imediatas”, leia-se
ditatoriais. Na realidade, o mais provável, caso a atitude apolítica prevaleça
nas próximas eleições, é que abramos caminho para oportunistas e espertalhões
ocuparem o poder. E isto ninguém quer.
6. Finalmente,
muitos afirmam a urgência de tecermos novamente a frágil tenda da ética. Um dos
sentidos da palavra “ética”, como todos sabem, é o de morada protetora. Viver
valores éticos é encontrar-se envolvido por aquilo que guia as relações humanas
e garante os vínculos sociais. Esta morada, hoje em dia, assemelha-se a uma
frágil tenda. A crise ética e espiritual que atravessamos a corroeu, quando
desvalorizou o peso da palavra dada, conduzindo ao desencanto com os valores
guias da convivência social, como a igualdade e a justiça. A negação prática
recorrente dos valores em que se funda a democracia solapa o sentido das
palavras, transforma-as em invólucros vazios. Como falar em verdade se líderes
políticos e sociais mentem àqueles que os apoiam? Como falar em justiça, se
esta é desprezada em nome de interesses escusos? Como falar em igualdade se
alguns julgam que estão acima da lei e do direito? Esta situação escandalosa
precisa ser enfrentada se quisermos restabelecer o tecido ético de nossa
Sociedade.
Entre
nós, não deve ser assim. A questão ética
é urgente e seu enfrentamento supõe engajamento pessoal e comum. Nossa
Comunidade Formativa precisa tornar-se, de modo lúcido e decidido, um lugar de
experimentação moral e criatividade espiritual, de justiça e misericórdia. Sem
o esforço paciente de nos fazermos melhores não iremos adquirir as convicções
que serão fundamentais para cumprirmos nosso papel na reconstrução do país e na
superação das crises, presente e vindouras.
As convergências
que apontei acima trazem esperança, mas não garantem nada. O apelo que
faço à Comunidade da FAJE, e que estendo a todos que leem esta carta, é que
cultivemos os vínculos sociais, inspirados nos valores do Evangelho. As
instituições brasileiras demonstram força o suficiente para superarem a crise
presente. Mas o que as mantém, interna e externamente, são as convicções
pessoais dos membros da sociedade. Coloquemos as nossas a serviço de todos.
Há excessiva
polarização em muitos discursos, blogs, facebooks, jornais e redes sociais. Os ânimos, sem
dúvida, precisam ser acalmados para que a justiça seja feita e a ordem social
renovada. Não podemos admitir violência entre grupos pró e contra o atual
governo, por exemplo, pois ela seria apenas um ingrediente a mais da crise a
avolumar-se. No entanto, acalmar-se e cessar a violência não basta. É preciso
que nos movamos criativamente na busca de soluções para o futuro próximo do
país, tecendo uma cultura da Paz.
Cito apenas
alguns exemplos de tarefas que nos cabe cumprir, para contribuir na abertura do
futuro.
Em todos estes exemplos, Filosofia e Teologia têm sua contribuição a dar, ao
lado de outras ciências e de múltiplos atores sociais e políticos:
a) Precisamos
desenvolver novos modelos de relações sociais num mundo plural. Há uma
pluralidade difusa em nosso país. Pense-se, por exemplo, nas diferenças
regionais ou, mais ainda, nas 274 línguas diferentes que falam os cerca de 900
mil indígenas brasileiros. O respeito da pluralidade supõe uma sociedade que
aprende a dialogar com a diferença, que acredita na fecundidade do argumento e
da colaboração, ao invés de buscar igualar a todos a um mesmo padrão cultural
ou de consumo.
b) Neste
sentido, precisamos encontrar alternativas para o modelo desenvolvimentista que
marcou a economia brasileira ao longo do século XX, sobretudo, a
partir da década de 30. Não se trata de negar o desenvolvimento econômico, mas
de torná-lo compatível com a preservação do meio ambiente, com a existência da
agricultura familiar, com o respeito das fontes e nascentes, contra a privatização
da água etc.
c) Precisamos
recordar o sentido do político e religar os poderes da República à Sociedade. A recordação do
sentido não é tarefa luxuosa, mas o que realmente pode guiar as práticas do
poder rumo a mais justiça. E a ligação deste à Sociedade é a condição mínima
para que as decisões se ajustem à realidade, ao invés de esmagá-la ou
ignorá-la.
d) Precisamos,
enfim, apoiar e promover a qualificação da educação infantil e juvenil.
Os
exemplos poderiam multiplicar-se, mas estes bastam para evocar as grandes
tarefas que nos chamam. Creio que o estudo da Filosofia e da Teologia
beneficiam-se de horizontes desafiantes, que nos conduzem a uma apropriação
original do que lemos e discutimos, sejam textos e contextos dos séculos
passados, sejam questões da última hora.
Conto com todos
para apoiarmos o Brasil neste momento de sofrimento e superação. Somos uma
pequena comunidade. Tenhamos a ousadia de nos tornarmos sementes que germinam
esperança, quando guiadas pela luz humilde da Ressurreição.
P. Álvaro Mendonça Pimentel SJ
Reitor da FAJE
Reitor da FAJE
* Os destaques em negrito são do blog.
O que mais sobra nos dias de hoje são auto-proclamados pacificadores, que se dizem isentos e chama todos à mesa pra conversar.
ResponderExcluirSendo católico, creio que a primeira coisa é que os líderes da Igreja se posicionem e reconheçam seu papel no cenário atual, seja por omissão seja por promoção do mal travestido de bem (por ingenuidade ou má fé). Um exemplo "menor" mas ilustrativo? Diante de todo o quadro atual já vi padre fazer proselitismo profundamento partidário ao invés de homilia, e o mais incrível: com base em carta da CNBB a qual foi fiel.
Com todo respeito, repito, se fazer de isento e falar obviedades não contribui em absolutamente nada, talvez ajude no exame de consciência de alguém, só.
O que num tempo de ausência de referências na sociedade, mas em especial dentre as lideranças da Igreja, precisamos de posicionamentos duros e intransigentes em favor da ética, da justiça (sem interferências e paixões, como vemos no STF), de caminhos cristãos e posições pró vida; tudo isso é ausente na liderança de nossa Igreja, o povo cada vez menos vê Deus em seus líderes que se tornam cúmplices dos males que nos acometem.
Que a Faje e os jesuítas não sigam o exemplo da CNBB politiqueira, tantos bispos e padres que deixam de comungar com Cristo pra comungar com o comunismo.
Que o padre-reitor leve Cristo à sua instituição e lares daqueles que tem contato com a FAJE; sem relativismo e politicagem, mas como disse, intransigente na defesa dos valores cristãos que AINDA são expressos em nossa constituição.