Caros irmãos,
O que me deixa particularmente contente ao abrir com vocês esta
Assembleia é o tema que vocês colocaram como fio condutor dos trabalhos – "A
renovação do clero" –, na vontade de apoiar a formação ao longo
das diversas fases da vida.
O Pentecostes recém-celebrado coloca essa meta de vocês na justa
luz. O Espírito Santo, de fato, continua sendo o protagonista da história da
Igreja: é o Espírito que habita em plenitude na pessoa de Jesus e nos
introduz no mistério do Deus vivo; é o Espírito que animou a resposta generosa
da Virgem Mãe e dos Santos; é o Espírito que age nos fiéis e nos homens de paz,
e suscita a generosa disponibilidade e a alegria evangelizadora de tantos
sacerdotes.
Sem o Espírito Santo – sabemos – não existe nenhuma
chance de vida boa, nem de reforma. Rezemos e comprometamo-nos a conservar
a Sua força, para que "o mundo do
nosso tempo possa receber a Boa Nova [...] de ministros do Evangelho cuja vida
irradie fervor" (Paulo VI,
EN,
n. 80).
Nesta tarde, não quero lhes oferecer uma reflexão sistemática sobre a
figura do sacerdote. Tentemos, em vez disso, inverter a perspectiva e nos
colocar em escuta, em contemplação. Aproximemo-nos, quase na ponta dos pés, de
algum dos tantos párocos que se consomem nas nossas comunidades; deixemos que o
rosto de um deles passe na frente dos olhos do nosso coração e perguntemos com
simplicidade: o que torna a sua vida
saborosa? Por quem e por que coisa ele empenha o seu serviço? Qual é a razão
última da sua doação?
Espero que essas perguntas possam repousar dentro de vocês no silêncio,
na oração tranquila, no diálogo franco e fraterno: as respostas que florescerem
os ajudarão a identificar também as propostas formativas para se investir com
coragem.
1. O que, portanto, dá sabor à vida "nosso" presbítero? O contexto cultural é muito diferente daquele em que ele deu os seus
primeiros passos no ministério. Também na Itália, muitas tradições,
hábitos e visões de vida foram afectadas por uma profunda mudança de época.
Nós, que muitas vezes nos encontramos deplorando este tempo com tom
amargo e acusatório, devemos perceber também a dureza dele: no nosso
ministério, quantas pessoas encontramos que estão ansiosas pela falta de
referência para se olhar! Quantas relações feridas! Em um mundo em que cada um se pensa como a medida de tudo, não há mais
lugar para o irmão.
Nesse pano de fundo, a vida do nosso presbítero se torna eloquente, por
ser diferente, alternativa. Como Moisés, ele é alguém que se aproximou
do fogo e deixou que as chamas queimassem as suas ambições de carreira e poder.
Ele fez uma fogueira também da tentação de se interpretar como um "devoto",
que se refugia em um intimismo religioso que, de espiritual, tem bem pouco.
Está descalço, o nosso padre, em
relação com uma terra que ele se obstina a crer e a considerar como santa. Ele não se escandaliza com as fragilidades que abalam a alma humana:
consciente de ser, ele mesmo, um paralítico curado, está longe da frieza do
rigorista, assim como da superficialidade daqueles que querem se mostrar
condescendentes de modo barato. Em vez disso, ele aceita se encarregar do
outro, sentindo-se partícipe e responsável pelo seu destino.
Com o óleo de esperança e da
consolação, ele se faz próximo de cada um, atento para compartilhar o abandono
e o sofrimento. Tendo aceitado não dispor de si
mesmo, não tem uma agenda para defender, mas entrega o seu tempo cada manhã ao
Senhor para se deixar encontrar pelas pessoas e ir ao seu encontro. Assim, o nosso sacerdote não é um burocrata ou um
anônimo funcionário da instituição; não é consagrado a um papel
empregatício, nem é movido pelos critérios da eficiência.
Ele sabe que o Amor é tudo. Não
busca assegurações terrenas ou títulos honoríficos, que levam a confiar no
homem; no ministério, não demanda nada para si que vá além da necessidade real,
nem está preocupado em amarrar em si mesmo as pessoas que lhe são confiadas. O
seu estilo de vida simples e essencial, sempre disponível, o apresenta credível
aos olhos das pessoas e o aproxima dos humildes, em uma caridade pastoral que
faz livres e solidários.
Servo da vida, caminha com o coração
e o passo dos pobres; é enriquecido pela sua convivência.
É um homem de paz e de reconciliação, um sinal e um instrumento da ternura de
Deus, atento a difundir o bem com a mesma paixão com que outros cuidam dos seus
interesses.
O segredo do nosso presbítero – vocês sabem bem disto! – está naquela
sarça ardente que marca a fogo a sua existência, conquista-a e conforma-a à de Jesus
Cristo, verdade definitiva da sua vida. É a relação com Ele que o protege,
tornando-o estranho à mundanidade espiritual que corrompe, assim como a todo
compromisso e mesquinhez. É a amizade
com o seu Senhor que o leva a abraçar a realidade cotidiana com a confiança
de quem crê que a impossibilidade do homem não permanece assim para Deus.
2. Assim, torna-se mais imediato enfrentar também as
outras perguntas a partir das quais começamos. Por quem o nosso presbítero empenha o seu serviço? A pergunta,
talvez, deve ser especificada. De fato, antes mesmo de nos interrogarmos sobre
os destinatários do seu serviço, devemos reconhecer que o presbítero é tal na
medida em que se sente partícipe da Igreja, de uma comunidade concreta com a
qual compartilha o caminho.
O povo fiel de Deus continua sendo o ventre do qual ele é tirado, a
família em que está envolvido, a casa à qual é enviado. Essa pertença comum,
que brota do Batismo, é a respiração que liberta de uma autorreferencialidade
que isola e aprisiona: "Quando teu
navio começar a criar raízes na estagnação do cais – recordava Dom Helder Câmara – faze-te ao largo."
Parta! E, acima de tudo, não porque você tem uma missão a cumprir, mas porque,
estruturalmente, você é um missionário: no encontro com Jesus, você
experimentou a plenitude de vida e, por isso, deseja com todo você mesmo que
outros se reconheçam n'Ele e possam conservar a Sua amizade, alimentar-se da Sua
palavra e celebrá-Lo na comunidade.
Aquele que vive pelo Evangelho entra, assim, em uma partilha virtuosa: o
pastor é convertido e confirmado pela fé simples do povo santo de Deus, com o
qual atua e em cujo coração vive. Essa pertença é o sal da vida do presbítero;
ela faz com que o seu traço distintivo seja a comunhão vivida com os leigos em
relações que sabem valorizar a participação de cada um.
Neste tempo pobre de amizade social,
a nossa primeira tarefa é a de construir comunidade; a atitude à relação, portanto, é um critério decisivo
de discernimento vocacional.
Do mesmo modo, para um sacerdote, é vital reencontrar-se no cenáculo do
presbitério. Essa experiência – quando não é vivida de maneira ocasional nem
por força de uma colaboração instrumental – liberta dos narcisismos e dos
ciúmes clericais; faz crescer a estima, o apoio e a benevolência recíproca;
favorece uma comunhão não só sacramental ou jurídica, mas fraterna e concreta.
No caminhar juntos como presbíteros, diversos por idade e sensibilidade,
expande-se um perfume de profecia que surpreende e fascina. A comunhão é realmente um dos nomes da
Misericórdia.
Na reflexão de vocês sobre a renovação do clero, também se enquadra o
capítulo que diz respeito à gestão das
estruturas e dos bens econômicos: em uma visão evangélica, evitem se sobrecarregar em uma pastoral de
conservação, que obstaculiza a abertura à perene novidade do Espírito.
Mantenham somente o que pode servir para a experiência de fé e de caridade do
povo de Deus.
3. Por fim, perguntamo-nos qual é a razão última da doação do nosso
presbítero. Quanta tristeza sofrem aqueles que,
na vida, estão sempre um pouco pela metade, com o pé levantado! Calculam,
sopesam, não arriscam nada por medo de se perder... São os mais infelizes! O
nosso presbítero, em vez disso, com os seus limites, é alguém que se joga até o
fim: nas condições concretas em que a vida e o ministério o puseram, ele se
oferece com generosidade, com humildade e alegria. Mesmo quando ninguém parece
notar. Mesmo quando intui que, humanamente, talvez ninguém vai lhe agradecer o
suficiente da sua doação sem medida.
Mas – ele sabe – não poderia fazer de outra forma: ele ama a terra, que
reconhece visitada todas as manhãs pela presença de Deus. É um homem da Páscoa, do olhar voltado ao Reino, rumo ao qual ele
sente que a história humana caminha, apesar dos atrasos, das obscuridades e das
contradições.
O Reino – a visão que Jesus tem do homem – é a sua alegria, o
horizonte que lhe permite relativizar o resto, temperar preocupações e ansiedades,
permanecer livre das ilusões e do pessimismo; conservar a paz no coração e
difundi-la com os seus gestos, as suas palavras, as suas atitudes.
Eis delineada, caros irmãos, a
tríplice pertença que nos constitui: pertença ao Senhor, à Igreja,
ao Reino. Esse tesouro em
vasos de barro deve ser conservado e promovido! Sintam até o fim essa
responsabilidade, encarreguem-se com paciência e disponibilidade de tempo, de
mãos e de coração.
Rezo com vocês à Virgem Santa, para que a Sua intercessão os conserve acolhedores
e fiéis. Junto com os seus presbíteros, que vocês possam levar a termo a
corrida, o serviço que lhes foi confiado e com o qual vocês participam do
mistério da Mãe Igreja. Obrigado.
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