Qual o sentido do discernimento em uma comunidade, «lugar privilegiado
para a prática do discernimento apostólico», segundo a nossa última Congregação Geral (CG 35, 4,28).
A raiz do
discernimento comunitário a encontramos naquela experiência de 1539 chamada de “deliberação
dos primeiros Companheiros”, quando
buscavam como servir a Deus e ajudar os outros. Daquela busca comunitária nasceu
a nossa «missão»: Colocar-se sempre a
serviço dos que mais precisavam de ajuda.
Na origem, pois,
da Companhia de Jesus encontramos a superposição das «vontades» pessoais que se
adunam pela partilha fraterna e a consolação interior que experimentavam. As
coisas foram ficando mais claras para todos: “No essencial, unidade; no secundário, liberdade; e em todas as coisas
caridade”, até encontrar novas luzes sobre o assunto. Sempre unidos apesar das diferentes opiniões apresentadas.
Desse modo, aqueles
primeiros jesuítas tomaram consciência de formar uma “comunidade apostólica”, e não apenas um grupo de pessoas próximas por
interesses pessoais. Eles diziam: Unidos
no modo de proceder e no ânimo de servir.
A “união dos corações”
(ânimos!) é fundamental para um agir significativo, profundo
e não apenas paliativo.
O
discernimento apostólico comunitário fundamenta vidas e ministérios. A comunidade é para servir e o serviço expressivo
dela consolida ela.
Não somos franco-atiradores
apostólicos ou apenas um grupo de pessoas que fazem algumas coisas boas. Tomamos
a sério aquela palavra de Paulo: “... pois é Deus mesmo quem realiza em vós
tanto o querer como o agir” (Fl 2,13). O
Reino de Deus se concretiza quando somos movidos pelo Espírito Santo.
O discernimento de uma
comunidade apostólica se realiza fraternalmente
e não por imposição.
Somos pecadores
remidos e por isso mesmo que o processo de discernimento exige purificação e deve
fazer parte de nossa caminhada.
Neste sentido, a
obediência numa comunidade apostólica consiste em obedecer um ao outro, como
fala são Bento.
As dificuldades
ou resistências possíveis em todo discernimento
apostólico comunitário falam de desunião
dos corações e indisponibilidade para a missão. Em
outras palavras: a missão questiona a própria vontade e também o nosso agir apostólico.
O nosso modo de proceder exige pluralidade de opiniões, pois só haverá
consenso final se antes houve diversidade de pensamentos. A liberdade
de pensamento e da palavra são fundamentais no discernimento, como aconteceu outrora
com os nossos primeiros companheiros e antes deles com os apóstolos, naquele Concílio
de Jerusalém. O pluralismo de opiniões multiplica, certamente, o número de sessões.
Uma pergunta
final: Para que discernir se todo o que
se propõe é bom?
O importante não
é que o resultado seja o “bom” simplesmente, mas que seja “realmente bom”, e conforme
com a vontade de Deus.
Por isso, a
realização do discernimento comunitário apostólico exige maturidade espiritual,
pois ou a caridade é discernida ou não é mais que um vício.
As “propostas”
pessoais desaparecem depois de “entender”
(ou discernir!) que é o Senhor que as propõem.
O discernimento é fundamental na vida da Igreja.
Ótimo texto. É necessário um coração docil aos apelos do Espirito na arte de discernir.
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