NOVO PARADIGMA SURGE COM O CONCÍLIO VATICANO II... (Cf. Pe. Paulo Crozera/Campinas)


As dificuldades que estamos vendo acontecer em nossa Igreja, com fortes resistências às reformas implementadas pelo bispo de Roma, o Papa Francisco, são compreensíveis a partir das resistências a um novo paradigma que emergiu fortemente com o Concílio Vaticano II. Na realidade, esse modelo não tem sua origem nesse Concílio, mas ele foi resgatado das fontes da Igreja primitiva.

Trata-se do paradigma que se caracteriza pela "gratuidade". É o modo de ver o mundo e as pessoas a partir da bondade, da misericórdia, da ternura e da generosidade do próprio Deus amor. Esse protótipo sempre foi vivido de forma individual pelas pessoas santas e bondosas que marcaram a vida de nossa Igreja, mas no segundo milênio da era cristã ele desapareceu da vida institucional da Igreja, de sua maneira de se organizar e de atuar em relação ao mundo, dando origem ao paradigma da "intolerância".

Nesse paradigma da intolerância, o Evangelho facilmente foi endoutrinado, como disse o Papa Francisco, foi transformado em pedras para atirar sobre os outros que não pensavam como nós. Reinava a desconfiança, o controle, a rigidez das normas, a força da autoridade, o fechamento a todo diálogo, as condenações de toda espécie, o centralismo romano, a impossibilidade de participar das decisões que vinham de cima para baixo. Antes do Concílio Vaticano II, a Igreja se opunha ao mundo moderno e não queria diálogo com ele. A tentativa era de se criar uma sociedade alternativa, com partidos políticos católicos, associações e instituições católicas, sempre em oposição intransigente ao mundo moderno. Era, realmente, uma Igreja "de costas" à realidade.

O Concílio colocou a Igreja em diálogo com o mundo moderno e fez ver um modo positivo de estar nele como fermento na massa, como sal da terra e luz do mundo. A Igreja, antes considerada como a salvação para o mundo, passou a ser definida como "sacramento" ou "sinal e instrumento" da salvação, realizada em Jesus Cristo. Além disso, ela deixou de ser somente a hierarquia para se transformar numa Igreja povo de Deus, onde a hierarquia faz parte desse povo, todo ele rico em dons, carismas e ministérios diversificados. Os cristãos leigos e leigas passaram a ter um papel positivo dentro da Igreja e no mundo, sendo seu apostolado compreendido como derivação de seu Batismo e conferido pela próprio Senhor.

O Concílio Vaticano II não quis entrar pelo caminho do paradigma anterior, que era o da intolerância. E o Papa Francisco, movido pelo novo paradigma do Concílio, desde o início de seu ministério, nos falou da "ternura" e do "cuidado". Ainda mais, convocou-nos à "revolução da ternura" (EG 88) e nos introduziu num ano jubilar sobre a "misericórdia". É isso que ainda muitos não compreenderam, pois o paradigma anterior custa a ceder e quer resistir mediante as "condenações", a defesa de uma fictícia "tradição" (com "t" minúsculo!), em nome de uma "doutrina" e de "verdades" que, segundo eles, estão sendo transgredidas.

Em visita à Cuba, o Papa Francisco citou Santo Ambrósio que dizia: "Onde há misericórdia, está o espírito de Jesus. Onde há rigidez, estão apenas seus ministros". E o teólogo Marciano Vidal afirmou: "Há questões na Igreja que podem ter uma orientação mais misericordiosa, sem deixar de ser evangélica".

No entanto, é muito difícil mudar a cabeça das pessoas que se habituaram com o paradigma anterior e se beneficiaram com ele, com poderes e privilégios.

Não tenhamos medo da ternura! É com ela que somos chamados a realizar a reforma de nossa Igreja, das nossas relações, do nosso comportamento, das nossas atitudes e do nosso modo de ser. Em tudo e acima de tudo devemos ter o estilo de vida de Jesus de Nazaré, despojando-nos do paradigma da intolerância.




Um comentário:

  1. Na realidade a Igreja tinha medo de se sentir fragilizada diante dos oportunismos e hoje como Jesus anda no meio do povo sem medo de ser apedrejado.

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