O Pe. A. Spadaro, 50 anos, não pertence ao staff do Vaticano, mas
este padre jesuíta já entrevistou o Papa Francisco várias vezes e é
conhecido como um dos seus assessores mais próximos. Eis parte de uma entrevista
falando sobre o Papa Francisco:
O Papa Francisco deu início a vários projetos e reformas diferentes. O
que fará em 2017?
O modo como Francisco toma decisões é não fazer planos
ou propostas... É durante o trajeto que ele compreende o que fazer. Portanto
não é possível fazer uma previsão. Sempre surge uma surpresa. Não tem pressa, mas
sim uma urgência em tirar vantagem do tempo.
Ele completou 80 anos em dezembro...
Ele não sente a necessidade da pressa porque sabe que a Igreja depende
de Deus. Não depende dele. O Papa lidera através de processos. Ele não é
apressado, mas responsável; está sempre calmo!
Ele disse que “dorme como uma tora” por seis horas a cada noite; reza
bastante... Qual o segredo dele?
Ele nunca fica estressado. Começa o dia na capela. Ele não tem um
escritório. Tem apenas uma sala na residência Santa Marta.
O próximo Sínodo dos Bispos, OUT/2018, será sobre a juventude?
O grande tema, que vi surgir nos últimos meses é o “discernimento”. Este
tema está no centro de Amoris Laetitia. O problema dessa Exortação
Apostólica não é dogmático, mas pastoral. A Igreja deve aprender a prática
do discernimento, e não só aplicar regras a todo mundo. A Igreja
deve estar atenta à vida das pessoas, à caminhada de fé delas e à maneira como
Deus atua em cada uma. Um pastor não pode aplicar regras gerais a pessoas
individuais. A Igreja precisa crescer no discernimento. Este será também um dos
tópicos mais importantes do próximo sínodo.
Enquanto isso, os críticos do discernimento dizem que
precisam de respostas do tipo “sim ou não”. O Papa tem dito que a vida não é em
preto ou branco. Tem muitas cores. Há inúmeras nuances, e nós precisamos
discerni-las.
O discernimento e a misericórdia são os dois
grandes pilares deste pontificado?
É este o significado da Encarnação; o Senhor fez-se carne, estamos
envolvidos com a verdadeira humanidade, que jamais é fixa ou demasiado clara. O
pastor precisa adentrar-se na verdadeira dinâmica da vida humana. Eis a
mensagem da misericórdia.
A oposição ao Papa Francisco está crescendo?
Não, não! O problema é que alguns opositores fazem muito barulho,
especialmente nas mídias sociais. Eles criaram uma câmara de eco. O
barulho é no lado de dentro das ‘sacristias’. Francisco disse que
gosta que haja oposição. A vida é feita de tensões. Um bom sinal da eficácia do
processo de reforma é exatamente o surgimento da oposição.
Mas o Papa Francisco distingue entre dois tipos de
oposição: a oposição crítica dos que
amam a Igreja, e a oposição ideológica
dos que querem impor a própria visão. O Papa ouve os primeiros e não presta
muita atenção a este segundo tipo.
A “boa” oposição está crescendo?
A boa oposição é discreta. Há pessoas que conversam com o Papa e são
muito claras. E ele gosta deste tipo de pessoa.
Alguns gestos ou documentos, como Amoris Laetitia, são
fruto de um longo processo, dois sínodos.
Muitas pessoas acham que ele é muito legal e por isso que o adoram.
Francisco sabe o que significa ser um Papa. Ele está absolutamente
ciente de sua função. Sabe o que fazer. Está ciente de seu ministério, como
sucessor de São Pedro. Mas o Papa ouve muito, e reza antes de fazer algo. Ouvir,
rezar e discernir.
Ele toma decisões, resultado do processo. Não gosto da imagem de um papa
“legal” apenas. Jesus não foi só legal. O jeito de agir do Papa decorre do
Evangelho, não pelo desejo de ser legal.
O que acontecerá “depois de Francisco”? Qual o futuro do papado?
Eu acredito nas surpresas de Deus e penso que haverá o Papa certo na
hora certa. Penso que o processo que ele iniciou não é reversível. Isso,
porém, não quer dizer que o seu sucessor precisa ser como ele. Ele não é conservador,
mas também não é progressista. Ser Papa é diferente disso. Ele também não gosta
de estar rodeado de “bergoglianos” – pessoas como ele. As estruturas podem,
mas temos de mudar a alma. E a alma da Cúria Romana está mudando. A visão dos
departamentos é bastante inclusiva.
O maior desafio é não reduzir o povo de Deus a regras, de forma que os
padres estejam aqui e os leigos acolá. Existe uma visão diferente, uma visão
mais pastoral, mais global, mais enraizada no Concílio Vaticano II.
As reformas estão em curso, e o Espírito estará
moldando as coisas, lentamente. Leva tempo. As mudanças são fruto de consultas.
Ela está avançando. As coisas estão acontecendo, e estão se desenvolvendo muito
bem.
Qual a intenção do papa? Empurrar
Cristo para o centro da Igreja. Se Cristo estiver no centro da Igreja, ele
irá fazer a reforma. Se colocarmos Cristo no centro, seremos capazes de mudar
tudo. Misericórdia significa pôr o coração do Evangelho no lado de dentro do
coração da Igreja. Não regras, não problemas, não normas. O centro da Igreja é a misericórdia de Deus. Se a misericórdia estiver
no centro, poderemos compreender as coisas sob uma perspectiva diferente. Ele
não se sente sendo o centro da Igreja, como se tudo estivesse a seu encargo. É
por isso que não se sente pressionado nem fica estressado.
O Papa tem boa saúde?
Muito boa. O Papa sabe como lidar consigo próprio. Uma vez eu lhe disse:
“Cuide-se, preserve suas energias”.
Ele respondeu: “Não se preocupe com isso.
Quando eu me sinto cansado, eu paro”.
Pra que Igreja s eposso seguir mimha consciência?
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