O
mural da Ss. Trindade do artista Claudio Pastro (1948-2016), na capela do
2º andar de Vila Kostka, Itaici (SP) foi pintado em 1990, e ocupa quase 20 metros
quadrados de extensão. Foi feito diretamente sobre a massa, com técnicas de
afresco, onde a tinta (pigmentos naturais, terra etc.) se mistura com a própria
massa, penetrando-a por alguns milímetros.
O mural revela traços ondulatórios, alongando,
desse modo, o lugar quadrado da capela. As
mesmas curvas flutuantes convidam-nos a ir além do espaço onde nos
encontramos e entrar no mistério de Deus... As curvas e as cores descansam o
nosso olhar, trazem paz interior e fazem lembrar o deserto, lugar bíblico da
provação e da revelação.
No deserto o homem se despoja de todas
as suas mentiras. Para que as máscaras? A quem seduzir ou enganar?... Contudo, Israel
foi tentado no deserto e Jesus também. Nosso “eu” mais profundo é terra
solitária, por onde vagueiam anjos e demônios, o bem e o mal.
No
deserto podemos encontrar também o Senhor. E adorá-lo.
O artista, C. Pastro, não fechou o
horizonte do que contemplamos, deixando espaços sem pintar. Esses vãos induzem-nos
a superar o que meramente vemos. As ondulações das dunas ampliam o nosso espaço
de visão exterior e interior. Tudo se orienta, na fé, para o mistério, para o encontro
Daquele que sempre vem.
Observe
o movimento cósmico que nos convida a entrar no mistério de Deus: o mundo, o deserto,
as pessoas, o Cordeiro... Tudo está em movimento, porque a vida é sair de si
mesmo, dar-se.
O tema da Santíssima Trindade na arte
vem da tradição Copta e Siríaca. A Trindade não é fácil de ser representada.
Alguns teólogos caíram em diversas heresias ao falar da Trindade. Vejamos
algumas:
Uns, para assegurar a fé num único Deus,
acabaram negando a Trindade das pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo). Outros,
destacando a diversidade das três pessoas da Santíssima Trindade, acabaram
negando a unidade.
O
artista representou a Trindade na figura de três anjos peregrinos. O anjo, na
Sagrada Escritura, representa muitas vezes, o mesmo Deus na sua manifestação
exterior. A Trindade é mistério de
comunhão, geradora de vida. O Pai não é o Filho, nem o Espírito Santo é o
Pai. São diferentes nas suas relações interiores e exteriores. Mas uma coisa é
certa: onde está um sempre estão os outros dois. A Trindade é verdadeira
comunidade.
No mural, o Pai está no meio, como aquele que gera. Seu olhar e suas mãos
indicam o Filho muito amado (pessoa e Cordeiro).
O
Filho é imagem do Pai
(“quem me vê, vê o Pai”... Jo 14,9)
e, por isso, sua mão aponta o Cordeiro imolado (Ele mesmo!) e a chaga dele, de
onde vão brotar a água e o sangue,
isto é, o Batismo e a Eucaristia. Jesus
olha sempre para nós, pois é o único revelador do Pai. É ele quem revela o
mistério da Santíssima Trindade. O Filho segura, na outra mão, o cajado de
Pastor.
O
Espírito Santo é o doador de todos os dons à Igreja. Ele revela o mistério
e, ao mesmo tempo, nos convida a entrar nele. Olha para o mundo. O seu cajado
está solto, porque Ele o colocou nas mãos dos pastores que hoje nos guiam, os
bispos.
As cores usadas nos três anjos são o
azul, o vermelho e o amarelo, cores do fogo. A divindade é luz que atrai e
purifica.
No centro, a mesa com o Cordeiro de pé e
imolado, o Alfa e o Omega, aquele que é,
que era, e que vem (Ap 1, 8).
No meio, a árvore da vida, que brota do Pai, símbolo da eternidade de Deus.
Algumas das suas folhas são amarelas... Esses mesmos traços amarelos se repetem
nas asas e no resplendor dos três personagens e nos faz lembrar da promessa
feita outrora a Abraão: Olha para as
estrelas, assim será tua posteridade...
(Gn 15, 5).
Todos estamos na tenda, a capela é a tenda, com Abraão
e Sara. Observe as estacas da tenda nos dois extremos do mural. Abraão e Sara representam a humanidade toda.
O homem e a mulher aproximando-se do mistério de Deus.
Alguns se aproximam do mistério de Deus e, ajoelhando-se, o adoram, como Abraão. Outros, como Sara, apenas escutam e pouco entendem.
É Deus quem toma a iniciativa de se aproximar
de nós, pois foram os três anjos, que
vieram ao encontro de Abraão, como peregrinos que caminham para onde nós
estamos. Deus quer se aproximar também de nós. Contudo, podemos acolhê-lo ou
não; crer, como Abraão, ou rir, como Sara. Dentro de nós habita um Abraão ou
uma Sara?
A fé rejuvenesce. Perceba como o artista
fez um Abraão jovem. Adorando, nos unimos a Deus e aos irmãos. Formamos também comunidade.
Que
a contemplação do belo e do Santo faça brotar a imagem de Deus Pai, Filho e
Espírito Santo em cada um de nós.
Amém!
0 comments:
Postar um comentário