É noite... la fora escuridão. Dentro de casa a luz artificial permite que eu veja
onde as coisas estão: os móveis, para eu não tropeçar, a TV que não quero
ligar, o sujo que devo limpar, a desordem que preciso ordenar, as plantas
que quero molhar, o quebrado que posso arrumar e outro que só posso jogar, a
fruta que gosto de comer, o doce que é melhor deixar...
Vejo caneta e papel.
É tarde e o sono não vem. Faço tudo o que as minhas pequenas neuroses me pedem
e fico tranquilo. E sem neurose alguma
me ponho a rezar... me deixo rezar... é somente um estar diante do Senhor
da minha vida. Sim, Ele mesmo, Deus. Então, tudo se acalma e a paz invade a
minha alma. Sinto-me repleto de tudo, quando o tudo necessário não é muito, é
bem pouco.
Abro a porta, e adentro na escuridão do quintal. Não sinto medo. Não peço nada. Esta noite não quero
dormir. Vou ficar unido às criaturas que não se assustam nem questionam a noite
escura. Apenas repousam no silêncio e continuam sendo o que são. Me uno às árvores, às plantas, às flores...
que não vejo, mas sei que estão onde estavam quando era dia. Ficarei muito
atento aos passarinhos. O primeiro que
cantar terá o meu acompanhamento. Vou entoar com ele e com os outros a
melodia alegre que anuncia que a luz está voltando, trazendo o dom
de um novo dia.
Só alegria sem
explicação...
Mesmo na falta de inspiração, consolação... E uma vontade enorme de ser grato...
Gratidão!
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