Deus queira pôr em minha alma o que eu devo fazer... (EE 180,1).
A maneira de aquecimento espiritual, S. Inácio antepõe às meditações ou contemplações dos Exercícios, os “preâmbulos”. Proponho três, para que nos disponham às deliberações que nestes dias realizaremos. Depois, veremos quatro características da “Eleição”, para o momento que estamos vivendo.
Primeiro
Preâmbulo. Trazer a história que vou meditar ou contemplar... Essa recordação
preambular tem como finalidade “sentir a história”, senti-la e
saboreá-la internamente, pois o sentido
da história não está no passado, mas se faz presente ou se faz no presente.
Eu
quero trazer aqui duas histórias. A mais antiga remonta ao ano de 1553 em que a
Companhia contava 13 anos e a Província do Brasil acabava de ser fundada. O Brasil é, pois, uma das proto-províncias da
Companhia, a quarta, fundada em vida da S. Inácio. Quinze anos depois da
fundação, 1568, o catálogo da Província registrava 61 jesuítas, dos quais 36
ingressados no Brasil, e tinham uma característica: poucos tinham estudado
teologia.
Esta
rápida lembrança pretende afirmar que nós temos uma história, e que a
“re-engendrada” e nascitura BRA continua essa história secular que não é mera
arqueologia arruinada. Esse
motivo me leva a trazer outras histórias: as nossas. As biografias espirituais
de cada um dos presentes que só Deus conhece e têm moldado as nossas vidas num
espírito incorporador e que, como o Pe. Nadal dizia, faz de nós portadores do carisma
de Inácio.
2º Preâmbulo. Composição de Lugar: “Ver a mim mesmo, como
estou diante de Deus e de todos seus santos, para desejar e conhecer o que seja
mais grato à sua divina vontade...” [151 e 232].
Fazer das nossas vidas a composição de lugar, como se de um
lugar evangélico se trata-se, poderia ajudar a reconhecer agradecidos de que nós mesmos somos o lugar onde o Mistério de
Cristo pode ser contemplado para que o nosso desejo e a sua Vontade coincidam.
3º Preâmbulo. Visando o aquecimento espiritual ou a devoção que os
preâmbulos pretendem suscitar nos Exercícios, proponho que façamos nossa a petição que Inácio coloca no primeiro modo de eleição do terceiro tempo [180]:
“Pedir a Deus nosso Senhor (que Ele) queira mover a minha vontade e pôr em
minha alma o que eu devo fazer no tocante à coisa proposta, que seja
mais para o seu louvor y glória, discorrendo bem fielmente com o meu
entendimento e elegendo conforme a sua santíssima e beneplácita vontade”.
E agora as quatro
características da Eleição:
1ª Característica: Eleição e contemplação dos Mistérios (EE 135).
Ao mesmo tempo que contemplamos os Mistérios da vida de Cristo, (“juntamente”,
sinergicamente), devemos começar a
investigar e a pedir em que vida ou estado “quer servir-se de nós sua divina majestade”. Como quem diz: não
seremos capazes de contemplar a vida de Cristo se não estivermos dispostos a
pôr em questão a nossa própria vida. Estar dispostos a investigar e a pedir
como o Senhor quer se servir da Companhia nesta Província nas circunstâncias
atuais.
Não há contemplação sem
discernimento, nem
discernimento sem contemplação da Vida de Cristo.
2ª Característica: Eleição e sinergia. Descobrindo a
“intenção de Cristo” devemos examinar qual é a nossa. É isso que Inácio propõe
quando escreve: “devemos nos dispor para chegar à perfeição em qualquer estado ou vida que Deus N. Senhor nos der a eleger”.
“Chegar à perfeição” significa “ir
até o fim” no caminho do seguimento suscitado pelo chamado de Cristo. A
eleição só pode ser a nossa opção quando
é percebida como opção de Deus (aquilo
que Deus N. S. nos der a eleger).
A opção de vida é um
dom que se recebe ao
longo das diversas moções experimentadas na contemplação e peneiradas no
discernimento; opção sinérgica, “co-laborante” entre Deus e o ser humano. O
horizonte do exercício da liberdade acontece na contemplação dos Mistérios da
vida de Cristo. A concretização do modo como cada um de nós (e isso vale também
para um Corpo Apostólico constituído, como a Companhia) singulariza o chamado
universal no carisma particular, o carisma original na missão
atual, esse é o assunto e tarefa da eleição.
Se o fim dos EE é alcançar o amor que consiste na comunicação mútua [231], pode-se compreender
que a liberdade para eleger uma determinada forma de vida apareça já aqui não
só como os universais benefícios da criação e da redenção, mas como o dom
particular que me singulariza com um “princípio
de individuação”, que me faz ser eu; que nos faz ser o corpo apostólico da
Companhia de Jesus e refazê-lo sempre conforme à sua Vontade.
A identidade, pessoal ou comunitária, é, pois, o resultado da
sinergia de desejos livres: o desejo “do Senhor que deseja dar-se a mim” [234,2], e o meu que, “somente desejando e elegendo o que mais conduz” [23,7], acabará
dizendo: “quero e desejo com determinação deliberada” [98,2] imitar-vos ou
suplicando: Tomai, Senhor, e recebei toda
a minha liberdade...
3ª Característica: Eleição e consolação. Para Inácio o critério de verdade da eleição, (comunicação mútua e efetiva que
ele compara com um abraço [15,4]) está na alegria da consolação.
Importância dada desde o início dos EE à moção de consolação.
A origem da consolação espiritual é a fonte pascal, a ressurreição do Cristo
que aparece e se mostra (...) pelos verdadeiros e santíssimos efeitos
dela [223] ao “olhar o ofício de consolar que Cristo N.S. traz” [224].
4ª Característica: Eleição e Missão. A moção é para a missão! A fé, a esperança e o amor me levam
para fora de mim: cada um tanto se
aproveitará em todas as coisas espirituais, quanto sair do seu próprio amor,
querer e interesse... [189]. Sair para a AÇÂO. A ação é a sua própria
realização. Essa é o real significação do in
actione contemplativus.
0 comments:
Postar um comentário