“...mostrou-lhes
as mãos e o lado... (Jo 20, 11-19)
O relato do Evangelho
deste 2º domingo é sugestivo e interpelador. Quando Jesus ressuscitado
se faz presente, acontece uma profunda transformação no grupo dos seus
discípulos: eles recuperam a paz, desaparecem os medos, enchem-se de uma
alegria contagiante, sentem o “sopro” do Espírito em seus corações
infundindo-lhes ânimo e coragem, abrem as portas porque se sentem enviados à
mesma missão que Jesus tinha recebido do Pai.
A presença
misericordiosa é a marca do Ressuscitado: ela é força criadora
e reconstrutora de vidas despedaçadas. Jesus ressuscita cada um dos seus amigos
e amigas, ativando neles o sentido da vida, reconstruindo laços comunitários
rompidos e oferecendo solo firme a quem estava sem chão, sem direção.
Jesus reconstrói
pessoas feridas mostrando Suas chagas e desvelando as feridas de seus
seguidores (fracasso, traição, dor, tristeza, medos...). Suas
feridas revelam que, por debaixo das feridas dos seus amigos e amigas, há vida
escondida querendo se expandir; debaixo da pedra da dor e do fracasso há um
dinamismo vital querendo buscar um lugar ao sol.
João quis
reforçar a corporalidade da Ressurreição destacando o valor das chagas de Jesus.
O Senhor Ressuscitado continua sendo Aquele que leva em suas mãos e lado as
feridas de sua entrega, os sinais de seu amor crucificado em favor da
humanidade.
Este
Jesus pascal continua estando presente nas chagas dos homens e mulheres das
mãos esmagadas, na ferida do peito de homens e mulheres que sofrem rejeição e
preconceito, nas feridas dos pés de homens e mulheres impedidos de dar direção
às suas vidas.
Não há experiência
pascal sem um retorno à corporeidade de Cristo,
que continua sendo o mesmo Jesus histórico que morreu por fidelidade ao projeto
do Reino.
Jesus apresenta a seus
discípulos sua Carteira de Identidade: suas mãos chagadas e seu lado aberto.
O Ressuscitado é o Crucificado e o Crucificado é o Ressuscitado. Há uma
continuidade entre a Cruz e a Páscoa; não há rupturas, é a mesma identidade
pessoal.
As chagas revelam quem
é Jesus. Elas são o sinal e a expressão do seu amor, o amor
até o extremo, o amor até dar a vida. Essas mesmas chagas são as melhores
credenciais de todo seguidor de Jesus. Não amamos de verdade enquanto não mostremos
as feridas no serviço aos outros.
A cena do encontro do
Jesus Ressuscitado com Tomé revela a exigência de conversão de um tipo de
cristianismo puramente “espiritual”. Tomé se move fora do
espaço da dor de pessoas concretas, sem cruz real, sem comunidade aberta às
chagas da humanidade. Por isso, ele não está presente no 1º grupo que “viu”
Jesus e acreditou n’Ele.
Tomé é o apóstolo de
uma espiritualidade desencarnada, sem compromisso
social, sem denúncia profética, sem solidariedade com os pobres e excluídos.
Ele é um seguidor especial de Jesus, mas sem “carne e sangue”, ou seja, sem
ressurreição histórica, sem transformação da “carne”.
A Tomé lhe custa crer
na ressurreição do Jesus histórico, do Jesus das chagas nas mãos, pés e lado,
do Jesus da carne, do Jesus do povo crucificado. Provavelmente. Tomé crê no
Cristo glorioso, desligado da história de Jesus, sem chagas nas mãos, no peito
e nos pés: das mãos que tocaram os pobres e doentes, do coração que amou os
excluídos da sociedade, dos pés que romperam distâncias na direção dos chagados
do mundo.
Há sempre o perigo de
crer no Ressuscitado sem chagas em seus pés, mãos e lado.
Crer em Jesus sem as chagas é esquecer-se das feridas dos pobres, a morte dos
oprimidos.
Crer no Ressuscitado é
comprometer-se a tirar da Cruz todos aqueles que nela estão dependurados.
Tomé
não só “vê” a Jesus senão que é convidado
a tocá-Lo. Esta experiência de “conversão” de Tomé, que volta à comunidade
e que toca as chagas de Jesus, faz parte essencial do mistério da páscoa
cristã.
Tomé confessando que
Cristo que continua sofrendo nos pobres e sofredores.
O cristianismo não é uma espiritualidade desencarnada, mas uma religião da
“carne comprometida” e solidária.
Jesus diz a Tomé e a cada um de nós: Põe tua mão na chaga dos cravos, e no meu peito atravessado pela lança; descobre minha presença pascal na ferida dos crucificados da tua sociedade...
Jesus diz a Tomé e a cada um de nós: Põe tua mão na chaga dos cravos, e no meu peito atravessado pela lança; descobre minha presença pascal na ferida dos crucificados da tua sociedade...
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