Quando encontra uma pérola de grande
valor, ele vai, vende todos os seus bens e a compra... (Mt 13, 46)
As parábolas do evangelho de hoje nos
colocam diante de um fenômeno humano conhecido como serendipitia, serendipidade ou serendipismo: termos que expressam o
sentimento de alegria quando encontramos
alguma coisa surpreendentemente boa sem que, necessariamente, estejamos
procurando por ela; referem-se às descobertas afortunadas feitas por acaso;
trata-se de uma forma especial de criatividade, na qual saímos em busca de uma
coisa e acabamos encontrando outras muito mais importantes e valiosas.
A
ciência está repleta de casos famosos que podem ser classificados como
serendipismo,
mas estes só ocorreram porque as pessoas estavam “abertas” a estas descobertas,
preparadas e com o senso de observação apurado. A descoberta ocasional dos
manuscritos de Qumram, a fotografia, o raio x, a penicilina, a lei da
gravidade, a descoberta de Colombo... tem em comum que não foram diretamente
buscados, mas, por serem descobertas afortunadas e inesperadas, abriram novos
horizontes e tornaram a vida mais bonita e mais agradável. O serendipismo é a pitada que
falta no nosso espírito inovador e criativo, que é estar sempre aberto ao
inesperado.
O conceito de “serendipidade” é
aplicado em muitos setores da vida humana, inclusive no campo da
espiritualidade. Serendipidade se refere às descobertas ou encontros
afortunados feitos aparentemente por acaso, que muitas vezes possibilitam
transformações radicais e positivas em nossas vidas.
Na
vida espiritual, o estilo serendipitico ativa em nós o olhar atento, para
dentro e para fora,
fomenta o assombro e a admiração diante da nossa realidade cotidiana, nos
mantém em atitude de abertura para o gratuito e nos faz abertos à Graça e à sua
surpreendente novidade.
O
verdadeiro segredo está em abrir-nos às oportunidades que a vida nos oferece; é viver a arte
de uma apurada sensibilidade e atenção a tudo o que acontece ao nosso redor. Reconhecer, receber, viver e agradecer.
A vida é uma busca incessante por aquilo
que consideramos essencial e as descobertas surpreendentes só acontecem quando
nos deixamos mover por esse espírito de busca.
É
nas entranhas do cotidiano que brotam as grandes intuições, as
experiências místicas, a criatividade artística, os sonhos ousados...
A
atitude contemplativa
nos desperta da letargia do cotidiano
que guarda segredos e novidades que
sempre podem dar novo sentido à vida.
A vida espiritual está cheia de “momentos
serendipiticos”, ou seja, encontros
reveladores e inesperados com Aquele que
se revela sempre de maneira surpreendente. Quem segue as intuições do coração pode
entrar em sintonia com Aquele que “trabalha
em tudo e em todos”.
Deus
constantemente nos surpreende nas coisas simples da vida. Muitas vezes
perdemos a capacidade de ver a sua ação nas pequenas coisas, e ficamos esperando
grandes sinais. Viver cada momento
ordinário de forma extraordinária.
O
Evangelho também está cheio desses momentos
gozosos:
uma multidão faminta em busca por alimento e aparece um menino com apenas cinco
pães e dois peixes; uma mulher samaritana em busca de água e encontra o criador
da água viva; o baixinho Zaqueu que desejava apenas matar a curiosidade, é
surpreendido por Jesus que deseja ser hóspede em sua casa...
O
Papa Francisco
convida-nos constantemente a deixar-se
surpreender por Deus. “Quem
poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, torna-se-ia o lugar onde
todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende,
e sempre nos reserva o melhor”.
Ao transitar, de maneira atenta e
contemplativa pelos espaços interiores, seremos surpreendidos por descobertas que
farão toda a diferença em nossas vidas.
Dentro de nós temos forças construtivas que
podem mudar-nos eficazmente. Que eu me conheça e que eu te conheça, Senhor!
Sempre há algo diferente e inesperado
que pode enriquecer-nos... A vida está cheia de surpresas: pessoas instigantes,
desafios, encontros, aprendizagens, lições... que nos farão um pouco mais lúcidos e humanos.
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