NÃO É ESTA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL QUE O BRASIL PRECISA
Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e dos
fariseus,
não entrareis no Reino dos Céus (Mt 5,20).
1. Conscientes de sua responsabilidade na vida pública, os cristãos devem
estar presentes na formação dos consensos necessários e na oposição contra as
injustiças. A Igreja não substitui e nem
se identifica com políticos ou interesses partidários. Contudo, não pode se
eximir da sua vocação de ser incansável advogada
da justiça e dos pobres (Documento de Aparecida p.278). Em razão disso,
nós, bispos da Igreja Católica, na província de Belo Horizonte, somos instados a promover a reflexão sobre
a reforma da Previdência (PEC 287/2016), que tramita no Congresso Nacional.
2. Visando promover o bem-estar da população brasileira, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu a Seguridade Social, destinada a garantir saúde, previdência e assistência social. Para sua realização, essas políticas públicas compartilham diversas fontes de financiamento, denominadas “contribuições sociais”.
3. Várias reformas são indispensáveis à democracia brasileira. O aprimoramento das
políticas é bem-vindo, desde que aperfeiçoe as instituições democráticas. Nenhuma reforma, contudo, pode operar em
sentido contrário, trazendo o risco de aumentar as desigualdades que
historicamente já caracterizam a sociedade brasileira.
4. Num momento de intensa crise de
representatividade e de legitimidade das instituições, pela ausência de
autoridade moral que agrava a falta de credibilidade dos legisladores e
governantes, é contraditório e perigoso
impor mudanças constitucionais, quanto mais no que tange aos direitos
sociais. A reforma da Previdência, tal como proposta, terá impactos para todos
os cidadãos brasileiros: tanto para os que vivem neste tempo presente, quanto
para as gerações futuras. É
indispensável que a sociedade seja ouvida e que se criem mecanismos de
participação dos cidadãos nesse processo de reforma previdenciária.
5. Também é preciso assegurar a transparência das informações veiculadas. É indispensável que se apresentem com
clareza todas as fontes de financiamento e o verdadeiro destino dos recursos da
Previdência e, de forma mais ampla, da Seguridade Social.
6. A Previdência é uma das
políticas sociais de maior abrangência exercidas pelo Estado. É arriscado
analisá-la apenas sob a ótica de receitas e despesas, esquecendo-se de seu
papel essencial na redistribuição de renda. A Previdência Social representa, para os cidadãos empobrecidos, a única
diferença entre o desamparo e uma velhice minimamente segura. Além disso,
num País de tão intensas desigualdades regionais, há muitos municípios cuja
economia local depende dos recursos dos aposentados.
7. É inaceitável uma reforma que se assenta na redução dos direitos dos
mais pobres, assim como é inadmissível
estabelecer benefícios abaixo do salário mínimo, com valores insuficientes
para garantir as condições básicas de sobrevivência, enquanto certos grupos continuam sendo privilegiados.
8. Há uma profunda contradição em um modelo que pretende reduzir os
benefícios pagos ao cidadão sem que antes sejam cobrados os débitos dos
sonegadores e reavaliadas as isenções, para que estas apenas se justifiquem
pelo serviço que prestam aos pobres. Do mesmo modo, é necessário um reordenamento nas finanças e no orçamento públicos, com
vistas a impedir que recursos da Seguridade Social sejam utilizados para outros
fins.
9. Não é possível deixar desprotegidos
aqueles que, por uma questão de justiça social, mais necessitam do amparo do
poder público. Nesse campo, é condenável a extinção da diferença entre
mulheres e homens em seu acesso, por direito, à Previdência. Sobrecarregam-se
as mulheres nas atividades domésticas e nos cuidados familiares, além da
disparidade salarial que as atinge com maior força.
10. Com efeito, não há justiça em
tratar de forma igual situações que são eminentemente desiguais. Nesse
sentido, é inaceitável o estabelecimento de uma idade mínima universal. A idade de 65 anos para se aposentar e o
tempo de 49 anos de contribuição para se obter o benefício integral são
injustos para os trabalhadores, especialmente os do meio rural e aqueles
submetidos a condições penosas e extenuantes. Uma idade mínima elevada
sacrifica os pobres, que começam a trabalhar mais cedo e têm uma expectativa de
vida menor.
11. Nenhuma reforma da Previdência
pode se eximir da responsabilidade de garantir um envelhecimento seguro e
amparado. Como afirma o Papa Francisco: a economia que promove a exclusão e a desigualdade social é
comprometida com a morte: “Essa
economia mata!” (Evangelho da Alegria 53). Em discurso sobre a previdência
social (Praça São Pedro, 07/11/15) o Para Francisco afirmou “nunca falte o seguro para a velhice, a
doença, os acidentes de trabalho; não falte o direito à pensão, e sublinho, o
direito, porque trata-se de direito [...]. É preciso fazê-lo não como obra de
solidariedade, mas como dever de justiça e subsidiariedade”.
12. Diante disso, nós, bispos da Arquidiocese de Belo Horizonte e de sua
Província Eclesiástica, sabedores de que “qualquer
comunidade de Igreja, que pretende subsistir tranquila [...] sem cooperar de
forma eficaz para que os pobres vivam com dignidade e haja inclusão de
todos, correrá o risco de sua dissolução [...]” (Evangelho da Alegria 205),
CONCLAMAMOS OS CATÓLICOS, TODOS OS
CIDADÃOS, MULHERES E HOMENS, A SE EMPENHAREM NA LUTA POR UMA PREVIDÊNCIA SOCIAL
QUE CUMPRA SUA FUNÇÃO DE PROTEÇÃO SOCIAL PARA OS MAIS EMPOBRECIDOS,
conforme assegurado na Constituição da República Federativa do Brasil de
1988.
Belo Horizonte, 20 de março de 2017.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo
Horizonte
Dom João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Coadjutor eleito de Montes
Claros,
transferido de Bispo Auxiliar de Belo
Horizonte
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte
Dom Edson José Oriolo dos Santos
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte
Dom Otacílio Ferreira de Lacerda
Bispo Auxiliar de Belo Horizonte
Mons. Geovane Luís da Silva
Bispo Auxiliar eleito de Belo Horizonte
Mons. Vicente de Paula Ferreira
Bispo Auxiliar eleito de Belo Horizonte
Dom Guilherme Porto
Bispo Diocesano de Sete Lagoas
Dom José Aristeu Vieira
Bispo Diocesano de Luz
Dom José Carlos de Souza Campos
Bispo Diocesano de Divinópolis
Dom Miguel Ângelo Freitas Ribeiro
Bispo Diocesano de Oliveira
Que nessária e bonita manifestação dos Srs. Bispos!..Parabéns!Nodsa Igreja não pode omitir diante de tantos desreitos com o nosso povo tãi sofrido ..Juntos estamos!!!Que a justiça de Deus faça valer em nosso país e no mundo! Amém!!!!!
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