Realizou-se no Parque Las Malocas, em
Villavicencio, 08/SET,
o encontro de oração pela Reconciliação Nacional. O evento acolheu cerca de 6 mil pessoas.
Presentes representantes de vítimas da
violência, militares, policiais e ex-guerrilheiros.
Desejei, desde o primeiro dia, que chegasse este momento do nosso
encontro. Vocês trazem em seu
coração e em sua carne as marcas da história viva e recente de seu povo,
sulcada por acontecimentos trágicos, mas
cheia também de gestos heroicos de grande humanidade e de alto valor espiritual
de fé e esperança.
Venho aqui com respeito e
bem ciente de me encontrar, como Moisés,
pisando uma terra sagrada. Uma terra regada com o sangue de milhares de
vítimas inocentes e a dor angustiante de seus familiares e conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que
nos fazem sofrer a todos, porque cada
ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da
humanidade; cada morte violenta «diminui-nos» como pessoas.
Reunimo-nos aos pés do
Crucificado de Bojayá que, em 2/MAI/2002, presenciou e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas
na sua igreja. Esta imagem possui um forte valor simbólico e espiritual.
Ao fixá-la, contemplamos
não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto sofrimento, tanta morte,
tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na Colômbia nas últimas
décadas. Ver Cristo assim, mutilado e
ferido, nos interpela. Não tem braços e o seu corpo já não está inteiro,
mas conserva o seu rosto e, com ele, nos olha e nos ama. Cristo partido e amputado, para nós, ainda é «mais Cristo», porque
nos mostra mais uma vez que Ele veio para sofrer pelo seu povo e com o seu
povo, e também para nos ensinar que o ódio não tem a última palavra, que o amor é mais forte que a morte e a
violência. Ensina-nos a transformar o sofrimento em fonte de vida e
ressurreição, para que, unidos a Ele e com Ele, aprendamos a força do perdão, a
grandeza do amor.
Segue, na íntegra, o discurso do Papa Francisco.
Queridos irmãos e irmãs!
Desejei, desde o primeiro dia, que chegasse este momento do
nosso encontro. Trazeis no vosso coração e na vossa carne as marcas da história
viva e recente do vosso povo, sulcada por acontecimentos trágicos, mas cheia
também de gestos heroicos de grande humanidade e de alto valor espiritual de fé
e esperança. Venho aqui com respeito e bem ciente de me encontrar, como Moisés,
pisando uma terra sagrada (cf. Ex 3, 5). Uma terra regada com o sangue de
milhares de vítimas inocentes e a dor angustiante dos seus familiares e
conhecidos. Feridas que custam a cicatrizar e que nos fazem sofrer a todos,
porque cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na
carne da humanidade; cada morte violenta «diminui-nos» como pessoas.
Estou aqui não tanto para falar, mas para estar perto de vós e
fixar-vos nos olhos, para vos escutar e abrir o meu coração ao vosso testemunho
de vida e fé. E, se mo permitis, desejaria também abraçar-vos e chorar convosco,
queria que rezássemos juntos e nos perdoássemos – também eu devo pedir perdão –
e que assim, todos juntos, pudéssemos olhar em frente e avançar com fé e
esperança.
Reunimo-nos aos pés do Crucificado de Bojayá, que, no dia 2 de
maio de 2002, presenciou e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas
na sua igreja. Esta imagem possui um forte valor simbólico e espiritual. Ao
fixá-la, contemplamos não só o que aconteceu naquele dia, mas também tanto
sofrimento, tanta morte, tantas vidas destroçadas e tanto sangue derramado na
Colômbia nos últimos decénios. Ver Cristo assim, mutilado e ferido,
interpela-nos. Não tem braços e o seu corpo já não está inteiro, mas conserva o
seu rosto e, com ele, olha-nos e ama-nos. Cristo partido e amputado, para nós, ainda
é «mais Cristo», porque mostra-nos uma vez mais que Ele veio para sofrer pelo
seu povo e com o seu povo, e também para nos ensinar que o ódio não tem a
última palavra, que o amor é mais forte do que a morte e a violência.
Ensina-nos a transformar o sofrimento em fonte de vida e ressurreição, para
que, unidos a Ele e com Ele, aprendamos a força do perdão, a grandeza do
amor.
Agradeço a estes nossos irmãos que quiseram, em nome de muitos
outros, compartilhar o seu testemunho. Como nos faz bem ouvir as histórias
deles! Deixam-me comovido. São histórias de sofrimento e amargura, mas também,
e sobretudo, histórias de amor e perdão, que nos falam de vida e esperança, de
não deixar que o ódio, a vingança e a dor se apoderem do nosso coração.
O oráculo final do Salmo 85 – «O amor e a fidelidade vão
encontrar-se. Vão beijar-se a justiça e a paz» (v. 11) – aparece depois da ação
de graças e da súplica onde se pede a Deus: Renovai-nos! Obrigado, Senhor, pelo
testemunho daqueles que infligiram dor e pedem perdão; daqueles que sofreram
injustamente e perdoam. Isto é possível com a vossa ajuda e a vossa presença.
Isto já é um sinal enorme de que quereis reconstruir a paz e a concórdia nesta
terra colombiana.
Pastora Mira, disseste-lo muito bem: Queres colocar todo o sofrimento, teu e o de milhares de vítimas, aos pés de Jesus Crucificado, para que se una ao d’Ele e, assim, se transforme em bênção e capacidade de perdão para romper o ciclo de violência que imperou na Colômbia. Tens razão: a violência gera mais violência, o ódio mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável, e isto é possível apenas com o perdão e a reconciliação. Tu, querida Pastora, e muitos outros como tu demonstraram que é possível. Sim, com a ajuda de Cristo vivo no meio da comunidade, é possível vencer o ódio, é possível vencer a morte, é possível começar de novo e dar vida a uma Colômbia nova. Obrigado, Pastora! Como é grande o bem que hoje nos fazes a todos com o testemunho da tua vida. Foi o Crucificado de Bojayá que te deu a força de perdoar e amar, e te ajudou a ver, na camisa que a tua filha Sandra Paula deu de prenda ao teu filho Jorge Aníbal, não só a recordação das suas mortes, mas também a esperança de que a paz triunfe definitivamente na Colômbia.
Pastora Mira, disseste-lo muito bem: Queres colocar todo o sofrimento, teu e o de milhares de vítimas, aos pés de Jesus Crucificado, para que se una ao d’Ele e, assim, se transforme em bênção e capacidade de perdão para romper o ciclo de violência que imperou na Colômbia. Tens razão: a violência gera mais violência, o ódio mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável, e isto é possível apenas com o perdão e a reconciliação. Tu, querida Pastora, e muitos outros como tu demonstraram que é possível. Sim, com a ajuda de Cristo vivo no meio da comunidade, é possível vencer o ódio, é possível vencer a morte, é possível começar de novo e dar vida a uma Colômbia nova. Obrigado, Pastora! Como é grande o bem que hoje nos fazes a todos com o testemunho da tua vida. Foi o Crucificado de Bojayá que te deu a força de perdoar e amar, e te ajudou a ver, na camisa que a tua filha Sandra Paula deu de prenda ao teu filho Jorge Aníbal, não só a recordação das suas mortes, mas também a esperança de que a paz triunfe definitivamente na Colômbia.
Comoveu-nos também o que disse Luz Dary no seu testemunho: as
feridas do coração são mais profundas e difíceis de sanar do que as do corpo. É
mesmo assim. E – o que é mais importante – deste-te conta de que não se pode
viver no rancor, de que o amor liberta e constrói. E deste modo começaste a
curar também as feridas doutras vítimas, a reconstruir a sua dignidade. O facto
de saíres de ti mesma enriqueceu-te, ajudou-te a olhar em frente, a encontrar
paz e serenidade e um motivo para continuar a caminhar. Agradeço-te a muleta
que me ofereces. Embora permaneçam ainda sequelas físicas das tuas feridas, o
teu caminhar espiritual é desimpedido e firme, porque pensas nos outros e
queres ajudá-los. Esta tua muleta é símbolo doutra muleta mais importante, de
que todos nós precisamos: o amor e o perdão. Com o teu amor e o teu perdão,
estás a ajudar muitas pessoas a caminhar na vida. Obrigado!
Desejo agradecer também o eloquente testemunho de Deisy e Juan
Carlos. Fizeram-nos compreender que no fim de contas, duma forma ou doutra,
todos somos vítimas, inocentes ou culpados, mas todos vítimas. Todos irmanados
naquela perda de humanidade que a violência e a morte comportam. Disse-o
claramente Deisy: compreendeste que tu própria foste uma vítima e precisavas
que te fosse concedida uma oportunidade. Começaste a estudar, e agora trabalhas
para ajudar as vítimas e para que os jovens não caiam nas malhas da violência e
da droga. Há esperança também para quem fez o mal; nem tudo está perdido. É
verdade que, na regeneração moral e espiritual dos verdugos, tem que se cumprir
a justiça. Como disse Deisy, deve-se contribuir positivamente para sanar a
sociedade que foi lacerada pela violência.
É difícil aceitar a mudança daqueles que fizeram apelo à
violência cruel para promover os seus fins, proteger tráficos ilícitos e
enriquecer-se ou por acreditar, ilusoriamente, que estavam a defender a vida
dos seus irmãos. É certamente um desafio para cada um de nós confiar que possam
dar um passo em frente aqueles que infligiram sofrimento a comunidades inteiras
e a todo o país. É claro que, neste campo enorme que é a Colômbia, ainda há
espaço para o joio... Estai atentos aos frutos! Cuidai do trigo e não percais a
paz por causa do joio. O semeador, quando vê desabrochar o joio no meio do trigo,
não tem reações alarmistas. Encontra o modo para fazer com que a Palavra se
encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, embora aparentemente
sejam imperfeitos ou defeituosos (cf. FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii gaudium,
24). Mesmo se perdurarem conflitos, violência ou sentimentos de vingança, não
impeçamos que a justiça e a misericórdia se unam num abraço que assuma a
história de sofrimento da Colômbia. Curemos aquele sofrimento e acolhamos todo
o ser humano que cometeu delitos, reconhece-os, arrepende-se e compromete-se a
reparar, contribuindo para a construção duma ordem nova onde brilhem a justiça
e a paz.
Como Juan Carlos deixou vislumbrar no seu testemunho, em todo
este processo – longo, difícil mas rico de esperança de reconciliação – é indispensável
também assumir a verdade. É um desafio grande, mas necessário. A verdade é uma
companheira inseparável da justiça e da misericórdia. Se, por um lado, são
essenciais, juntas, para construir a paz, por outro, cada uma delas impede que
as restantes sejam adulteradas e se transformem em instrumentos de vingança
contra quem é mais frágil. De facto, a verdade não deve levar à vingança, mas
antes à reconciliação e ao perdão. A verdade é contar às famílias dilaceradas
pela dor o que aconteceu aos seus parentes desaparecidos. A verdade é confessar
o que aconteceu aos menores recrutados pelos agentes de violência. A verdade é
reconhecer o sofrimento das mulheres vítimas de violência e de abusos.
Por fim queria, como irmão e como pai, dizer: Colômbia, abre o
teu coração de povo de Deus e deixa-te reconciliar. Não tenhas medo da verdade
nem da justiça. Queridos colombianos, não tenhais medo de pedir e oferecer o
perdão. Não oponhais resistência à reconciliação que vos faz aproximar uns dos
outros, reencontrar-vos como irmãos e superar as inimizades. É hora de sanar
feridas, lançar pontes, limar diferenças. É hora de apagar os ódios, renunciar
às vinganças e abrir-se à convivência baseada na justiça, na verdade e na
criação duma autêntica cultura do encontro fraterno. Oxalá possamos habitar em
harmonia e fraternidade, como o Senhor quer. Peçamos para ser construtores de
paz; que, onde houver ódio e ressentimento, possamos colocar amor e
misericórdia (cf. Oração atribuída a São Francisco de Assis)!
Quero depor todas estas
intenções diante da imagem do Crucificado, o Cristo negro de Bojayá:
Ó Cristo negro
de Bojayá,
que nos lembrais a vossa paixão e morte;
juntamente com os vossos braços e pés
arrancaram-Vos os vossos filhos
que em Vós procuravam refúgio.
que nos lembrais a vossa paixão e morte;
juntamente com os vossos braços e pés
arrancaram-Vos os vossos filhos
que em Vós procuravam refúgio.
Ó Cristo
negro de Bojayá,
que nos olhais com ternura
e com rosto sereno;
que o vosso coração palpite também
para nos acolher no vosso amor.
que nos olhais com ternura
e com rosto sereno;
que o vosso coração palpite também
para nos acolher no vosso amor.
Ó Cristo
negro de Bojayá,
fazei que nos comprometamos
a restaurar o vosso corpo. Que sejamos
os vossos pés para ir ao encontro
do irmão necessitado;
os vossos braços para abraçar
quem perdeu a sua dignidade;
as vossas mãos para abençoar e consolar
quem chora na solidão.
fazei que nos comprometamos
a restaurar o vosso corpo. Que sejamos
os vossos pés para ir ao encontro
do irmão necessitado;
os vossos braços para abraçar
quem perdeu a sua dignidade;
as vossas mãos para abençoar e consolar
quem chora na solidão.
Fazei que
sejamos testemunhas
do vosso amor e da vossa misericórdia infinita.
do vosso amor e da vossa misericórdia infinita.
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