Desde o início de seu ministério,
à frente da Igreja de Roma, como sucessor de Pedro e, portanto, como nosso Papa, Francisco tem chamado a nossa atenção para
o que realmente importa na vida da Igreja: os pobres e sofredores! Em sua
primeira visita oficial à Ilha de Lampedusa, na Itália, aonde morreram milhares
de refugiados, o Papa direcionava o olhar da Igreja e do mundo para os "descartáveis"
desta sociedade, que sofrem com a ideologia do Mercado, na qual o lucro vale mais do que as pessoas. Depois nos convidou a
mover nossos pés missionários em sua direção, com um coração repleto do amor
misericordioso de Deus Pai.
Foi bem esta
a preocupação que reinou na Igreja primitiva, quando Paulo foi ter com as
autoridades da Igreja de Jerusalém (Pedro, Tiago e João), para manter a unidade
das Igrejas e assegurar que os pagãos não precisassem aderir ao judaísmo para
serem cristãos: "Apenas recomendaram
que nos lembrássemos dos pobres o que, aliás, eu mesmo propusera fazer com todo
o cuidado..." (Gl 2,10). Essa
preocupação fundamental dos apóstolos e da Igreja primitiva está fundamentada
na obra de Jesus e se torna expressão de fidelidade da própria Igreja. Como
nos lembrava o Papa Bento XVI, em Aparecida, ela faz parte de nossa identidade e de nossa fé em Jesus Cristo!
Se perdemos
o essencial em nossa vida eclesial e na missão que nos incumbe realizar como
Igreja, que é o Reino de Deus e a sua justiça, acabamos inventando uma série de acessórios, e a nossa vida e
ministério acabam girando em torno do que é secundário e supérfluo. Vamos nos "mundanizando" atrás de
aparências religiosas. E o povo acaba se infantilizando e se tornando cada
vez mais objeto da ação da Igreja, como era no passado; isso quando ainda ficam
na Igreja...
Aliás, fala-se de três desgraças atuais: "a teologia
do pano, a liturgia da fumaça e a pastoral dos prodígios". Há um
verdadeiro vislumbre de certos padres pelos paramentos litúrgicos mais repletos
possíveis de rendas, bordados e babados. Nas exposições de materiais
litúrgicos, durante os encontros de presbíteros, o que mais chama a atenção não são os livros, mas as vestes! A
liturgia se transformou em um ritualismo onde tudo está determinado por normas
e regras, desconhecidas dos comuns dos mortais. Os gestos litúrgicos ficam
engessados e robotizados, voltando aos costumes antigos dos braços abertos que
não devem ultrapassar os ombros e das mãos que precisam estar rigorosamente
unidas. E, consequentemente, a pastoral se reduz a atender as demandas das
necessidades subjetivas, impulsionando os devocionalismos, as missas de
curas e libertação, as novenas das mãos ensanguentadas...
Eu costumo
afirmar que alguns padres se parecem com o menino que já nasce velho no filme
"O curioso caso de Benjamin Button".
Nascem envelhecidos e com enormes cataratas que lhes impedem de ver a realidade
do mundo e, em particular, da vida dos pobres! E, sinceramente, eu me pergunto se um dia eles irão
rejuvenescer e abrir os olhos à realidade do mundo e, em particular, a dos
pobres?
Olhar de
frente esta realidade, com o coração do Bom Pastor das ovelhas e com a alma
missionária dos apóstolos, nos ajudará a reconhecer o que realmente importa e sem perder tempo com os penduricalhos e
acessórios acumulados pelo tempo.
Perguntemo-nos com sinceridade: o que realmente constrói
o reinado de Deus e estabelece a sua justiça entre nós?
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