1- Quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser
resolvidas através de intervenções
magisteriais. (3)
2- Devemos ser humildes e realistas, para reconhecer que às vezes a nossa maneira
de apresentar as convicções cristãs e a
forma como tratamos as pessoas ajudaram a provocar aquilo de que hoje nos
lamentamos, pelo que nos convém uma salutar reação de autocrítica. Além disso,
muitas vezes apresentamos de tal maneira o matrimônio que o seu fim unitivo, o
convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua ficaram ofuscados por uma
ênfase quase exclusiva no dever da procriação. Também não fizemos um bom
acompanhamento dos jovens casais nos seus primeiros anos, com propostas
adaptadas aos seus horários, as suas linguagens, as suas preocupações mais
concretas. Outras vezes, apresentamos um
ideal teológico do matrimonio demasiado abstrato, construído quase
artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas
das famílias tais como são. Esta excessiva idealização, sobretudo quando não
despertamos a confiança na graça, não fez com que o matrimonio fosse mais
desejável e atraente; muito pelo contrario. (36)
3- Durante
muito tempo pensamos que, com a simples insistência
em questões doutrinais, bioéticas e morais, sem motivar a abertura a graça,
já apoiávamos suficientemente as famílias, consolidávamos o vinculo dos esposos
e enchíamos de sentido as suas vidas compartilhadas. Temos dificuldade em apresentar o matrimonio mais como um
caminho dinâmico de crescimento e realização do que como um fardo a
carregar a vida inteira. (37)
4- Somos
chamados a formar as consciências,
não a pretender substituí-las. (37)
5- Muitas
vezes agimos na defensiva e gastamos
as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca
capacidade de propor e indicar caminhos
de felicidade. (38)
6- Nas
situações difíceis em que vivem as pessoas mais necessitadas, a Igreja deve por
um cuidado especial em compreender,
consolar e integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se
fossem uma pedra, tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e
abandonadas precisamente por aquela Mãe que é́ chamada a levar-lhes a
misericórdia de Deus. Assim, em vez de oferecer a forca curadora da graça e da
luz do Evangelho, alguns querem «doutrinar» o Evangelho, transformá-lo em
«pedras mortas para as jogar contra os outros. (49)
7- São
Paulo exprime-se em categorias culturais próprias daquela época; nós não
devemos assumir esta roupagem cultural, mas a mensagem revelada que subjaz ao
conjunto da perícope. (156)
8- A fé não nos tira do mundo, mas insere-nos mais profundamente nele. (181)
9- Quem se abeira do Corpo e do
Sangue de Cristo não pode ao mesmo tempo ofender aquele mesmo Corpo, fazendo divisões e discriminações escandalosas
entre os seus membros. (186)
10- Não
se deve esquecer que «a “mística” do
sacramento tem um caráter social». Quando os comungantes se mostram
relutantes em deixar-se impelir a um compromisso a favor dos pobres e
atribulados ou consentem diferentes formas de divisão, desprezo e injustiça,
recebem indignamente a Eucaristia. (186)
11- Lembro
o Dia dos namorados,
que, em alguns países, é melhor aproveitado pelos comerciantes do que pela
criatividade dos pastores. (208)
12- Hoje, a
pastoral familiar deve ser fundamentalmente missionária, em saída, por
aproximação, em vez de se reduzir a ser uma fabrica de cursos a que poucos
assistem. (230)
13- Os Padres sinodais afirmaram que a Igreja não
deixa de valorizar os elementos construtivos nas situações que ainda não
correspondem ou já não correspondem à sua doutrina sobre o matrimonio. (292)
14- Temos
de evitar juízos
que não tenham em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao modo em que as pessoas
vivem e sofrem por causa da sua condição. (296)
15- Ninguém
pode ser condenado para sempre, porque esta não e a lógica do Evangelho! Não me refiro só aos
divorciados que vivem numa nova união, mas a todos seja qual for a situação em
que se encontrem. (297)
16- Não
é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada «irregular» vivem
em estado de pecado mortal,
privados da graça santificante. (301)
17- Um
pastor não pode sentir-se satisfeito apenas aplicando leis morais aqueles que vivem em situações «irregulares»,
como se fossem pedras que se atiram contra a vida das pessoas. É o caso dos
corações fechados, que muitas vezes se escondem até por detrás dos ensinamentos
da Igreja «para se sentar na cátedra de Moises e julgar, as vezes com
superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas».
(305)
18- Em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos. Por isso, «aos
sacerdotes, lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas
o lugar da misericórdia do Senhor» E de igual modo assiná-lo que a Eucaristia «não
é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os
fracos». Nota 351
19- Lembremo-nos de que «um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a
vida externamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias
dificuldades. (305)
20- Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida, que não dê lugar
a confusão alguma; mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja
atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao
mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objetiva, «não renuncia ao
bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada». (308)
21- Os pastores, que propõem aos fieis o ideal
pleno do Evangelho e a doutrina da Igreja, devem ajudá-los também a assumir a lógica da compaixão pelas pessoas
frágeis e evitar perseguições ou juízos demasiado duros e impacientes. O
próprio Evangelho exige que não julguemos nem condenemos (cf. Mt 7, 1; Lc 6,
37). Jesus espera que renunciemos a procurar aqueles abrigos pessoais ou
comunitários que permitem manter-nos a distancia do nó do drama humano, a fim
de aceitarmos verdadeiramente entrar em contato com a vida concreta dos outros
e conhecermos a força da ternura. Quando o fazemos, a vida complica-se sempre
maravilhosamente. (308)
22- Às vezes custa-nos muito dar lugar, na
pastoral, ao amor incondicional de Deus.
Pomos tantas condições a misericórdia que a esvaziamos de sentido concreto e
real significado, e esta é a pior maneira de aguar o Evangelho. (311)
23- Por isso, convém sempre considerar inadequada qualquer concepção teológica que, em ultima
instancia, ponha em duvida a própria onipotência de Deus e, especialmente, a
sua misericórdia. (311)
24- Convido os pastores a escutar, com carinho e
serenidade, com o desejo sincero de entrar
no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, para
ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja. (312)
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