...porque sou
manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vós... (Mt 11,29)
Em toda visão antropológica, o coração
ocupa o centro profundo de nosso ser, o nosso cerne mais íntimo que
não consiste no mero sentimento, mas trata-se do centro existencial que nos
permite nos orientar como um todo em direção ao bem, à verdade, à justiça...
Coração é uma dessas palavras sobre a qual a
multiplicidade se torna uno. Ele simboliza o centro da pessoa, onde
se unificam todas suas dimensões. Uma pessoa com coração não é dominada pelo
sentimentalismo, senão que alcançou uma unidade
e coerência, equilíbrio e maturidade que lhe permitem ser objetiva e cordial, lúcida e apaixonada,
intuitiva e racional, acolhedora e sempre realista.
Ter coração
equivale a ser uma personalidade integrada. O coração é o símbolo da
profundidade e da interioridade. Só quem chegou a uma harmonia consciente com o
profundo de seu ser consegue alcançar a unidade e a maturidade pessoais.
O coração do ser humano é
a própria fonte de sua personalidade consciente, inteligente e livre. É o lugar de suas escolhas decisivas, fonte
das bem-aventuranças, santuário da ação misteriosa de Deus e do encontro com
Ele.
Recordações,
pensamentos, projetos e decisões são alguns dos componentes essenciais do órgão
vital por excelência. O que acontece
nele tem caráter decisivo.
Por isso é
importante permanecer atento aos seus movimentos. É a única forma de nos
conhecer e de conhecer verdadeiramente uma pessoa. O coração pode palpitar ao
ritmo da soberba ou da humildade, do amor ou do ódio, do egoísmo ou da
generosidade. E está cheio de mesclas: de trigo e de joio.
Trata-se, pois, de chegar à unificação de nossa pessoa, integrando afetividade,
sensibilidade, razão, e desejos..., para além da bela expressão de Pascal: “O
coração tem razões que a razão não conhece”. O fato é que há “olhos no
coração” que permitem compreender o que nem os olhos do corpo, nem a razão são
capazes de perceber: “Rogo a Deus que ilumine os olhos dos vossos
corações, para que conheçais qual é a esperança à qual fostes chamados”
(Ef. 1,18).
A antropologia bíblica considera o coração como o interior do ser humano; não o coração entendido como o
órgão da afetividade (zona muito inconsistente e instável), mas uma dimensão
mais interna e transparente, que se converte em “sede” do espírito. No AT, o coração designa o complexo mundo interior
do ser humano.
Fechamento,
insensibilidade, indiferença, impassibilidade, surdez, falsidade,
murmurações... eram razões para exortar a uma mudança de atitude. “Eu lhes darei um só coração e infundirei neles um espírito novo: tirarei de seu
peito o coração de pedra e lhes
darei um coração de carne” (Ez
11,19). A conversão devia chegar a o
coração petrificado.
O que desumaniza é viver com o “coração
fechado” e endurecido, um “coração de pedra”, incapaz de amar e de
crer. Quem vive “fechado em si mesmo”, não pode deixar-se guiar pelo
Espírito de Jesus.
Quando nosso coração está “fechado”, os olhos não vêm, os ouvidos não ouvem,
os braços e pés se atrofiam e não se movimentam em direção ao outro.
Provavelmente, vivemos voltados sobre
nós mesmos, insensíveis à admiração e à ação de graças. Quando o coração
está “fechado” não há mais compaixão e passamos a viver indiferentes à
violência e injustiça que destroem a felicidade de tantas pessoas. Uma fronteira invisível nos separa do Espírito de Deus que tudo dinamiza e
inspira.
Quando vivemos a partir do coração, escutamos com
mais paciência, olhamos com cumplicidade, tocamos com ternura, sofremos com
fortaleza, assumimos o risco com naturalidade, misturamos nossa vida com a dos
outros realizando solidariedde.
Jesus dava importância ao coração:
“a boca fala daquilo que está cheio o coração” (Lc 6,45); “Bem-aventurados
os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt. 5,8). “Onde está teu
tesouro, ali está teu coração” (Mt. 6,21).
Em Jesus se
realizou definitivamente sua promessa. Ele nasceu com um coração de carne, ou
seja, humano, absolutamente divino. Estava chamado a ser o coração de todos, ou
o centro nevrálgico da humanidade.
Jesus é o homem para os outros que tem um coração de
carne.
Jesus, em seu Coração, é a profundidade mesma do ser humano e de Deus, pois
nele está a fonte do Espírito
.
Pela Encarnação,
o Filho de Deus trabalhou com mãos
humanas, pensou com inteligência humana, sentiu com vontade humana, e amou com
coração humano.
O coração de Jesus fala de iniciativa, de liberdade,
de entrega absoluta e amor profundo. Jesus revela uma vida em saída, e transforma a vida daqueles(as) que o seguem.
O
evangelho deste domingo mostra um exemplo de coração agradecido: Eu te louvo, Pai, porque escondeste estas
coisas aos sábios e entendidos...
O coração de Jesus é sustentado e alimentado pelo amor
cuidadoso e providente do Pai; e o nosso também.
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