A ovelha perdida se perdeu porque o coração estava
doente, cego por uma dissociação interior, e foge para ficar longe do Senhor, para
saciar aquela escuridão interior que a levava à vida dupla: estar no rebanho e
fugir para a escuridão. O Senhor conhece estas coisas e vai a sua procura. A
figura que melhor me faz entender o comportamento do Senhor com a ovelha
perdida é o comportamento do Senhor com Judas, disse o Papa Francisco.
A mais perfeita ovelha
perdida no Evangelho é Judas: um homem que sempre
tinha algo de amargo no coração, algo a criticar, sempre separado. Não sabia da
doçura da gratuidade de viver com todos os outros. E sempre, esta ovelha não estava satisfeita – Judas não era um
homem satisfeito! – fugia. Fugia porque era ladrão, ia para aquele outro lado,
ele. Outros são luxuriosos, outros... Escapam
porque têm aquela escuridão no coração que os separa do rebanho. Vida dupla
de tantos cristãos, e também, de sacerdotes, bispos... E Judas era bispo, era um dos primeiros bispos... Pobre ovelha
perdida! Pobre este irmão Judas, como o chamava Pe. Mazzolati: ‘Irmão Judas, o que acontece no teu coração?’.
Nós devemos entender as ovelhas perdidas. Também nós temos sempre algo, pequeno
ou nem tanto, das ovelhas perdidas.
Aquilo que faz a ovelha perdida não é tanto um erro
quanto uma doença que está no coração, e da qual o diabo tira proveito.
Assim, Judas, com o seu coração
dividido, dissociado, é o ícone da ovelha perdida, e que o pastor vai
procurar. Mas Judas não entende e no final, quando viu aquilo que a própria
vida dupla provocou na comunidade, se desesperou.
Há uma palavra na Bíblia – o Senhor é bom, também para estas
ovelhas, nunca deixa de procurá-las – que
diz que Judas se enforcou, enforcou ‘arrependido. Eu creio que o Senhor
tomará aquela palavra e a levará consigo, eu não sei, talvez, mas aquela
palavra nos faz duvidar. Mas, essa palavra o que significa? Que até o final o amor de Deus, trabalha até
no momento do desespero. E esta é a atitude do Bom Pastor com a ovelha
perdida. Este é o anúncio, a boa notícia que nos traz o Natal e nos pede essa
sincera alegria que muda o coração, e que nos leva a deixar-nos consolar pelo Senhor.
Jesus, quando
encontra a ovelha perdida no Jardim das Oliveiras, chama Judas de “Amigo”. São
as carícias de Deus:
Quem não conhece as
carícias do Senhor não conhece a doutrina cristã! Quem não se deixa acariciar pelo Senhor está perdido! É esta a boa
notícia, esta é a alegria sincera que nós hoje queremos. Esta é a alegria, esta é a consolação que buscamos: que venha o Senhor
com o seu poder, que são as carícias, a encontrar-nos, para nos salvar, como a
ovelha perdida e nos levar para o
rebanho de sua Igreja.
Que o Senhor nos conceda a graça de esperar o Natal com as nossas
feridas, com os nossos pecados, sinceramente reconhecidos, para esperar o poder
desse Deus que vem nos consolar, que vem com poder, mas o seu poder é a ternura, as carícias que nascem do seu coração, um coração
tão bom que deu a própria vida por nós.
Simplesmente, amei.
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