O centenário do falecimento do insigne poeta nicaraguense Rubén Darío, ocorrido em 6/2/1916, é oportunidade excelente para evocar traços
de sua luminosa vida e de seu relacionamento cordial com o Brasil.
Cavalgando sobre os séculos XIX e XX (1867-1916),
em menos de dez lustros de fascinante
trajetória, legou-nos mais de 1.000 páginas em verso e mais de 4.000 em prosa.
Sua estatura internacional comprova-se pelos aplausos calorosos recebidos já em
vida e também pelos estudos e pesquisas sobre sua obra, não só em castelhano,
mas também em idiomas tais como: alemão, francês, inglês, italiano, português e
russo. Entre seus muitos trabalhos primorosos estão: Azul (Chile, 1888), Prosas
Profanas (Argentina, 1896) e Cantos
de Vida y Esperanza (Espanha 1905). A boa acolhida de seus escritos na pátria
de Cervantes lembra o retorno dos galeões que transportavam ouro e prata da
América à Espanha.
Darío soube enaltecer feitos notáveis da
história dos povos que conheceu, assim como exortá-los à união e solidariedade.
Seus apelos aos da América Central são
validos para os de todos os continentes.
Na última década do século XIX Darío
familiarizou-se com o idioma de Camões. Seu
trabalho Eugenio de Castro y la Literatura
Portuguesa foi publicado em 1896 em Buenos Aires. Nele ressaltou: "Hay en el Brasil una literatura digna de la universal atención y del
estudio de los hombres de pensamiento y de arte".
Estando
no Chile, escreveu o elogioso artigo "El Crucero Brasileño
Almirante Barroso en Valparaíso", estampado em 3/2/1889 no periódico argentino
La Nación.
Rio de Janeiro foi escolhida para sediar, em 1906, a 3ª Conferência
Internacional Americana. Foi ela precedida
pelas de Washington (1889-1990) e do México (1901-1902). A bela capital do
Brasil estava saneada graças, particularmente, à eficiente gestão de Oswaldo
Cruz, que se valeu das pioneiras e exitosas experiências do médico cubano
Carlos Finlay no combate à malária.
Rubén Darío, membro da Delegação da Nicarágua; Joaquim Nabuco, Chefe da Delegação do Brasil; e outros
participantes, embarcaram em Lisboa no vapor inglês "Thames" com
destino à Baía da Guanabara. Nabuco foi, no início da Conferência, eleito seu Presidente.
Comentou o renomado autor mexicano Jaime Torres Bodet:
"Rio de Janeiro fue un oasis para
Darío. Nabuco, Fontoura Xavier, Elysio de Carvalho y otros escritores
brasileños lo acogieron no solo con fraternal simpatía sino con respeto y
entusiasmo" (Rubén Darío: Abismo
y Cima. México: Fondo, 1966, p. 192).
Darío escreveu esmerados artigos sobre os brasileiros Dom Pedro II,
Santos Dumont, Graça Aranha, Fontoura Xavier, Joaquim Nabuco. Lavrou inspirados versos dedicados ao Presidente da Academia
Brasileira de Letras, Machado de Assis, e à linda menina Ana Margarida, filha
do diplomata Fontoura Xavier. Entre as Coletâneas de tais Produções literárias
sobressai a do Embaixador nicaraguense Ernesto Gutierrez: Presença do Brasil na obra de Ruben Darío (1985).
Darío retornou ao Brasil na 1ª semana de junho de 1912. Era Diretor Literário das revistas publicadas em Paris: Mundial Magazine e Elegancia. Ponto alto de sua estada no Rio de Janeiro foi a
conferência que escreveu sobre Joaquim Nabuco. Para ouvi-la, compareceram o
Presidente da República Hermes da Fonseca e outras altas autoridades. Adoecendo
Darío, o texto foi lido por outra pessoa. Com rara perspicácia, retratou não só
o egrégio escritor e diplomata, mas também sua grandeza interior, humana e
religiosa.
Após essa viagem, Darío asseverou: O Brasil intelectual é de uma força e
intensidade dignas de maior fama no mundo. A lista de seus homens eminentes
ocupariam mais de uma página nossa. Basta-me citar Joaquim Nabuco, Rui Barbosa,
Machado de Assis, João Ribeiro, José Veríssimo, Araripe Júnior, Taunay, Graça
Aranha, Galvão, Olavo Bilac e tantos outros dignos de figurar em qualquer nação
europeia [...]
Há no Brasil numerosas homenagens ao “Príncipe dos Poetas Hispânicos”. Com seu nome, há numerosos logradouros e educandários. Em 1966, no cinquentenário
do seu óbito, os Correios do Brasil emitiram selo postal seu. Em fevereiro de
2016, no centenário, eles já prepararam outra homenagem da mesma natureza a
quem soube pregar a paz e a solidariedade entre os povos. A Associação Nacional de Escritores dedicará a ele sua 5ª Literária de
14 de abril.
Para
Darío o escritor clássico é contemporâneo de todas as épocas. Esse é o caso dele mesmo.
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