O mundo da mística...

As palavras me escondem sem cuidado... (M. de Barros)

Há pessoas que ficam a vida toda no nível da corporeidade, e das sensações mais primárias: Provavelmente são primitivas e narcisistas. Outras evoluem, crescem e percebem que além do corpo também há a mente, com suas imagens e pensamentos que abrem horizontes para além de si mesmos. Os relacionamentos humanos, para eles, são fundamentais. Estas aprenderam a ser mais fraternos e solidários. Mas, há outro grupo que, sem perder o contato com o mundo real das coisas e das pessoas, colocam o seu coração na transcendência da realidade ordinária, e mergulham no mistério da interioridade e da profundidade. São pessoas sensitivas, pacíficas e até místicas que experimentam a comunhão universal com tudo e todos, como o amor de dois amantes. São trans-pessoais, holísticos e contemplativos.

Todos percebemos os objetos no nível sensorial e as imagens do mundo mental, mas nem todos experimentam ou percebem esta realidade do mundo psíquico e espiritual que está além dos sentidos corporais. Olhamos as coisas e as pessoas por fora, mas quase nunca as percebemos por dentro. Cada um olha o mundo a partir do  o estágio em que se situa e vive. Conheço estes três olhares: O olhar animal, o racional e o contemplativo ou místico. O olhar espiritual é muito maior, mais profundo e abrangente do que os anteriores.

Por pura graça, alguns entram em comunhão singela com o transcendente. Mergulham nele, como num oceano, e ficam inundados pelo mistério. Estas experiências "iluminadas" são produzidas por fatos reais e concretos. O divino acontece no limitado, transfigurando-o. Lembremos o fenômeno místico da Transverberação em Santa Teresa de Jesus (1515-1582) experimentado, provavelmente, a partir de um problema cardíaco. O místico olha tudo também por dentro! O que sentimos como uma desgraça pode se transformar numa grande graça.

Nas experiências místicas não há dualidade (sujeito vs objeto, ou sujeito vs sujeito), mas comunhão e sincronicidade, sem tempo nem espaço. Deixe imediatamente agir o Criador com a criatura e a criatura com seu Criador e Senhor, dizia Inácio de Loyola nos Exercícios Espirituais (EE 15). Esta comum união acontece quando amamos e somos amados. O amor derruba todo tipo de fronteiras e se faz divinamente "louco". Maior profundidade (ou altura!), maior consciência e percepção da realidade (física e espiritual!), maior comunhão. É "ver", "ouvir" e sentir a divindade em tudo e todos dando-lhes sentido e significado...

As experiências apofáticas (na vacuidade do nada!) ou katafáticas (na mediação de tudo) não seriam possíveis sem a onipresença da divindade que tudo habita. É como aquelas dinâmicas de descobrir tantos rostos num desenho. Todos os rostos estão presentes, mas nem sempre percebemos todos eles.

A iluminação e a pacificação experimentadas são plenas, mas não totais, pois Deus é sempre maior do que a nossa pobre e limitada experiência.  

O mundo da mística é muito maior do que sentimos e vemos. 

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5 comentários:

  1. Você me surpreende. De maneira positiva. Só alguém com maturidade espiritual/humana e sábio colocaria essa foto para ilustrar o blog. Ah, claro! Gostei demais do texto. Faz -me pensar em Teresa Dávila.

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  2. Qué hermoso y sabio padre Ramón sobre la místico, la madurez y la profundidad del alma... Dios es amor, lo mas grande, y la paz del alma... (A.P)

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  3. Tão belo artigo!...
    O divino acontece no limitado, transfigurando-o".
    "O amor derruba todo tipo de fronteiras e se faz divinamente "louco"".
    Que assim seja!

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  4. Uma dos seus escritos mais belos e tocantes que já li. Que bonito... Sigamos!
    M.V

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