Confesso
que me aproximei do texto da Exortação Apostólica Amoris Laetitia com certo receio. Receio por que, em geral, os textos oficiais da Igreja são cansativos e molestos.
O Amoris Laetitia é diferente?
Após
dois Sínodos polêmicos e atribulados (2014/2015) sobre o fato familiar, saiu a
tão esperada Exortação do Papa Francisco, com o belo nome de Amoris Laetitia, (A Alegria do amor) sobre
o amor na vida de família. Mas a vida familiar é múltipla e diversa.
A publicação foi de alegria para alguns, e de tristeza e frustração para outros, pois esperavam mais.
É humanamente impossível agradar todos os membros da Igreja. E o Papa optou por ficar do lado da doutrina tradicional da Igreja, e da grande maioria silenciosa para os quais o amor no âmbito familiar é feito de paixões passageiras,
consequências inesperadas e algumas infidelidades escondidas. A Exortação reforçou o sonho
de muitos, de constituir uma família estável, embora o façam na mínima expressão:
um filho, máximo dois ou nenhum.
A linguagem do texto é bem mais coloquial, quase doméstico e até existencial. Isso é bom. Outro ponto
importante é o aceno às minorias,
até agora tão excluídas e quase ignoradas das nossas pastorais pela sua situação fora das “normas”: Como os casais em nova união, e outras situações
atípicas de convivência e relacionamento humano. Não
é fácil conviver com o diferente!
Este aceno, embora pequeno, é importante e significativo. A igreja começa a
reconhecer situações diversas embora ainda não as aprove nem abençoe. Ninguém consegue,
por muito tempo, tampar o sol com a peneira! Um primeiro passo? Por que não “sacramentar” de uma vez por todas o
amor nas suas múltiplas manifestações? A
normativa deveria incluir todos, pois só existem pessoas humanas na sua
realidade possível e complexa.
Quatro palavras chaves que o documento destaca: "Seguir a própria consciência"; "Acompanhar pastoralmente"; "Discernir cada caso" e "Sempre integrar e não excluir", pois somos sempre povo amado de Deus.
Quatro palavras chaves que o documento destaca: "Seguir a própria consciência"; "Acompanhar pastoralmente"; "Discernir cada caso" e "Sempre integrar e não excluir", pois somos sempre povo amado de Deus.
Para as famílias "regulares" eu diria: sejam sinal do amor sem defeito de Cristo para com a Igreja. E às "irregulares": Amem como puderem e mantenham sempre viva sua fé e comunhão eclesial, como fizeram até agora!
Deus nos ama!
E você, o que sentiu e pensou sobre a Exortação?
Deus nos ama!
E você, o que sentiu e pensou sobre a Exortação?
Amigo, uma leitura mais cuidadosa da Exortação me encheu de esperança, e está me fazendo refletir bastante. Francisco pode não ter mudado a doutrina, mas mudou radicalmente a forma como se encara a doutrina. Para ele, as normas devem ser um ideal, como "inspiração", mas de forma alguma uma forma de exclusão de quem não os alcança. Ele insiste nos conceitos do "bem possível" e da "gradatividade da pastoral", e na visão de que mesmo uma pessoa fora das normas possa viver na graça de Deus, devendo para isto ter a ajuda da Igreja como qualquer outra.
ResponderExcluirÉ um fato que pouca gente percebeu - inclusive a mídia, que deu muito pouca importância ao documento. Mas até mesmo a possibilidade de comunhão e confissão a recasados, "em certos casos", está claramente prevista, embora numa nota de rodapé - talvez para não causar muito tumulto (está na página 245). Mas um fato curioso é que Francisco não se propõe a enumerar esses "certos casos", deixando a interpretação a cargo do pastor local, privilegiando o contato pessoal e não a norma fria.
Trechos que achei realmente libertadores:
"304. É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir duma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta dum ser humano."
"É verdade que as normas gerais apresentam um bem que nunca se deve ignorar nem transcurar, mas, na sua formulação, não podem abarcar absolutamente todas as situações particulares. "
305. "Por isso, um pastor não pode sentir-se satisfeito apenas aplicando leis morais àqueles que vivem em situações «irregulares», como se fossem pedras que se atiram contra a vida das pessoas. É o caso dos corações fechados, que muitas vezes se escondem até por detrás dos ensinamentos da Igreja «para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas».349 Na mesma linha se pronunciou a Comissão Teológica Internacional: «A lei natural não pode ser apresentada como um conjunto já constituído de regras que se impõem a priori ao sujeito moral,
mas é uma fonte de inspiração objectiva para o seu processo, eminentemente pessoal, de tomada de decisão»."