Gostei, saboreei e por isso compartilho...
Saborear... me delicio com essa palavra.
Saborear é muito mais que comer ou beber.
Você ‘come’
um Big Mac, saindo do drive thru do Mc Donalds com ketchup espirrando na camisa, batata frita espalhada no meio
das pernas e coca cola derramando no banco do carro, enquanto dirige no
trânsito das 18h. Ou tenta.
Ninguém
vai a um fast food pra ‘saborear’ nada. É tudo fast, mesmo o que não parece ser food.
A coisa, hoje, evoluiu tanto que deu origem aos food trucks. Difícil saborear um caminhão
de comida. E não estou falando de quantidade.
Pra saborear, não precisa ter fome, nem mesmo
sofisticação. Basta tempo, ambiente e
uma boa companhia. Tanto faz que seja um cappuccino ao chantilly,
acompanhado de um croque monsieur numa cafeteria
charmosa, em Paris, ou uma média de café com leite e broa de fubá, no Mercado
Central. Um fettuccini a Alfredo, em Roma, ou um frango ao molho pardo, com
angu e quiabo, no almoço de quarta-feira da Dona Tutu.
Circunstâncias e pessoas podem elevar o lanche mais
trivial ou o prato mais banal à categoria de iguaria gastronômica a ser
saboreada com gosto e prazer.
Ao
contrário do food que é fast, saborear é slow. Assim, como você não tem pressa,
pode entremear cada mordiscada ou gole com palavras.
Palavras... voltamos ao território do Sagrado.
Um dos princípios inacianos que mais busco viver é o
que diz: “não é o muito saber que sacia e
satisfaz a alma humana, mas saborear
poucas coisas, intimamente...”.
Hoje,
mais senhor do meu tempo, saboreio minhas poucas e preciosas certezas...
O tempo
do mundo é rápido e fugaz como um macarrão instantâneo. O gosto vem num sachê
industrializado, replicado aos milhões. Três minutos pra fazer, três pra
comer...
A vida é
um gourmet que nos convida a experimentar sabores que atravessaram séculos,
milênios de sabedoria. A receita é outra. O tempero é diferente. O mundo quer pra já, a Vida quer pra
sempre...
Tenho impressão que algum tradutor bíblico, lá
atrás, se enganou. Jesus, na verdade,
deve ter dito naquela ceia: “Tomai e saboreai, todos... é o meu corpo, é o
meu sangue...”.
Eduardo
Machado
19/05/2017
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