Somos simples servidores, fizemos o que devíamos fazer... (Lc 17, 10)
O
evangelho nos propõe uma atitude que, à primeira vista, parece inaceitável: o
empregado não deve reclamar. Simples servidor do Reino, tem de fazer
seu serviço, sem discutir.
Mas
a intenção de Jesus é outra: Ele aponta para a dedicação integral no servir e desmascarar a
atitude daquele que, no serviço do Reino, busca seus próprios interesses,
alimenta sua vaidade e busca ser o centro das atenções.
Trabalhar para buscar o louvor e o interesse
próprio esvaziam o sentido da missão em favor da evangelização. O fundamental é ativar o espírito de
serviço e disponibilidade, que nunca poderá ser pago. Quem vive o Evangelho
nunca acha que está fazendo demais para os outros.
Generosidade,
gratuidade, doação: palavras quase desconhecidas em nosso contexto
social. Mas são elas que nos levam em direção aos outros. São elas que nos afastam da vaidade e do egoísmo e. por serem
mais afetivas e espontâneas revelam-se na ação alargando o nosso coração, até
dilatar-nos às dimensões do universo. Jesus
veio, não para ser servido, mas para servir e para dar sua vida pelo mundo.
“Somos
simples servidores...”. Servindo com simplicidade, não em função de
compensações egoístas, mas em função da retidão, da fidelidade e da gratuidade,
seremos indispensáveis para o projeto de Deus. Esta é a grandeza e recompensa
do servidor no grande trabalho que realiza em favor do Reino: ultrapassar-se
sempre, mas no amor; o êxito?
Entregue-o a Deus.
É o Senhor quem
realiza em nós o querer e o fazer, para além de nossa boa
disposição (Fl 2, 13).
A grandeza, a dignidade, a capacidade
redentora de toda atividade em favor dos outros provém do fato de ser vivido
numa profunda união pessoal com Cristo e com o desejo intenso de que nossa ação
esteja em sintonia com a vontade e a glória do Pai.
O
chamado de Jesus é para “co-laborar”,
trabalhar com
Ele. Deste chamado ninguém é excluído (“chama todos e cada um em particular”,
disse nosso pai santo Inácio).
O trabalho se define pelo afeto pessoal a Jesus e a identificação com seu
projeto libertador.
Eis
algumas indicações para fazer do serviço ao Reino uma “experiência
espiritual”: pureza de intenção,
com motivações gratuitas
(por que faço isso? para quem faço?...);
capacidade de “contemplar”, crescer em gratuidade e relativizar
compensações...
A gratidão nos motiva a viver o trabalho como serviço,
libertando-o radicalmente de suas dimensões de rotina e esvaziando-o de toda
pretensão egoísta.
Quando vivemos o trabalho a partir da gratidão, o esforço brota de um modo mais
natural e espontâneo, “cansa” e “desgasta” menos.
Se
vivemos a partir da gratidão, ficaremos menos “dependentes” da
compensação. Como dizia S. Inácio aos
estudantes de Coimbra, “são outros os soldos” que nos compensam.
Uma tentação sutil é esperar reconhecimento
pelo serviço prestado. Para estes, o entusiasmo e élan apostólico dependem da
gratificação e, ao invés de buscar agradar a Deus, buscam-se recompensas
humanas.
A verdadeira maturidade
espiritual coincide com o sentido da gratuidade, ajustando-se ao
modo de agir de Deus, superando todo auto-centramento e voluntarismo.
O ser humano, tal como Deus, é
fundamentalmente um ser de gratuidade.
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