Qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo... (Lc 14, 33)
Trata-se de uma atitude, uma postura, uma
entrega. E a palavra é “tudo”.
Discípulo pela metade não é de Jesus. Jesus não se contenta com “amor
a prestações”, com retalhos de vida.
A entrega parcial não é entrega. Estamos
inseridos numa cultura onde as entregas são pela metade, e os projetos não tem
consistência, pois tem data de validade. Quem divide o afeto, anula a entrega e
torna impossível a relação. Na “cultura
líquida”, onde tudo escapa das mãos, nada é permanente.
Somos
convidados, pois, a transcender-nos, e a ir além de nós mesmo. A fé verdadeira é
inseparável do amor.
As duas breves parábolas, no evangelho
de hoje, constituem um toque de realismo: “calcula
tuas forças porque só poderás chegar
à meta se te entregares com determinação”. Jesus não quer gente que busque
carreiras ilustres (construir torres, ganhar
guerras...), mas pessoas capazes de renunciar ao próprio ego, e desapegar-se
daquilo que as limita.
Eis o lema de Jesus: renunciar
a tudo para partilhar tudo!
O mundo está cheio de homens e mulheres
que querem construir suas próprias
torres, para isolar-se nelas. Competição de torres, competição de “egos inflados” que querem ganhar
guerras, e ganhar dinheiro... Quantas guerras “pseudo-religiosas” e mercantilistas!
Quanto investimento em “guerras internas” que desgastam e afundam num combate
estéril.
Jesus
não precisa de torres, e nem precisa ganhar guerras. Nós, também
não. Pois bem, para estar com Ele temos de “renunciar
a tudo”, para estar com Ele. Falta amor, gratuidade e vida fraterna.
Somos construtores de torres, e juntos
queremos fazer a grande torre capitalista e neo-liberal, que é contada e medida
com muito dinheiro e poder. Mas, será que uma
torre pode nos resguardar e salvar? A terra está cheia de ruínas de torres
caídas... Investir em torres e em guerras poderá alimentar nosso ego (auto-imagem,
vaidade, aparência...), mas no ofim das contas não servem para nada. As torres cairão, e a paz se imporá!
Jesus quer seguidores com liberdade, decisão
e responsabilidade. Por isso precisamos “renunciar a tudo”, para sermos
livres para amar e partilhar como irmãos.
Renunciar a tudo significa sair
da visão egocêntrica para uma outra sem horizontes pequenos.
Só
o Senhor ressuscitado é o limite do nosso coração.
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